O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, mantém o esforço para tentar resgatar a credibilidade da autoridade monetária brasileira. Para uma plateia de cerca de 70 investidores, ontem, em Cingapura, ele repetiu o teor do discurso feito 20 dias antes, em Londres, e defendeu o Brasil como um país que caminha para consolidar uma trajetória positiva na economia.
Tombini não falou dos gastos do governo, do rombo nas contas externas nem da expectativa de crescimento zero no terceiro trimestre. Preferiu enaltecer a recente queda do dólar, atribuída por ele às intervenções diárias do BC no mercado. Desde agosto, está em curso um programa de venda diária de contratos de swap cambial – venda de dólares no mercado futuro – ou de leilões no mercado à vista, com compromisso de recompra.
Tombini considerou bem-sucedida a estratégia para conter o avanço da moeda norte-americana e disse que a iniciativa do BC contribuiu para "conferir previsibilidade na oferta de proteção cambial aos agentes econômicos durante esse período de transição da economia internacional". O pacote total deve envolver mais de US$ 55 bilhões neste ano.
Há dois meses, o dólar bateu a casa dos R$ 2,45. Ontem, fechou em R$ 2,19. A queda da cotação nas últimas semanas, observam os analistas, relaciona-se mais com a sinalização de que o Federal Reserve (o banco central norte-americano) pode demorar mais para retirar estímulos monetários nos Estados Unidos do que com o programa do BC brasileiro. Até porque os investidores continuam bastante descrentes na política econômica.
O BC acabou agindo após ser fortemente pressionado pelo mercado. "Com o dólar disparando, o Banco Central foi colocado contra a parede. A reação, de fato, trouxe uma certa calmaria, sossegando os investidores e diminuindo a especulação", comentou o gerente de Câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.
Tombini apresentou dados que indicam o real como a moeda com maior valorização ante o dólar nesses dois meses: 12%. O crescimento da economia, acrescentou, "tem se materializado de forma gradual". Aproveitando a euforia do governo com o leilão do Campo de Libra, o presidente do BC disse que iniciativas recentes – incluindo outras concessões – criam condições para a expansão dos investimentos no Brasil.
SELIC O discurso de ontem, avaliou Flávio Serrano, economista-chefe do BES Investimento, serviu como mais uma oportunidade para Tombini tentar amenizar a aversão dos investidores ao Brasil. "Foi algo puramente institucional", afirmou ele, lembrando que o cenário apresentando pelo presidente do BC está longe de ser confortante. "Continuamos com um aumento de preços persistente e com alta dispersão", completou.
Ao reafirmar que definição da taxa de juros deve se manter "especialmente vigilante", repetindo texto da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), Tombini deu mais um sinal de que a Selic, hoje em 9,5% ao ano, deve chegar ao fim deste ano a 10%. "O problema é que falta coesão no governo, que continua gastando demais", argumentou o economista.