O ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou como "belíssima emissão" a operação feita pelo governo brasileiro, de captar no mercado internacional US$ 3,2 bilhões em títulos com vencimento em 2025. "A demanda por essa emissão era de US$ 10 bilhões, ou seja, os estrangeiros queriam investir em títulos brasileiros ou fazer a troca de títulos antigos por títulos novos da ordem de US$ 10 bilhões", disse ele nesta quinta-feira, na saída de uma sessão no Senado para discutir o pacto federativo.
Segundo ele, a operação demonstra o "grande interesse" e a "grande confiança" que existe na economia do Brasil pelo fato de que, assim que o título é oferecido, ocorre um "grande afluxo de investidores estrangeiros" para tentar comprá-lo. "Então foi uma operação bem sucedida", destacou.
Embora o valor captado na quarta-feira, tenha sido maior dos que os US$ 2 bilhões esperados, o Tesouro Nacional pagou mais para vender seus papéis. A taxa de retorno ao investidor, de 4,305%, foi a maior desde julho de 2010. O spread do papel também ficou mais salgado, em 180 pontos-base acima dos títulos americanos, o maior valor desde maio de 2009.
O ministro também comentou as avaliações do Fundo Monetário Nacional (FMI) sobre a economia brasileira. "Eu não vi a avaliação do FMI. Vi apenas algumas manchetes, e me pareceu que é uma avaliação equivocada", afirmou.
Mantega disse que prefere ficar com a avaliação do economista chefe do FMI, Olivier Blanchard, que se manifestou recentemente em relação ao Brasil e "falou uma série de coisas positivas", por exemplo, que o Brasil é um dos países que têm mais resiliência entre os emergentes em relação à crise internacional. "Temos mais condições e superaremos melhor estes problemas que nós temos enfrentado: flutuação de câmbio, fuga de divisas que houve em outros países não teve aqui no Brasil", disse.
O ministro disse que o FMI superestima a dívida bruta brasileira e que o porcentual de 68% do Produto Interno Bruto (PIB) calculado pela instituição para esse indicador "não tem nenhum sentido". "Eu já falei com a Christine Lagarde, diretora gerente (do FMI). Neste momento, mandamos missão lá para o Fundo para detalhar a explicação de por que a nossa dívida é 58%, 59% do PIB e não 68%", disse. "Eles fazem dupla contagem, e temos que insistir nisso."
Mantega afirmou discordar da metodologia que é aplicada pelo Fundo, no caso brasileiro. "Pode ser válida para outros países que não têm reserva, que têm um banco central que emite dívida. No nosso caso, o BC não emite dívida. Então há uma diferença técnica que não é muito difícil de entender." O ministro disse esperar que o FMI "ouça as razões que estão sendo levadas pelos técnicos brasileiros".
BNDES
Durante a audiência, Mantega falou também que governo federal vai retirar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) da função de garantir dinheiro para Estados e municípios dentro dos Programas de Ajuste Fiscal (PAFs) e concentrar os recursos do banco estatal de desenvolvimento em projetos de infraestrutura. "Estamos tirando o BNDES desses projetos, porque ele vai ficar mais circunscrito a infraestrutura, projetos que não conseguem financiamento", afirmou o ministro em audiência no Senado.
Mantega afirmou que os governos regionais podem recorrer a órgãos multilaterais, bancos privados e outros estatais. "Tem banco privado também disposto a financiar Estados. E tempos outros bancos do governo federal que podem fazer isso."