As sucessivas quedas no preço do café, a principal commodity do estado, prejudicaram o crescimento do valor da produção agrícola de Minas entre 2011 e 2012: o indicador obteve uma suave alta de 2,4%, de R$ 24,7 bilhões para R$ 25,39 bilhões. Nesse confronto, apenas a título de ilustração, o valor médio da saca de 60 quilos do grão despencou de R$ 530 para R$ 360. Resultado: o percentual do valor da produção agrícola do estado avançou num ritmo menor que o do nacional (aumento de 4,3%), levando Minas a perder a segunda posição no ranking nacional para o Mato Grosso (R$ 26 bilhões). A primeira colocação ficou com São Paulo (R$ 36,4 bilhões). No país, o valor foi de R$ 204 bilhões.
Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda nos preços do café não interfere apenas no indicador: afeta o dia a dia das centenas de municípios mineiros que cultivam o grão. “O preço baixo impacta na economia dessas cidades, afetando a arrecadação de impostos”, explica Victor Soares Lopes, assessor técnico da Superintendência de Economia e Política Agrícola da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do estado. A situação atual dos produtores está pior do que o cenário divulgado no estudo do IBGE.
“O preço médio agora está em R$ 260. O custo da mesma saca, porém, é de R$ 340 a R$ 400, dependendo da região”, reforçou Breno Mesquita, presidente da Comissão Nacional do Café da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). Ele lamenta que os três leilões de opções de compra de sacas feitos pelo governo federal, em setembro, tenham ocorrido tardiamente. Os leilões, na prática, seriam um socorro financeiro aos produtores. “Eles deveriam ter ocorrido em maio, no início da colheita, mas foram feitos em setembro, quando 80% da safra já havia sido colhida”, completou.
A CNA encaminhou à União um pedido para que o governo suspenda por 90 dias a cobrança de empréstimos contraídos pelos cafeicultores. O pedido está sendo analisado pelo Palácio do Planalto. Apesar da queda no preço do café, o grão ajudou o estado a liderar o ranking do valor da produção agrícola das chamadas lavouras permanentes – o IBGE divide a produção agrícola em permanentes (café, laranja e outras) e em temporárias (soja, cana de açúcar, milho, soja e outras). Nesse caso, o valor da produção agrícola do estado com as culturas permanentes foi de R$ 11,5 bilhões.
O resultado das temporárias, portanto, foi de R$ 13,9 bilhões, atrás de São Paulo, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás. Nesse tipo de lavoura, destaque para o aumento da safra de feijão: o estado colheu 633,8 milhões de toneladas, o que correspondeu a um aumento de 8,7%. A alta se deve, sobretudo, à expansão de 17% na área plantada da terceira safra. O preço médio do alimento, de 2011 para 2012, subiu 49,8%. Unaí, no Alto Paranaíba, é o maior produtor do alimento, com 112,2 mil toneladas.
No balanço de 2013, porém, a situação deve mudar. Isso porque o governo foi obrigado a proibir a plantação de feijão de 15 de setembro a 25 de outubro no Noroeste do estado, região que responde por 70% da produção no terceiro ciclo. A medida, conhecida como vazio sanitário, foi necessária para exterminar um vírus transmitido pela mosca-branca – a praga não causa problema ao ser humano, mas prejudica bastante a lavoura. Como o ciclo do inseto é de 20 dias, a interrupção do plantio por 40 dias, na teoria, garante o extermínio da praga. É a primeira vez que a medida é adotada para o feijão em Minas.
Grãos de destaque
Já a produção de milho parece ir de vento em polpa. Em 2012, o estado foi o maior produtor na primeira safra, com 7.091.516 toneladas, o que representou uma alta de 14,2% em relação a 2011. Em relação à soja, a participação do estado no total nacional subiu de 16,3% em 2011 para 18,1% em 2012. “A produção de soja de 2012 para 2013 deve crescer 10%”, acredita Aline Freitas, coordenadora da Assessoria Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg).
A produção mineira de cana-de-açúcar também foi destaque no confronto dos últimos 10 anos. “Houve crescimento expressivo, de 218% (passou de 278 mil hectares para 883 mil hectares) da área destinada à cana-de-açúcar entre 2002 e 2012. Com isso, esse produto passou de 10,8% para 28,4% do valor da produção no estado no período”, informou o relatório do IBGE.
“Várias usinas se deslocaram para o Triângulo Mineiro nos últimos anos. A cana foi avançando da região de Ribeirão Preto (SP) para lá”, recorda Victor Lopes. A migração de empresas para a região favoreceu, por exemplo, Uberaba. A cidade, no ranking de maiores municípios plantadores de cana, pulou da 80ª posição para a terceira colocação.
Milho na liderança
A produção nacional de soja, que liderava a primeira posição no ranking nacional de volume de colheitas, perdeu o posto para o milho em 2012: 71,1 milhões de toneladas (aumento de 27,75%) contra 65,9 milhões de toneladas (queda de 12%). A justificativa foi a estiagem que castigou as principais regiões produtoras de soja, principalmente nos estados do Sul.
Por outro lado, é importante frisar que a soja continua sendo a cultura com o maior valor de produção. Tanto que corresponde a 24,7% do valor de produção. Depois, aparecem a cana-de-açúcar (19,85%) e o milho (13,2%). Além de afetar a colheita da soja, problemas climáticos causaram perdas em 41 das 64 culturas pesquisadas pelo IBGE.
Entre elas estão as plantações de mandioca (-9,1%), algodão (-2%) e cana (-1,8%). Mas o que mais prejudica o bolso do consumidor foram as quedas na colheita de dois tradicionais alimentos do brasileiro: o feijão (-18,6%) e o arroz (-14,3%). Em relação ao feijão, o IBGE explicou que “a produção nacional (2.794.854 toneladas) caiu 18,6%, devido à estiagem no Nordeste”.
No caso do arroz, ainda segundo o IBGE, houve uma queda de 14% na safra do Rio Grande do Sul, o maior produtor no país: “As condições climáticas desfavoráveis, ocasionando o baixo nível das barragens no momento da semeadura, juntamente com a insatisfação dos produtores com o preço da mercadoria na safra anterior foram os fatores responsáveis”.
Pela primeira vez, o IBGE elaborou o ranking municipal para o valor da produção agrícola. Seis cidades do estado estão no grupo das 50 maiores: Uberaba (17º lugar, com R$ 819,5 milhões), Unaí (18º, como R$ 806,5 milhões), Paracatu (26º, com R$ 622,5 milhões), Perdizes (29º, com R$ 580,3 milhões), Patrocínio (34º, com R$ 519 milhões) e Frutal (49º, com R$ 432 milhões).
São Desidério, no interior da Bahia, lidera o ranking (R$ 2,3 bilhões). “São Desidério ultrapassou Sorriso (MT), contabilizando acréscimo de 35,2%. Entre os diversos cultivos, destaca-se o algodão herbáceo, onde foi cultivada 12,4% da produção nacional e 48,9% da baiana”, estacou o relatório do IBGE. (PHL)