Um passar de dedo na lataria de um dos carros parados no estacionamento é suficiente para constatar a sujeira impregnada nos veículos por causa da obra no Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, e em seus arredores. Deixar o carro ali para uma viagem de poucos dias pode ser bem mais vantajoso que ir de táxi para o terminal, mas no período de obras é preciso incluir no cálculo do custo/benefício a lavagem do automóvel. A poeira gerada é suficiente para deixar os carros imundos depois de poucas horas. Imagine alguns dias…
Tanto o piso do terminal de passageiros quanto o do estacionamento e de outros espaços do aeroporto ficam contaminados pelo acúmulo de poeira. Sofre quem vende comida (e quem compra, claro), quem usa o estacionamento e os faxineiros, obrigados a aumentar o serviço para tentar manter tudo limpo, num “enxuga-gelo interminável”, como dizem os auxiliares de serviços gerais. O problema da sujeira está entre os mais reclamados à Ouvidoria da Infraero, segundo o gerente de Operações da Royal Park, Gilberto Pereira Lopes, responsável por responder a parte das reclamações referentes ao estacionamento. “Poderia ser criada uma parceria no sentido de quando houver uma reclamação formal fosse dada uma ducha”, afirma. Ele conta que até sugeriu à Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), mas o pedido não foi acatado.
O problema da poeira não se restringe aos usuários do estacionamento. Situados no meio do furacão, como eles gostam de brincar, os taxistas se dizem os principais afetados, sendo obrigados a lavar os carros diariamente (às vezes até mais de uma vez) devido à sujeira acumulada. Antes de ir para a plataforma buscar os clientes, os motoristas são obrigados a aguardar em uma fila nas proximidades do estacionamento por até duas horas – depende do horário e do movimento do aeroporto. Lá, a poeira gerada pela obra do pátio de aeronaves se mistura àquela produzida nas intervenções dos dois terminais e nos trabalhos na rodovia e atormenta os condutores.
NUVEM DE SUJEIRA “Tem dia que uma nuvem de poeira é formada”, afirma o taxista Sebastião Araponga, que acusa os operários de às vezes jogar água no asfalto propositalmente para a poeira se transformar em barro, aumentando a dificuldade de remoção. Guardar um paninho no porta-luvas para pequenas faxinas é quase obrigatório. Mas a solução é na volta da corrida ir direto para o ponto de apoio alugado nas proximidades do terminal para lavar o carro e voltar para a fila em busca de mais um passageiro. Perde-se tempo, mas, segundo Araponga, pelo menos o passageiro não reclama da imundície. “O carro tem que estar limpo para vender bem o seu serviço”, diz o taxista, que às vezes, na pressa, paga R$ 10 para os lavadores da região enquanto come algo. Com isso, lá se vai mais um custo. De tanto pó, teve até taxista usando máscara para filtrar a respiração.
Nas próximas semanas a situação pode se agravar. Ajustes serão feitos nos contratos da Infraero com empresas que prestam serviço. O mais afetado deve ser o de limpeza. A estatal vai cortar 24,1% do valor previsto para o contrato de limpeza. Antes seriam pagos R$ 438 mil, mas com a revisão serão pagos somente R$ 332 mil. A empresa contratada será orientada a priorizar o serviço nas salas de embarque e desembarque e nos banheiros, mas deverá manter todo o aeroporto limpo.
Resgate dos animais
Uma equipe multidisciplinar de biólogos, engenheiros florestais e veterinários é responsável pela preservação da fauna e da flora das áreas suprimidas pelas obras de duplicação da rodovia de acesso ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves. Especializados em botânica, ornitologia, herpetologia, ornitofauna, mastofauna e mastozoologia, os profissionais são capacitados para o manejo de animais silvestres, tendo resgatado tapetis (coelho nativo), gambás, ouriços-cacheiro, micos-estrela, cuícas, veados, além de de aves, anfíbios e répteis. Inclusive, os animais terão um túnel subterrâneo para atravessar a rodovia na tentativa de evitar atropelamentos.
Os trabalhos foram feitos principalmente na fase preliminar da obra, antes do início da operação das máquinas. Os animais resgatados são identificados e avaliados pelo veterinário para ver a necessidade de tratamento. Caso estejam em boas condições de saúde são soltos em áreas de mata adjacentes ao aeroporto. Por se tratar de um espaço que antes era uma mata fechada, muitas cobras foram encontradas por lá. Enquanto isso, as plantas são levadas para a Fundação Zoobotânica e unidades de conservação. Entre as espécies coletadas estão palmeiras, bromélias e orquídeas. Os animais mortos são repassados aos museus da PUC e da UFMG para serem incluídos nas coleções científicas das instituições.
Como o aeroporto fica nas proximidades da área de proteção ambiental da Lapa Vermelha, as ações de preservação fazem parte das condicionantes ambientais impostas para emissão das licenças de operação, tendo como objetivo reduzir os prejuízos causados ao meio ambiente. Para isso, os profissionais tomam cuidados especiais. Por exemplo, plantas de maior porte são retiradas com uso de retroescadeiras na tentativa de manter o torrão para preservar as raízes. No caso dos animais, um túnel com dois metros de altura e dois metros largura será instalado nas proximidades do terminal de cargas. “A ideia é permitir que os bichos passem de um lado para o outro por baixo do asfalto”, afirma o responsável pela fiscalização das obras de duplicação da rodovia, Cláudio Lima. (PRF)