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Estado de Minas

Precaução faz da morte um mercado lucrativo. Saiba os preços de funerais

Altos custos levam consumidores das classes C, D e E a buscar planos que oferecem cobertura para funeral. Negócio cresce 60% em uma década e gira R$ 3,5 bi ao ano


postado em 02/11/2013 06:00 / atualizado em 02/11/2013 07:38

Gerente da Pax de Minas, Fernando Moreira diz que empresa dá assistência independentemente do local do óbito(foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
Gerente da Pax de Minas, Fernando Moreira diz que empresa dá assistência independentemente do local do óbito (foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)

 

O medo não é da morte, mas de que na hora da última despedida a família não tenha recursos para bancar o funeral, se desespere com a complexa documentação do enterro e com os altos custos que um indivíduo deve pagar antes de ir definitivamente embora. Para garantir uma saída de cena sem atropelos e afugentar pensamentos tão assustadores, o brasileiro prefere ser precavido quanto à morte, principalmente as famílias com rendimentos até cinco salários mínimos, principais clientes desse mercado. Enquanto os ricos se preocupam em garantir investimentos como o seguro de vida, as classes C,D e E aplicam massivamente em planos funerários, sustentando um mercado que no Brasil movimenta R$ 3,5 bilhões ao ano, segundo dados da Associação Brasileira do Setor de Informações Funerárias (Abrasif).


Em Minas Gerais o negócio da morte é próspero, gira pelo menos R$ 300 milhões a cada 12 meses. Há dez anos cerca de 570 empresas operavam de norte a sul do estado, hoje são mais de 1.460, um crescimento de 60% na última década, superior ao avanço do país, que também cresceu muito, 45%, reunindo em 2013 mais de 11,7 mil empreendimentos, como funerárias, cemitérios, plano funerário e ainda prestadores de serviços.

Os planos funerários são a alavanca que puxa o setor. Comercializados com mensalidades que custam em média R$ 30, mais uma taxa de adesão que pode chegar a R$ 120, e carência na maioria dos casos de 90 dias, os planos vendidos por empresas ligadas ao setor, arrebatam uma legião cada vez maior de seguidores, em um mercado ainda sem regulamentação. Ao mesmo tempo, o auxílio-funeral também engorda a carteira das seguradoras, que são regulamentadas. Enquanto os seguros oferecem valores para custear as despesas finais, os planos fazem por conta própria o serviço, que inclui transporte, preparação do corpo, urnas, ornamentação e velório, sem o valor do túmulo.

Com uma vela acesa, o aposentado João Maria da Silva pede proteção a Nossa Senhora. Já no plano material ele prefere não correr riscos. Assegurou o próprio funeral, da esposa, Geogina, e do filho, Juscelino. O passaporte para a tranquilidade é o carnê que estampa na capa a foto de uma família feliz, pelo qual paga mensalidade de R$ 31,59. “Não acho o valor caro, principalmente se considerar o preço de um funeral hoje”, calcula ele. João Maria ressalta que no momento da morte tudo fica difícil. “Ficamos perdidos. É bom ter alguém que resolva tudo.” Ele reforça que seu plano, presta atendimento mesmo que a morte ocorra em outra cidade e que decidiu pelo contrato depois de perder sua mãe, de 101 anos. “Não tivemos gasto com o funeral, porque ela tinha um plano.”

Custo alto Segundo levantamento do site Mercado Mineiro o preço de um funeral completo em Belo Horizonte varia de R$ 4,6 mil a R$ 36,4 mil, valores que podem ultrapassar com folga a renda das famílias das classes C, D e E. “O auxílio-funeral é um produto de grande apelo social. Quando há uma morte repentina o impacto é muito grande em uma família de pequeno recurso”, aponta Roberto Barbosa, vice-presidente da Federação Nacional dos Corretores de Seguros. Segundo dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), enquanto em agosto o seguro de vida cresceu 8,9% frente ao mesmo mês do ano passado, o funeral avançou 56%. Entre os seguros de pessoas a modalidade, em agosto, movimentou R$ 22,6 milhões, sendo ultrapassada apenas pelos aportes do tradicional seguro de vida.
 A funerária Pax de Minas, uma das líderes do segmento na capital, diz que pretende crescer 8% este ano. A empresa realiza cerca de 300 funerais por mês. Segundo o gerente Fernando Moreira “quanto mais simples o cliente, mais fiel.” Ele explica que a atuação da funerária não tem limite territorial, vai de norte a sul do país. “Nossa sede é em Belo Horizonte, mas atuamos com empresas parcerias no interior e em outros estados. Não existe a possibilidade de um cliente ficar desasistido, independentemente do local onde sua morte ocorra”, garante.

 Ricardo Rodrigues, sócio-diretor do plano funerário Prevenir Pax de Minas, reclama da concorrência do mercado, que, segundo ele, cresce a cada dia, mas nem sempre oferece garantias aos clientes, provocando, em sua opinião, concorrência desleal. Há 15 anos no mercado, a carteira da empresa tem peso. São 30 mil clientes, se considerar uma média de quatro dependentes por cliente, e a capilaridade chega a 150 mil vidas. Comercializando planos familiares e individuais, de simples a sofisticados, a empresa tem produtos a partir de R$ 23,80.

(foto: ARTE EM)
(foto: ARTE EM)

 

O preço da tranquilidade

 

A mãe do professor Arnor Rafael da Silva entregou a cada um de seus três filhos a carteirinha de um convênio funerário. O documento indicava que em caso de morte por acidente ou no percurso natural da vida as despesas com os arranjos finais estariam resguardadas para ela e seus dependentes. Há três anos, Arnor acionou o serviço para os funerais da mãe. “Foi um momento de muito desespero. Na época não teríamos condições de arcar com custos tão altos. Negociei algumas mensalidades atrasadas e usei o serviço.”

Para se precaver, o professor, que completou 38 anos, preferiu assumir o carnê da mãe, e continua a pagar R$ 30 por mês. Perguntado pela reportagem se ainda não é muito jovem para uma conta que poderá crescer muito ao longo de sua vida, ele responde de pronto: “A morte não tem idade.” No seu plano estão  cobertos também três sobrinhos e dois irmãos. “Se por acaso atraso uma prestação o plano manda buscar o pagamento na minha porta, sem cobrar qualquer custo de deslocamento”, frisou.

Para o professor de finanças do Ibmec, Alexandre Galvão, o plano funerário é mais que investimento financeiro, um pagamento pela tranquilidade. A expectativa de vida dos mineiros (homens e mulheres) chega a 75 anos. Caso Arnor Silva contribua por mais 37 anos com seu plano funeral, estará garantindo ao fim desse período, o equivalente a um enterro de R$ 4,8 mil, considerando uma taxa de aplicação da poupança. Na capital, o preço médio de um serviço funerário, sem contar os custos com o túmulo (valor negociado à parte com o cemitério), é de R$ 3,5 mil.

Segundo cálculos de Alexandre Galvão, um investimento na poupança de R$ 30 ao mês acumularia ao final de 16 anos o equivalente a R$ 10,4 mil, o que seria suficiente para cobrir um funeral que hoje custa R$ 3 mil. “Se considerarmos que a inflação do funeral vai evoluir, acompanhando o rendimento da poupança”, explica. (MC)


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