Negociar produtos ou serviços de porta em porta não é mais exclusividade de sacoleiras e – dos cada vez mais raros – representantes das editoras de enciclopédias. A chamada venda personalizada foi adotada por empresas com destaque no comércio da Grande Belo Horizonte, fomentando o faturamento dos donos em mais de dois dígitos. “Vivemos a era da conveniência. Muitos empreendedores descobriram esse filão. Eu, por exemplo, telefonei para uma padaria próxima à minha casa e, por comodidade, pedi que me entregassem um pacote com pães, que custa de R$ 3 a R$ 4. Porém, o funcionário me convenceu a comprar outros produtos. Resultado: desembolsei R$ 75”, ilustrou Fernando Marchesini, coordenador do MBA em Gestão de Comércio e Vendas da FGV/IBS.
Algumas dicas são importantes para o empresário que deseja adotar a estratégia. Quem ensina uma delas é Cecília Resende Abrão, diretora da Chance – Le Club Officiel, uma multimarca de vestuário e acessórios especializada em clientes de alta renda que funciona no Bairro Vila da Serra, em Nova Lima, no limite com a capital: “Temos um banco de dados de todas as nossas consumidoras, com informações desde a numeração da roupa às cores preferidas, passando por tipos de peças e tecidos”.
A comerciante revela que as vendas personalizadas engordaram seus negócios em 40%. Cecília revela mais: 30% de sua clientela preferem fazer compras sem sair de casa. “Mas não basta chegar com várias peças de roupas ao domicílio das freguesas”, destaca Cecília. De posse do perfil de quem lhe telefonou, ela seleciona mercadorias e envia fotos e informações como tamanho e cores disponíveis. “Dessa forma, as mulheres compram apenas o que necessitam para a ocasião”, disse enquanto atendia Letícia Rezende, que mora na Região da Pampulha e destaca o conforto nesse tipo de compra.
O atendimento personalizado também assegura bons ganhos à galeria de arte Manoel Macedo, fundada em 1981. “Cerca de 30%”, diz Rodrigo Mitre, diretor do local. Ele explica que os clientes têm o acervo catalogado pela galeria, o que ajuda a empresa a identificar, previamente, as características das obras e o perfil da clientela.
O mercado de gastronomia é outro dos ramos com boas expectativas de lucrar com o serviço oferecido em casa. “É um serviço extremamente personalizado e que vem crescendo. O empresário monta tipo um restaurante dentro do lar do cliente. Por que isso ocorre? Porque vivemos a era da personalização em massa”, avalia Marchesini.
O tradicional Restaurante do Porto, fundado há 44 anos e cujo carro-chefe é a bacalhoada, começou a apostar no filão há poucos meses. Leonardo Duarte, um dos sócios da empresa, conta que a estratégia de preparar o cardápio na casa do freguês começou por acaso, a partir de pedidos de clientes que desejam receber amigos e parentes em casa. “Conseguimos atender a almoços e jantares para até 40 pessoas e em qualquer dia da semana. Temos muitos clientes em potencial, principalmente por causa da Lei Seca”, acredita o comerciante, acrescentando que a casa já realizou vários atendimentos.
O pedido de um grupo de amigos também levou a loja de vinhos e enogastronomia Enoteca Decanter, inaugurada em 2005, a adotar a estratégia. “A ideia nasceu como uma brincadeira. Na verdade, para atender um ‘favor’ para um grupo de clientes mais próximos. Acabou que deu certo, virou um serviço mesmo”, recorda o sommelier Nelton Fagundes. O serviço oferecido pela empresa, acrescenta ele, é variável, levando em conta o quanto o cliente pode investir e qual a finalidade do evento: jantar, almoço ou uma degustação com petiscos.