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Estado de Minas

Falta de planejamento e segurança levam prejuízos milionários aos supermercados

Prejuízo de R$ 4,7 bilhões com produtos vencidos, furtos, entre outros problemas, daria para abrir mais de 70 lojas


postado em 03/11/2013 00:12 / atualizado em 03/11/2013 08:08

Uma bolada de R$ 4,740 bilhões foi atirada ao lixo no ano passado, na forma de produtos amplamente consumidos nos supermercados de todo o país que perderam a validade ou foram furtados das lojas, muitas vezes dentro dos carrinhos, também levados pelos fregueses. A fortuna representa mais que o dobro da receita de uma das maiores redes supermercadistas de Minas Gerais, onde as perdas se aproximaram de meio bilhão de reais. Se parece pouco, supera todo o investimento (R$ 300 milhões) previsto pelo setor em Minas neste ano, dinheiro suficiente para a abertura de pelo menos 70 lojas. Os números constam das pesquisas mais recentes feitas pelas associações brasileira (Abras) e mineira (Amis) de supermercados, que intensificam os trabalhos dos comitês de prevenção de perdas nas empresas.

Ardem nesse caldeirão de baixas ingredientes como furtos, produtos danificados por clientes e funcionários, falta de controle do estoque e de acompanhamento das datas de validade de mercadorias nas gôndolas e o descompromisso de fornecedores, que entregam quantidade de itens inferior à contratada. Nas empresas mais despreparadas para enfrentar o problema, o índice médio de perdas estimado pela Abras em 2% do faturamento das redes pode superar o dobro, segundo o superintendente da instituição, Adilson Rodrigues. Ao todo, os supermercados faturaram R$ 25,7 bilhões em Minas e R$ 242,9 bilhões no Brasil em 2012. “A rigor, as perdas começam nas lavouras, quando o produtor desavisado se engana sobre o momento da colheita, e crescem na logística do transporte deficiente das estradas ruins do país e no armazenamento, muitas vezes inadequado nos caminhões”, afirma.

Nos supermercados, descontrole, manuseio e sumiço de mercadorias completam o mau serviço. O consumidor tem tudo a ver com isso. Além de sofrer as consequências na ameaça à saúde, paga pela ineficiência descontada nos preços mais altos marcados na nota fiscal de compra. As seções dos chamados produtos perecíveis – frutas, legume, verduras, carnes, lácteos e embutidos – são as campeãs das perdas. Das plantações ao varejo, perdem-se 40% do estoque, ainda de acordo com levantamento feito pela Amis. Cerca de um quarto da frota de carrinhos usados nas lojas simplesmente some a cada ano. EQUIPE DE COMBATE A preocupação com tamanha quebra fez as redes sofisticarem a prevenção, que deixou de ser trabalho dos antigos fiscais de loja para ganhar equipes especializadas e um gerente ligado, com frequência, ao presidente ou aos diretores do supermercado. A rede mineira ABC, dona de 25 lojas em 13 municípios das regiões Centro-Oeste, Sul, Alto Paranaíba e Triângulo, é uma das empresas que elegeram a prevenção e o combate às perdas como valor estratégico, conta Túlio Fernandes Martins, vice-presidente de Operações, Marketing e Comércio Exterior. Cuida desse trabalho uma equipe de 175 pessoas, nada menos do que 6% do quadro de pessoal das lojas e da central de distribuição.

“O varejo é como estar em casa e deixar água pingando nas torneiras. É um negócio vulnerável porque depende muito da atenção das pessoas e porque trabalha com tudo em grandes quantidades, sejam produtos, fornecedores, empregados ou clientes”, afirma. A equipe que luta contra o desperdício e perdas é selecionada pelo quesito da percepção apurada e passa por treinamento duro. Cabe a ela acompanhar as condutas de funcionários e clientes, adotar processos de controle de estoque, fazer inventários e conferências diárias de mercadorias, apurar indícios de desvios e furtos. A empresa usa, ainda, ferramentas como sistemas de computador especializados e equipamentos, a exemplo de antenas antifurto, câmeras de filmagem e monitoramento em tempo integral.

Com o investimento permanente, os supermercados ABC evoluíram para um nível de perdas de 1,30% do faturamento, portanto inferior à média nacional, envolvendo todas as seções das lojas, com o detalhe de que nenhuma delas foi terceirizada. “Ainda temos de desenvolver o trabalho e evoluir muito, mas acreditamos já existir na empresa uma cultura de prevenção de perdas”, afirma Túlio Martins. É o objetivo que move outras redes que têm adotado os comitês de prevenção de perdas, assessorados e orientados pela Amis, de acordo com o superintendente da instituição, Adilson Rodrigues. A meta traçada junto às empresas é a de reduzir o índice geral de perdas a 1% dentro de no máximo cinco anos. A própria expansão dos supermercados dificulta o controle das perdas e de um gargalo significativo, o sumiço dos carrinhos, avalia Wagner Rocha de Castro, proprietário da rede Supermercado de Desconto Ltda, com quatro lojas em Cláudio, no Centro-Oeste de Minas, e Itaguara, da Grande BH.

Atento ao negócio, Wagner Castro criou há um ano e três meses uma empresa que se dedica à reforma de carrinhos, atendendo grandes redes supermercadistas em Minas. Cotados na faixa entre R$ 250 e R$ 300, os carrinhos rodam 12 horas por dia, no mínimo, demandando manutenção na proporção do tipo e da conservação do piso das lojas. Experiente no serviço, Castro se associou à empresa TTY, de Belo Horizonte, e está lançando um sistema de alarme para evitar roubos do equipamento. “Eu mesmo fui muitas vezes atrás de consumidores que levaram carrinhos das lojas”, diz.

 

Embalagens aprimoradas No cerco aos prejuízos, os supermercadistas se juntaram aos distribuidores e produtores, por meio da CeasaMinas, para trabalhar na adequação das embalagens. As perdas de produtos decorrentes do uso inadequado das caixas alcançam 50% das mercadorias levadas ao entreposto, de acordo com levantamento feito pela CeasaMinas. O processo e as exigências que resultaram na correção do problema já foram aplicados ao transporte de banana, tomate, mamão, manga, abacaxi, cenoura e limão. Desde sexta-feira, está valendo o prazo de adequação para todas as demais frutas e hortaliças, que termina em 1º de fevereiro de 2014.

O uso é regulado pela Instrução Normativa Conjunta 009, de 2002, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). As embalagens para acondicionamento, manuseio e comercialização dos produtos hortícolas podem ser descartáveis ou reutilizáveis (retornáveis). As retornáveis, a exemplo das caixas plásticas, devem ser higienizadas a cada uso para evitar a proliferação de pragas vegetais. Já as caixas de madeira e de papelão, por não serem higienizáveis, devem ser descartadas depois do primeiro uso. A opção para quem prefere as embalagens plásticas é o Banco de Caixas da CeasaMinas, que aluga e higieniza os recipientes, propiciando o rodízio entre produtores, atacadistas e compradores, por meio de vales-caixas.

 


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