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Estado de Minas

Prosperidade 'transborda' nos Campos das Vertentes

Empregos e renda gerados pela V&M em Jeceaba impulsionam o crescimento na vizinha Entre Rios de Minas, onde preços de imóveis e mão de obra explodiram nos últimos anos


postado em 04/11/2013 06:00 / atualizado em 04/11/2013 07:32

O corretor Paulo Evangelista mostra casa disponível para locação por R$ 2 mil mensais e diz que valor do aluguel valorizou mais de 100%(foto: Beto Novaes/EM/D.A. Press)
O corretor Paulo Evangelista mostra casa disponível para locação por R$ 2 mil mensais e diz que valor do aluguel valorizou mais de 100% (foto: Beto Novaes/EM/D.A. Press)

Entre Rios de Minas – No fim dos anos 70, o pacato município de Entre Rios de Minas, nos Campos das Vertentes, hoje com 14,5 mil moradores, experimentou o seu primeiro boom econômico, graças à abertura de centenas de empregos gerados durante a construção da Ferrovia do Aço. A estrada foi projetada por militares para levar o minério do estado a Volta Redonda (RJ), à ex-estatal Companhia Siderúrgica Nacional. Os benefícios com o megaprojeto duraram pouco: a explosão de emprego e a boa remuneração foram embora com a conclusão dos trilhos. Quase quatro décadas depois, porém, o lugarejo vive sua segunda onda de desenvolvimento.

Dessa vez, os novos ventos vêm de aportes privados na vizinha Jeceaba, a 25 quilômetros de lá e com 5 mil moradores. Como Jeceaba não tem infraestrutura para acolher todos os novos trabalhadores, Entre Rios de Minas pega carona nos gordos investimentos. O maior empreendimento é a Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil (VSB), uma joint venture inaugurada pela francesa Vallourec e pela japonesa Sumitomo Metals há dois anos e meio. A fábrica, orçada em US$ 1,6 bilhão, gerou 1,5 mil vagas diretas, com a promessa de produzir 600 mil toneladas de tubo de aço sem costura.

A empresa fabrica tubos de alta resitência, que podem ser usados em gasodutos para transportar o petróleo do pré-sal. Outro empreendimento em Jeceaba e que beneficiará Entre Rios de Minas é a expansão da mina da Ferrous. O projeto, que inclui investimento em Congonhas, está orçado em US$ 1,3 bilhão e deve gerar, durante a fase de implantação, cerca de 3,5 mil empregos diretos e 14 mil indiretos. Tanto a VSB quanto a Ferrous usam a Ferrovia do Aço para escoar sua produção. Por isso, em Entre Rios de Minas há quem diga que, quase 40 anos depois da chegada dos trilhos, enfim o desenvolvimento começa a fincar raízes na região.

Tanto que várias placas no município propagandeiam a construção do primeiro condomínio fechado no lugar. “Serão 508 lotes, sendo 479 residenciais. O preço mínimo é de R$ 75 mil. O investimento é de R$ 10 milhões e as obras devem terminar no primeiro semestre de 2014. A região está recebendo muitas empresas”, justifica Adriano Melillo, gerente da empresa que negocia os lotes. Cinco deles foram comprados pelo casal de empresários Zirlene e Antônio Luiz Seabra. “É um bom investimento”, garante o marido.

Valorização


O mercado imobiliário na cidade observa uma expressiva alta nos preços. Lotes que há dois anos eram vendidos a R$ 5 mil agora custam R$ 70 mil. “O setor está outro. Para se ter ideia, não trabalhávamos com aluguel de imóveis, apenas com vendas. A chegada da VSB a Jeceaba, contudo, nos obrigou a operar aluguéis. Hoje, administramos cerca de 150 imóveis locados. Os preços dos aluguéis, aliás, subiram mais de 100% de lá para cá”, conta Paulo Evangelista, gerente da imobiliadora Timbal.

Ele é um dos moradores que viveram o primeiro boom econômico de Entre Rios: “Trabalhei como lubrificador de máquinas usadas na montagem da estrada de ferro. O emprego, naquela época, bombou por aqui. Depois, tudo voltou a ser como antes, pois a conclusão da ferrovia levou os trabalhadores embora. A cidade, financeiramente, morreu. Muita gente deixou o município, atrás de novas oportunidades. Agora, só fica desempregado quem quer”.

A geração de vagas aliviou o bolso de muitos empresários. “A questão do fiado melhorou bastante”, comemora Nazareth Resende, dona do salão de beleza Alvarenga, onde o movimento de clientes subiu 40% de 2012 para 2013. “Quem não agenda um horário dificilmente consegue ser atendido”, comemora Nazareth, cujo salão fica próximo à Praça Senador Ribeiro, onde funciona o principal ponto de táxi da cidade.

O motorista Felipe Mendes foi outro que notou uma grande redução do fiado. Melhor que isso, calcula, “o número de corridas subiu de 20% a 30% em um ano”. Ele observa que outro termômetro da economia, a frota de veículos, cresce velozmente no lugar. O total de carros, motos, ônibus e caminhões emplacados lá subiu 35% entre julho de 2010 e o mesmo mês de 2013, de 4.748 unidades para 6.421. Bom para Wilson Geraldo de Assis, que montou, há seis meses, um estacionamento no Centro: “São 20 vagas para mensalistas (R$ 60 cada uma)”.

Com aquecimento econômico, Antônio Resende e Sandro de Oliveira estão com a agenda de serviços contratados lotada até o fim de 2014(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Com aquecimento econômico, Antônio Resende e Sandro de Oliveira estão com a agenda de serviços contratados lotada até o fim de 2014 (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Progresso é o tempero da inflação

O salto na economia de Entre Rios de Minas também trouxe problemas à cidade. Um deles está na inflação da mão de obra. Na construção civil, por exemplo, o valor da diária de um ajudante de pedreiro aumentou de R$ 40 para R$ 60 entre janeiro e setembro. A alta, de 50%, está bem acima do avanço do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, no mesmo período: 3,61%. O indicador é medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Estou tocando quatro obras ao mesmo tempo. Tenho compromissos com clientes até junho de 2014”, comemora o mestre de obras Antônio Resende. Por outro lado, explica ele, “há uma grande dificuldade em conseguir mão de obra qualificada para ajudá-lo nas empreitadas”. Um de seus ajudantes, o armador Sandro de Oliveira Rodrigues, acredita que isso ocorre “porque Entre Rios de Minas vive uma nova fase econômica”.

A situação não é muito diferente no campo. “A diária de um trabalhador rural disparou de R$ 25 para R$ 50 em três ou quatro anos. Estamos presenciando um êxodo muito grande. Em razão disso, a mão de obra no campo está cara, escassa e sem qualificação”, lamenta Paulo Mendes, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável.

SOSSEGO
O progresso pôs fim à tranquilidade de muitos moradores. “Se de um lado a economia melhorou, de outro o sossego piorou. Antes, podíamos sair de casa sem nos preocupar em trancar portas e janelas. Hoje, isso é impossível”, lamenta o taxista Aldo Pereira da Silva. Seu colega Danilo Silva reforça a mudança relatada por Aldo e também reclama do aumento do custo de vida: “A conta nos supermercados disparou”.


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