São Joaquim de Bicas – O sonho do empresário Eike Batista de alcançar o topo da lista dos mais ricos do mundo era a oportunidade para que muitos alçassem voos mais altos. Em São Joaquim de Bicas, na Grande BH, a expansão do projeto Serra Azul possibilitaria aos moradores aproveitar o embalo para ter mais qualidade de vida. As desapropriações que seriam feitas para melhorar a infraestrutura do município, por exemplo, garantiriam aos moradores da comunidade da Favelinha dias melhores, bem distante do tráfego pesado de caminhões, mas a grave crise financeira do grupo EBX pode desfazer os sonhos das famílias que vivem às margens da via.
A estimativa da prefeitura é de que passem diariamente pelo trecho 2 mil caminhões, não só da MMX. Abarrotados de minério de ferro, eles sobem e descem a estrada pela manhã, tarde e noite. A via é a principal ligação da BR-381 com Brumadinho e Igarapé. Em troca dos investimentos que seriam feitos no projeto Serra Azul, a MMX se comprometeu a repassar R$ 20 milhões para os cofres municipais, sendo que 90% do montante seria investido em obras de infraestrutura viária. Mas, segundo a prefeitura, R$ 5 milhões ainda estão retidos, impedindo o asfaltamento do trecho, de pouco mais de 400 metros, segundo o secretário municipal de Obras, Marcos Vinícius Ribeiro do Amaral. Inclusive, sem ter uma resposta da companhia e devido à urgência da obra, ele já procurou outras mineradoras para tentar que elas assumam o projeto.
O tráfego intenso faz com que as casas situadas nas proximidades da via sejam bastante afetadas. Por se tratar de uma estrada estreita, os caminhões quase esbarram nos muros, quando dois se cruzam. Com isso, a maioria dos imóveis está com as paredes trincadas e uma poeira marrom fica impregnada em paredes, pisos e todos objetos expostos. “As janelas do meu quarto ficam fechadas o dia inteiro para diminuir a poeira, mas não tem jeito. A mesinha de perfumes fica imunda”, relata o morador de São Joaquim de Bicas Aílton Alves da Silva, conhecido como Pombinho. Revoltado, ele espalhou faixas pela rua cobrando as indenizações. Ele foi um dos procurados pela MMX para vender seu imóvel. Assim como a maioria, não aceitou a oferta, devido aos valores considerados insuficientes para adquirir outra unidade na cidade. Isso porque desde a “invasão” dos milhares de trabalhadores do projeto Serra Azul o preço de imóveis teve uma alta abrupta.
Sem um acordo, Pombinho sofre de problemas respiratórios. Vizinha dele, a dona de casa Helena Martir desconhece quem seja Eike Batista. “Só sei dizer que ele foi à falência e deixou a gente para trás.” Apesar de longe da falência, o grupo EBX sofreu forte revés nos últimos meses e, com isso, o compromisso de tirar os moradores da Favelinha não se confirmou e cerca de 30 família sofrem com a presença incômoda da poeira.
Grupos
Pelo documento assinado pela MMX, a companhia diz estar empenhada em dar “prosseguimento às ações previstas no Programa de Acompanhamento e Apoio à População Atingida” e “reafirma o compromisso de desenvolver ações de proteção social nas áreas atingidas pelo projeto de expansão do Complexo Serra Azul”. Os moradores foram divididos em grupos de acordo tamanho do terreno, vínculo com a moradia e condições de vulnerabilidade. Helena foi classificada no grupo 3 (possuidores de terrenos de até 1 mil metros quadrados e residente no local).
O compromisso era de entregar uma casa com pelo menos 67,74 metros quadrados totalmente reformada. O imóvel deveria ter dois quartos, sala, cozinha e banheiro, além de estar rebocado e pintado, azulejado na cozinha e no banheiro até metade da parede e a varanda com piso de cerâmica, entre outros. Assinado em 17 de janeiro, o acordo prevê que o imóvel seja entregue em até um ano, ou seja, ainda está no prazo. Mas os moradores perderam as esperanças. Até reunião com o prefeito foi marcada. “Avaliaram minha casa em R$ 57 mil, mas só se encontra imóvel por mais de R$ 120 mil”, diz Helena.
Em nota, a MMX afirma que “não se comprometeu com indenizações, mas em conduzir a realocação de famílias que estariam em área de interferência do empreendimento, o que foi feito com um grupo de oito famílias”. Em relação ao asfaltamento da estrada, a empresa afirma que tem participado de um fórum, formado por minerados da região e liderado pela Prefeitura de São Joaquim de Bicas, para definir os investimentos no trecho.