Em um ano de rivalidade em alto nível para Atlético e Cruzeiro, a disputa extrapola as quatro linhas e invade os céus da capital mineira. Depois de os atleticanos terem dificultado o sono dos adversários para festejar a conquista da Copa Libertadores, é a vez de os cruzeirenses tentarem se vingar usando a mesma moeda com o título quase certo do Campeonato Brasileiro: os fogos de artifícios. Na véspera da última partida, com a expectativa de levantar a taça no Mineirão, torcedores da Raposa formaram filas nas lojas especializadas em busca de explosivos para a festa do título. O resultado: empate na venda de fogos de artifícios na véspera das duas principais decisões futebolísticas do ano para os mineiros, segundo balanço das principais casas do ramo. As vendas se equiparam às previstas para a virada do ano. Por outro lado, a indústria do ramo, responsável por abastecer o país inteiro, diz amargar queda drástica na produção devido à fase ruim de clubes paulistas e fluminenses que têm numerosa torcida espalhada por diversos estados da Federação
Dois fatores ajudam a explicar as vendas do setor para as torcidas neste ano. No caso do Galo, a cada partida da dramática fase eliminatória da Libertadores, os atleticanos se muniam de explosivos para comemorar a classificação do time. Com isso, houve forte demanda em pelo menos três etapas, marcadas pelos jogos contra o Tijuana (México), o Newells Old Boys (Argentina) e o Olimpia (Paraguai). Por outro lado, a dificuldade de classificação fazia com que muitos desconfiassem do time – inclusive, parte dos rivais, à época esperançosos na desclassificação, contribuíram para aumentar as vendas. Quanto ao Cruzeiro, a quase certeza de título fez a torcida ficar mais confiante, surpreendendo o comércio nesta reta final do Brasileirão.
Na Minas Pirotécnica, o estoque de fogos de artifício esgotou no sábado, com a torcida cruzeirense formando fila na porta da loja. Na véspera do jogo, o horário de funcionamento teve que ser estendido em cinco horas e a unidade abriu inclusive no domingo. O proprietário do estabelecimento, Marcos Vinícius de Oliveira Santos, foi obrigado a encomendar nova remessa. Sobre as vendas: “Extraordinárias! Acima da previsão”, diz ele, considerando ter havido empate se comparadas com as vendas da véspera da final da Libertadores.
Depois de não ter conseguido comprar fogos no bairro onde mora (Urca), o estudante William Marcos Cabral dos Santos foi até o Barro Preto para preparar a festa do título. Para o jogo de anteontem, ele havia adquirido três caixas. Mesmo sem a confirmação matemática do título, William soltou todos os foguetes. Certo que a confirmação do título virá amanhã, ele voltou à loja para comprar mais duas caixas. “No Campeonato Brasileiro, comprei mais de 15 caixas para comemorar a boa fase”, diz o torcedor, confirmando ter comprado outras tantas para vibrar com a eliminação do Atlético na Libertadores, o que acabou não acontecendo.
DA COR DO TIME De olho na demanda, Marcos Vinícius encomendou um produto especial dos fabricantes de Santo Antônio do Monte, polo mineiro de explosivos, para a torcida do Cruzeiro: o explosão celeste. O fogo de artifício é formado por 12 tiros prata e uma explosão azul ao final. Um produto especial também deve ser criado para coroar a participação do Atlético no Mundial. O explosivo irá reproduzir a camisa do Galo. Três rastros prateados subirão e três explosões vermelhas fecharão o foguetório. “O atleticano e o cruzeirense disputam quem dá mais renda, mais público e até quem solta mais foguete”, diz o empresário, apostando em recorde de vendas na véspera da final do título mundial.
Acostumada a trabalhar com mais dois vendedores, a gerente da loja Feira dos Fogos, Helena Aparecida de Sousa, teve que contratar mais três funcionários para conseguir atender a demanda. Inclusive, ela anuncia que tem vaga definitiva em aberto. A procura, segundo ela, se equiparou ao réveillon, tido como a melhor época do ano. No sábado, a fila dobrava a esquina. No comparativo com as festas juninas e o feriado de Nossa Senhora Aparecida, épocas de tradicionais festejos com fogos, as vendas de futebol foram bem maiores. “Se esqueceram dos santos. O povo só quer saber de futebol”, brinca Helena.