Em vez do lucro líquido recorde de RS 12,7 bilhões de janeiro a setembro anunciado ontem pelo Banco do Brasil (BB), foi a expansão da carteira de crédito da instituição, de 22,5% nos últimos 12 meses, num movimento descolado do comportamento dos bancos privados, que detonou a reação no mercado financeiro ao resultado do banco. O aumento das provisões de crédito de liquidação duvidosa, que alcançaram R$ 3,915 bilhões no fim de setembro, contribuiu para a má receptividade ao balanço. Ontem, as ações do BB lideraram as baixas na bolsa, com queda de 5,30% dos papéis, cotados a R$ 26,60. O resultado refletiu no Ibovespa, que recuou 1,55% a 51.804 pontos. Apesar do reflexo negativo no pregão, o ganho acumulado do BB em 2013 superou o desempenho já conhecido de outros três bancos no período: Itaú Unibanco, Bradesco e Santander.
Na contramão do cenário de maior seletividade do crédito no sistema bancário, neste ano, a chamada carteira de crédito ampliada do Banco do Brasil – inclui títulos e valores mobiliários, além de garantias – somou R$ 652,3 bilhões no fim de setembro. Os financiamentos concedidos ao agronegócio cresceram 32,2% frente ao mesmo mês do ano passado, totalizando R$ 130,1 bilhões, e os empréstimos a empresas tiveram elevação de 24,7% na mesma base de comparação. O crédito imobiliário deu um pulo de 86,5% e o faturamento com cartões de crédito cresceu 23,7%. Pela primeira vez, as captações totais da instituição, a soma de financiamentos, depósitos e emissões de títulos, superaram R$ 1 trilhão.
A expansão agressiva do crédito e a percepção de que houve piora da qualidade desse crédito guiaram o balanço do BB na contramão do que mostraram os resultados dos bancos privados, para o analista de investimentos Marcelo Torto, da Ativa Corretora. “O banco reavaliou sua carteira de provisões e provocou temor. Não sabemos a que custo se deu essa expansão tão forte da carteira de crédito”, afirma. Concorda com ele Miguel Daoud, analista da Global Finance Advisor, que viu nos números do balanço da instituição o resultado de uma ingerência do governo para elevar a oferta de crédito e, com isso, dar mais dinamismo à economia brasileira.
“A baixa na bolsa indica que o mercado está colocando preço na redução do crescimento econômico e a alta dos juros. Isso vai levar a uma demanda menor do crédito e todos os bancos vão ganhar menos”, afirma. Ao comentar o balanço do BB, o gerente de Relações com Investidores da instituição, Leonardo Loyola, minimizou a reação negativa, argumentando que houve um mau humor generalizado no pregão de ontem. Segundo o executivo, os números consolidados da carteira de crédito do banco indicam um ritmo menor de expansão da carteira de crédito no terceiro trimestre. De março para junho, o indicador havia crescido 7,7%, ao passo que entre junho e setembro, as cifras totais mostraram aumento de 2,14%.
MENOS RISCO
Loyola disse que as quatro linhas de crédito de menor risco – crédito consignado, o CDC salário, o imobiliário e o empréstimo para a compra de veículos –, participaram com 74,9% do volume global da carteira de crédito a pessoa física em setembro, percentual pouco superior aos 74,5% em idêntico período do ano passado. “Há uma demanda menor de crédito por parte das pessoas físicas e uma competição maior entre os bancos. O segmento do agronegócio está bombando, mas o banco se aproveita do fato de deter fatia relevante desse mercado no país, de dois terços”, afirmou.
Quando ao descolamento do resultado em comparação aos demais bancos, Loyola admitiu a tendência de crescimento mais em linha com o mercado financeiro. O lucro líquido do BB no terceiro trimestre foi 0,9% menor em relação ao do período de julho a setembro de 2012. O ganho também ficou abaixo do apurado no segundo trimestre, de R$ 7,47 bilhões, fato explicado em parte pela venda de ações da BB Seguridade.