(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Indústria investe na sofisticação em matérias-primas

Minério de ferro, aços e celulose são alguns dos produtos que entraram na nova era de investimentos da indústria em pesquisa e desenvolvimento


postado em 14/11/2013 06:00 / atualizado em 14/11/2013 06:45

Estrelas da pauta das exportações de Minas Gerais e do Brasil, as chamadas commodities – produtos agrícolas, minerais e semimanufaturados com preços cotados no mercado internacional – ganham mais espaço nas políticas de inovação e aperfeiçoamento tecnológico da indústria, pressionada pela concorrência apertada que a crise econômica mundial impõe. Pouco restou do conceito clássico de commodity, associado a itens fabricados em larga escala e de baixo valor. Minério de ferro, celulose e aços são bons exemplos desse grupo de mercadorias que entraram na era moderna da personalização, contando com a garantia de orçamentos anuais de investimentos em pesquisa e desenvolvimento.


Grandes empresas desses setores chegaram à sofisticação de definir quase sob encomenda o produto que apresenta o melhor rendimento e a adequação perfeita à aplicação desejada na fábrica do cliente. É a que se dedicam os pesquisadores da mineradora Vale no Centro de Tecnologia de Ferrosos, instalado em Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, empreendimento em processo de ampliação como parte de um aporte de recursos da companhia estimado em US$ 1,1 bilhão neste ano em pesquisa e desenvolvimento.

Nas novas instalações será testado, analisado e simulado todo o processo de transformação em coque metalúrgico do carvão que a Vale começou a explorar na mina de Moatize, em Tete, Moçambique. A equipe do centro tecnológico já trabalha com minério de ferro extraído das reservas da Vale no mundo e também com os tipos considerados exóticos da matéria-prima, encontrados da Austrália à Índia. Com o carvão, a ideia é reforçar o trabalho que se tornou referência mundial da Vale, entendendo e atendendo as necessidades dos clientes, informa Rogério Silva Carneiro, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento e Assistência Técnica da Vale.

“Fazemos uma abordagem personalizada do cliente, oferecendo soluções específicas. Não se trata do simples fornecimento de minério. A tarefa é desenvolver produtos, o que envolve desde a qualidade química e mecânica do nosso minério à estampagem do aço”, afirma Silva Carneiro. Os primeiros equipamentos adquiridos pela mineradora para a expansão do centro de tecnologia de Nova Lima começaram a entrar em teste. Os objetivos não são diferentes da política conduzida pelo grupo Usiminas para o desenvolvimento de aços especiais e sofisticados.

A siderúrgica anunciou no mês passado ter sido certificada pela Petrobras para o fornecimento de chapas com alto conteúdo tecnológico e características específicas para aplicação em tubulações para transporte de óleo e gás originários dos campos de petróleo do pré-sal. Produzido em poucas siderúrgicas no mundo, de acordo com a Usiminas, o novo aço resiste à trincas induzidas pelo hidrogênio, que são críticas nesse tipo de uso.

Fronteira tecnológica O presidente da Usiminas, Julián Eguren, diz que a chapa especial desenvolvida para a exploração da cama do pré-sal resultou da estratégia de transformar a empresa em fornecedora de soluções que levem competitividade indústria de óleo e gás. “É como atuar numa fronteira tecnológica. A Usiminas é referência na América Latina em patentes, registros e estudos e temos equipamentos, know-how e pessoal treinado para oferecer aços mais sofisticados. Essa é uma das nossas prioridades”, diz Eguren.

Para o executivo, está bem claro no Brasil o cenário de um país que precisa de grandes investimentos, sinônimos de aços de maior valor. Com 17 laboratórios e uma equipe de 145 profissionais, dos quais 63% são pesquisadores pós-graduados, o Centro de Tecnologia da siderúrgica, instalado em Ipatinga, no Vale do Aço mineiro, investiu R$ 22 milhões de janeiro a outubro em atividades de pesquisa e desenvolvimento.

Em Belo Oriente, no Vale do Rio Doce, a Cenibra, grande exportadora de celulose branqueada de eucalipto, mantém investimentos constantes do desenvolvimento dos clones na floresta às melhorias constantes no processo produtivo, passando pela pesquisa de novas aplicações. O presidente da companhia, Paulo Eduardo Rocha Brant, destaca os campos novos de estudo da nanocelulose e de biocombustíveis a partir da madeira. “Há muita ciência e tecnologia, inclusive na área de engenharia genética, envolvidas na produção de celulose. Trabalhamos com tipos diferentes de produtos e um monitoramento de  desempenho que não para”, diz o executivo.

 

Atenção voltada à sustentabilidade

Quando a disputa pelos clientes ocorre no comércio internacional e com a característica da produção de grandes volumes, as empresas se veem obrigadas a buscar o diferencial de seus produtos à custa de inovação constante. O novo ingrediente nessa briga é a dimensão da sustentabilidade do negócio, que começa a ser considerada na mesma esfera de importância dos resultados econômicos e financeiros, como observa a professora de inovação da Fundação Getulio Vargas Ingrid Paola Stoeckicht, presidente do Instituto Nacional de Empreendedorismo e Inovação (Inei).

A busca pela diferenciação inclui a oferta de serviços agregados às commodities, em geral ligados à forma de comercialização e ao acesso do cliente à matéria-prima, ao design e ao marketing. É como buscar a personalização do produto. Com o aumento da competição, surge no país a tendência de as empresas investirem em tecnologias inovadoras que abarcam também os resultados sociais e ambientais da atividade produtiva. “Elas estão despertando para essa necessidade de repensar o modelo de negócios, com um terceiro foco que incorpora a questão da sustentabilidade. Não adianta inovar a qualquer custo, deixando passivos social e ambiental, do contrário o país é que terá de pagar essa conta”, afirma Ingrid Stoeckicht.

Sob pressão dos concorrentes internacionais, a indústria siderúrgica brasileira é um dos setores que mais têm trabalhado em investimentos nas áreas de processos de produção, desenvolvimento de produtos e qualidade, avalia Fernando Matos, gerente de Qualidade do Instituto Aço Brasil e gerente-executivo do Centro Brasileiro de Construção em Aço (CBCA). O segmento de estruturas de aço para a construção exemplifica bem o espaço que as empresas no país podem ocupar.

Pesquisa que acaba de ser divulgada pelo CBCA e a Associação Brasileira da Construção Metálica (Abcem) indica crescimento de 10% da produção de estruturas metálicas neste ano. Foram considerados no estudo os números de 157 empresas, com volume total produzido em 2012 de 1,062 milhão de toneladas. A expectativa de expansão dos fabricantes leva em conta a demanda de aço das grandes obras previstas no Brasil, principalmente na área de infraestrutura. “Tecnologia não falta às empresas fabricantes de estruturas em aço. Elas têm processos automotizados e estão capacitadas”, diz Fernando Matos. As perspectivas são positivas ainda, tendo em vista as possibilidades de crescimento do uso do aço na construção. O setor responde por  37,7% do consumo aparente de aço no Brasil, superando a participação da indústria automobilística.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)