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Estado de Minas

Prévia do PIB mostra economia desaquecida

Índice do BC tem recuo de 0,12% no terceiro trimestre e mercado já prevê que desaceleração continua em 2014


postado em 15/11/2013 06:00 / atualizado em 15/11/2013 07:05

A queda de 0,12% na prévia do Produto Interno Bruto (PIB) do Banco Central no terceiro trimestre consolida as previsões do mercado de que o PIB oficial de julho a setembro será negativo, apesar de o governo insistir em não admitir. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, evitou comentar o resultado do IBC-Br, mas sempre que pode ele e sua equipe não deixam de buscar explicações cada vez mais criativas para o péssimo desempenho da economia e dos últimos indicadores. Mas o mercado sabe muito bem quais são as causas dessa letargia no crescimento e destaca que elas estão relacionadas com as ações das autoridades e isso consolida a previsão de queda de até 0,5% no PIB oficial.


Especialistas apontam uma desaceleração contínua até 2014, que deverá crescer menos que os 2% a 2,5% neste ano, enquanto a inflação deverá passar dos 5,7%, em 2013, para 6%, ano que vem. “A economia brasileira está andando de lado e isso é resultado das decisões de política econômica do governo tanto no aumento dos gastos públicos quanto na desoneração”, destacou o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), Paulo Picchetti.

Para o economista-chefe de mercados emergentes da britânica Capital Economics, Neil Shearing, o resultado do IBC-Br frustrou as expectativas de crescimento econômico do Brasil no PIB oficial, apesar de uma rápida expansão do crédito e do forte avanço de 1,5% no trimestre anterior. “Essa é uma preocupação séria e está começando a representar uma ameaça para a estabilidade financeira”, disse.

O economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, também considera o governo como o responsável pela atual situação da economia. Mas ele não acredita que o país esteja à beira da estagflação, em sua definição técnica, que é o pior dos mundos do ponto de vista macroeconômico. “Um trimestre de IBC-Br estagnado não configura recessão. Os dados sugerem uma economia que cresce pouco com inflação alta. É a vitória da mediocridade”, afirmou.

O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), divulgado ontem pelo BC, recuou 0,12% no terceiro trimestre do ano depois de ter registrado uma expansão revisada de 0,84% nos três meses anteriores. A última queda trimestral contabilizada pelo indicador, de 0,52%, ocorreu entre janeiro e março de 2012. No terceiro trimestre de 2012, a alta foi de 0,35%. Para piorar, o Indicador Antecedente Composto da Economia (Iace), medido pela FGV/Ibre em parceria com o The Conference Board, dos Estados Unidos, e divulgado ontem, registrou queda de 0,4% em outubro. Dos oito componentes do índice, apenas dois tiveram alta, mas demonstram fragilidade, de acordo com Picchetti. “O Iace antecipa um quarto trimestre de 2013 e um primeiro trimestre de 2014 nada animadores. Haverá um crescimento modesto, com inflação pressionando. Não teremos um cenário muito confortável”, explicou.

Pessimismo

Se as previsões de queda no terceiro trimestre se confirmarem, os mais pessimistas já começam a fazer apostas em uma recessão, caso o quarto trimestre também apresente retração no PIB em função dos péssimos resultados em outubro, como queda na produção industrial, dos investimentos e da perda do vigor do varejo, que teve um dos piores resultados desde 2003. Diante desses indicadores cada vez piores, os especialistas se debruçam novamente sobre suas planilhas para reduzir as previsões de expansão do PIB no próximo trimestre. Além disso, crescem as apostas de que o país sofrerá um rebaixamento na classificação dos títulos da dívida pública no exterior ainda no primeiro trimestre de 2014.

É o caso do banco britânico Barclays, que diminuiu de 0,3% para 0,2% a expectativa de avanço do PIB oficial do quatro trimestre e estima que, no terceiro trimestre, a queda do PIB será de 0,2%. “Os indicadores de outubro não são bons. O resultado fiscal ruim e o intervencionismo do governo na economia são os principais fatores para a quebra de confiança no Brasil tanto do mercado quanto dos investidores”, destacou o economista do Barclays para mercados emergentes Bruno Rovai.

Descrédito mina investimentos


Os empresários estão com o pé atrás para investirem no país porque o discurso do governo não convence. A presidente Dilma Rousseff, quando assumiu, se distanciou do setor privado e demorou para desencalhar os projetos de concessão para destravar a economia. E a reaproximação só aconteceu quando os resultados econômicos pioraram e, agora, eles tentam atrair os investidores para obras que só vão começar depois das eleições. E, sem investimento, não tem como o país ter um crescimento mais robusto. E isso reforça o cenário negativo que tem sido consolidado pelo mercado.

“O resultado do IBC-Br reflete uma acomodação da economia com relação ao trimestre anterior, que foi surpreendentemente forte. O desempenho do trimestre contará com investimento muito fraco”, disse o analista sênior para a América Latina da Economist Intelligence Unit (EIU), Robert Wood. “O Brasil está de volta em uma dinâmica de crescimento lento e parece improvável que ocorra “uma sacudida” na economia em 2015. “Para isso, será necessário que o governo melhore as suas políticas”, completou. Ele fez um alerta para a baixa credibilidade do governo Dilma. “Dada a deterioração fiscal e a incapacidade de o governo apresentar explicações mais convincentes para o fraco desempenho da economia, nada vai impedir que as principais agências de classificação de risco rebaixem o país no início de 2014”, sentenciou.

A economista Monica Baumgarten de Bolle, diretora do Instituto de Estudos de Política Econômica Casa das Garças, não arrisca usar o termo estagflação. “Acho que as pessoas usam esse termo de forma leviana. Estagflação é uma coisa muito específica. A economia está crescendo a uma taxa muito débil, mas está crescendo. Este ano deve crescer em torno de 2,5%”, disse. “Hoje há um exagero de pessimismo por parte do mercado, mas isso é culpa do governo. Agora eles estão colhendo os frutos da síndrome de hipnose que se instalou na equipe econômica, que fica negando a realidade. Se você não disser a verdade para as pessoas, a verdade vai aparecer em algum lugar”, destacou.

 

Estagnação na Europa

 

Bruxelas – O crescimento na Zona do Euro desacelerou no terceiro trimestre, a 0,1%, em relação ao período anterior (0,3%), o que confirma, segundo os analistas, que a recuperação econômica na Zona do Euro é “muito frágil” e beira a “estagnação”. Segundo os dados publicados ontem pelo escritório de estatísticas europeu, Eurostat, para o terceiro trimestre, o crescimento na França decepcionou (-0,1%), o da Alemanha foi menor que o esperado (0,3%) enquanto a Itália se contraiu menos que o trimestre anterior (-0,1% contra -0,3%). Na Espanha, houve uma leve expansão (+0,1%). Além disso, persistem as dúvidas sobre a capacidade desses dois últimos países de manter uma “franca recuperação”.

Oficialmente a Zona do Euro saiu, no segundo trimestre, de sua mais longa recessão, que durou 18 meses, mas esta recaída no terceiro trimestre “evidencia a fragilidade da recuperação”, observou Howard Archer, economista chefe da Global Insight. “As taxas correspondentes ao terceiro trimestre dificilmente inspiram confiança sobre o encaminhamento da recuperação econômica da Zona do Euro”, considerou. Os analistas destacam que esta queda se deve aos resultados piores que o esperado na economia da Alemanha, com uma queda das exportações e um aumento das importações, e da França, onde as exportações também caíram e se destaca, além disso, a falta de competitividade de sua economia. A queda das exportações é “um claro sinal de que a força do euro começa a afetar negativamente a recuperação”, observou Martin van Vliet do banco ING.
 


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