A inflação continua dando dor de cabeça para o brasileiro este ano. Especialistas apostam que ela ficará entre 0,60% e 0,80% neste mês, o que é o dobro do registrado nos últimos meses e muito acima do 0,37% que o Banco Central considera aceitável para que o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) fique dentro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5% ao ano com tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Até outubro, o indicador acumulado em 12 meses está beirando os 6% e vem corroendo a renda do consumidor.
Por conta disso, o mercado acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom), liderado pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, na próxima reunião, dos dias 26 e 27, vai continuar elevando a taxa básica de juros (Selic), hoje em 9,5% ao ano, para 10% ao ano. Essa medida prejudicará o crescimento da economia e certamente causará ruído político entre a autoridade monetária e a presidente Dilma Rousseff, cujo mandato está com as menores taxas de expansão econômica desde o governo Collor.
“A expansão sustentável e duradoura da economia brasileira continua a ser mais uma esperança do que uma realidade. Além disso, as políticas monetária e fiscal frouxa são susceptíveis de produzir nada além de inflação mais elevada no médio prazo”, avaliou o economista sênior do banco BES Investimento, Flávio Serrano. Ele reitera que a inflação oficial, medida pelo IPCA, chegará a 5,7%, neste ano, e a 6%, em 2014. “Também esperamos ainda mais o ruído no curto prazo quando pensamos que leituras mensais de inflação tendem a oscilar entre 0,60% e 0,80% nos próximos quatro meses”, completou. Esse cenário também contribui para o baixo crescimento estimado pelos economistas, pois há mais um problema que deverá ocorrer com a alta dos juros. A dívida pública também aumenta, e, com isso, os riscos de um déficit fiscal maior.
Reformas
O economista-chefe do Banco J. Safra, Carlos Kawall, destacou que o crescimento baixo da economia brasileira está acompanhado de uma inflação elevada. “Isso remete a medidas de reforma estrutural, que precisam garantir um crescimento mais elevado da economia. Isso precisa equacionar algumas demandas da economia, como a reforma do ICMS, a legislação trabalhista, reforma previdenciária. A gente também precisa pensar em uma abertura maior da economia. Mais de longo prazo a melhora da educação e medidas que nos permitam melhorar a competitividade da economia”, explicou. Para ele, o Brasil precisa ter políticas voltadas a um maior crescimento potencial da economia, que corrijam o descompasso entre oferta e demanda. “Para corrigir isso a gente está aumentando taxa de juros, o que não é o ideal. O ideal é aumentar a oferta. Não precisa ter mais estímulos de política fiscal”, explicou.
Na avaliação do economista Paulo Picchetti, pesquisador da Fundação Getulio Vargas, as muitas incertezas no mercado internacional não devem contribuir para um maior crescimento do Brasil além dos indicadores antecedentes que estão vindo bastante ruins neste quatro trimestre. “Os sinais ainda não estão claros tanto nos Estados Unidos quanto na Europa”, destacou ele citando a frustração do avanço do PIB das economistas europeias.
Crédito fica mais caro
São Paulo – A taxa média do juro em seis linhas de crédito ao consumidor alcançou o maior patamar desde novembro de 2012. Segundo levantamento feito pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), o juro médio apurado no cartão de crédito, cheque especial, crédito direto ao consumidor para financiamento de automóveis, no comércio e empréstimos pessoais, em bancos e financeiras, subiu de 5,53% em setembro para 5,56% em outubro. Anualizada, a taxa média foi elevada de 90,77% para 91,42%. Outubro marcou a sexta alta consecutiva no ano dos juros nestas linhas de crédito.
O coordenador da pesquisa, Miguel José Ribeiro de Oliveira, avalia que a elevação pode ser atribuída à última elevação da taxa básica de juro (Selic) promovida pelo Banco Central em 9 de outubro. A Selic subiu de 9% para 9,5% ao ano. “Considerando que a inflação oficial medida pelo IPCA ainda está muito acima do centro da meta estabelecida pelo governo (4,5%) e outros indicadores de inflação continuam mostrando pressão dos preços, deverá ocorrer nova elevação da taxa básica de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o que deve provocar nova elevação nas taxas de juros das operações de crédito”, diz Ribeiro de Oliveira.
A pesquisa da Anefac constatou que das seis linhas de crédito para pessoa física pesquisadas, houve alta em cinco delas. O juro do rotativo do cartão de crédito se manteve estável em 9,37% ao mês. No cheque especial, o juro subiu de 7,83% para 7,89% ao mês. Nos financiamentos no comércio, a taxa saltou de 4,14% para 4,19%. Nos financiamentos de automóveis nos bancos, subiu de 1,64% para 1,65%. Já nos empréstimos pessoais nos bancos, o juro subiu de 3,12% para 3,16%, enquanto nas financeiras houve aumento de 7,07% para 7,09%.