Além dos benefícios logísticos aguardados para depois da duplicação da BR-381, obra considerada essencial para alavancar o Leste mineiro, os empresários da região têm a oportunidade de injetar até R$ 12 bilhões na economia local. Prestes a iniciar a duplicação de parte dos 303 quilômetros da BR-381 entre Belo Horizonte e Governador Valadares, o estudo contratado pela Federação da Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) mostra os negócios que serão criados, principalmente no entorno da rodovia, durante a reforma. Serão gerados 5,7 mil empregos diretos e indiretos na construção.
Apesar da expectativa, o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), órgão ligado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, adiou a reunião que iria analisar o pedido de licenciamento ambiental da rodovia, o que deve atrasar mais uma vez o início das obras. Segundo uma fonte que acompanha o processo, caso a reunião fosse mantida para hoje, o Departamento de Infraestrutura de Transportes (Dnit), não teria como apresentar as contrapartidas ambientais para viabilizar que a ordem de serviço seja assinada neste ano, o que ainda deve acontecer.
De acordo com o superintendente regional do Dnit, Álvaro Campos de Carvalho, o ordem de serviço para que as obras da duplicação da BR-381 sejam iniciadas dependem do licenciamento ambiental. “A parte do IEF (Instituto Estadual de Florestas) está concluída, mas o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) pediu compensações ambientais para a mata atlântica”, explicou. Segundo um dos integrantes do Movimento Nova 381, que pediu para não ser identificado, o adiamento da reunião para 12 de dezembro foi uma manobra no sentido de que o Dnit ganhe tempo para atender as contrapartidas do Ibama dentro do prazo.
O estudo elaborado por uma consultoria especializada em orçamento de obras viárias contratado pela Fiemg visa a subsidiar o empresariado na identificação e geração de negócios. O Caderno de oportunidades da nova 381 lista, além de quantos empregos serão criados no período da obra, quantas refeições serão servidas para os trabalhadores e a quantidade de uniformes e equipamentos de segurança necessários, por exemplo. “Trata-se, em essência, de um verdadeiro guia de oportunidades para bons negócios relacionados com as obras de duplicação no trecho Belo Horizonte-Governador Valadares”, afirma o presidente da Fiemg, Olavo Machado Júnior.
Pelos números, metade dos postos de trabalho criados no período de obras são para a função de servente de pedreiro. Serão 2,46 mil vagas somente para essa atividade. Além disso, serão criados empregos para motoristas, carpinteiros e pedreiros, entre outros. Indiretamente, serão contratados vigias, auxiliares de topografia, mecânica, laboratório e lubrificação, médicos e engenheiros. Ao todo, serão 818 vagas.
O engenheiro Rafael Busnello, da empreiteira Toniolo Busnello, explica que a empresa venceu o lote 3.3 para a construção dos túneis Prainha e Antônio Dias, entre Nova Era e Timóteo. Ali serão investidos R$ 76,6 milhões e contratados cerca de 200 empregados. “Assim que a ordem de serviço sair teremos 60 dias para entregar os projetos para apreciação do Dnit. Temos todas as condições de atender os prazos.” Já José Luiz Duarte Penido, diretor da empreiteira J. Dantas, vencedora do lote 3.2, no município de Antônio Diasm, diz que o trecho conta com dois túneis – os chamados túneis Piracicaba –, que receberão investimentos de R$ 56,95 milhões e empregarão cerca de 200 trabalhadores por dois anos. “Acreditamos que a ordem de serviço será dada ainda este ano. Estamos com os equipamentos e a mão de obra mobilizados.”
A contratação de mão de obra colabora para impulsionar outros setores. Cada funcionário, por exemplo, precisa de equipamento de segurança e uniforme para trabalhar. A empresa precisa fornecer alimentação para todos. O estudo aponta que 14 milhões de refeições devem ser servidas, sendo 5,8 milhões de pratos para almoço e 8,4 milhões de lanches.
O presidente da Regional Vale do Aço da Fiemg, Luciano José de Araújo, se prepara para atender a forte demanda por uniformes. Diretor da Provest Uniformes, em Ipatinga, ele deve procurar as empreiteiras para fornecer parte dos vestimentos demandados. Ao todo, segundo o estudo, serão 101 mil uniformes. “A ideia é que as empresas aproveitem a oportunidade. A minha estará habilitada”, diz.
De acordo com o caderno, a cada R$ 1 investido na duplicação R$ 3 devem ser gerados. Com isso, caso as empresas da região consigam captar tudo o que está previsto, o triplo deve ser injetado no Leste do estado. Como o orçamento completo para a obra é de cerca de R$ 4 bilhões (considerando a variante de Santa Bárbara), R$ 12 bilhões podem ser gerados e distribuídos na região. “Se a gente puder fazer as empresas locais aproveitarem o investimento, o dinheiro vai girar ali mesmo”, afirma Araújo.
O estudo mostra em que período haverá maior contratação e em quais trechos as vagas de trabalho e oportunidade de negócios serão geradas. Também é possível identificar o mesmo por trecho. Os dois trechos entre Caeté e a Grande BH, por exemplo, demorarão um pouco mais para gerar oportunidades. Isso porque, assim como em outros dois trechos, o leilão fracassou e o Dnit deve refazer o processo de licitação.
Capacitação
De olho na escassez de mão de obra, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e a Fiemg devem atuar na formação profissional especificamente para a obra da BR-381. A parceria visa a capacitar moradores para que as empreiteiras possam contratá-los sem desfalcar outras empresas da região. O desafio pode ser ainda maior se considerado que no ano que vem também deve começar a duplicação de outras importantes estradas mineiras, como as BRs 050, 040, 153 e 262.
Oito núcleos foram criados pela Federação das Indústrias para monitorar o andamento das obras da BR-381. Formados por representantes regionais de entidades como Câmara de Dirigentes Lojistas, Federação do Comércio e Ordem dos Advogados do Brasil, eles irão avaliar as necessidades de cada trecho.