O governo pode entregar aos brasileiros na segunda-feira um amargo e antecipado “presente de Natal” — exatamente um mês antes da festa. A perspectiva do anúncio, na próxima semana, de um aumento de 5% no preço da gasolina agitou ontem o mercado financeiro, levando as ações ordinárias da Petrobras a subirem quase 4% na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa). As preferenciais, que não dão direito a voto, tiveram valorização de 4,84%. O avanço na cotação dos papéis foi decisivo para a alta de 1,6% do Ibovespa, principal indicador do comportamento do pregão.
Os investidores aguardam com ansiedade os desfechos da reunião do conselho de administração da companhia, marcado para sexta-feira, que decidirá sobre a nova metodologia de reajuste dos combustíveis, proposta no fim de outubro pela presidente da estatal, Graça Foster.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem reagido em público contrariamente à fórmula de mudanças periódicas e automáticas nas tabelas das refinarias, o que daria previsibilidade às receitas da petroleira e independência a sua política de preços. Para ele, essa espécie de gatilho minaria o combate à inflação. Mas a informação que guiou as mesas de operação ontem e deu nova munição aos especuladores era a de que, além do aumento de 5% para a gasolina, o conselho presidido por Mantega adotaria o novo modelo de tarifação a partir de janeiro. Para analistas, qualquer decisão dependerá da evolução do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência na política de metas de inflação seguida pelo governo.
“Não é à toa que os ajustes automáticos são tão caros à diretoria da Petrobras. Essa é a maneira que a empresa encontrou para se livrar das decisões de Brasília que deixaram seu caixa apertado e seu endividamento em nível preocupante”, analisa Marcel Caparoz, economista-chefe da RC Consultores. Para ele, os R$ 17 bilhões que a petroleira perdeu nos nove primeiros meses do ano em razão da elevada defasagem entre os preços que cobra no país e os que paga no exterior pelos combustíveis estão fazendo falta, sobretudo quando se consideram os investimentos necessários à exploração do Campo de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos.
R$ 1,98, variando de R$ 1,77 a R$ 2,39. O preço do derivado da cana-de-açúcar estimula o uso da gasolina, já que a diferença entre os dois é superior a 70%.O funcionário público, Felipe Figueiredo diz que gasta em média R$ 100 por semana para abastecer o carro. “O preço da gasolina deveria acompanhar a cotação internacional. Já o governo deveria desonerar o setor”, defende.