Os dois aeroportos geridos pelas empresas vencedoras do leilão do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, estão na lista de 10 melhores do mundo da consultoria britânica Skytrax. Com fluxo de passageiros no ano passado de 38,4 milhões e 24,8 milhões, Munique (Alemanha) e Zurique (Suíça), respectivamente, adequarão sua experiência internacional para sanar antigos problemas do novo parceiro mineiro, como a falta de oferta da praça de alimentação e a qualidade dos serviços.
Somadas, as duas empresas terão 25% da participação acionária (sendo 24% Zurich Airport International AG e 1% da Munich Airport International Beteiligungs GMBH) dos 51% que ficarão com a iniciativa privada. A outra integrante do consórcio Aerobrasil, a Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), formada pelos grupos de engenharia Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Soares Penido, terá 75% dessa fatia. A Infraero manterá os 49% da participação pública. “É um grupo de excepcional potencial, com dois aeroportos no coração da Europa”, avalia o subsecretário de Assuntos Estratégicos da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Luiz Antônio Athayde, responsável no governo mineiro por cuidar das questões referentes a Confins.
Além de Zurique, a operadora com maior participação atua em outros nove aeroportos internacionais em parceria com o aeroporto de Bengaluru, na Índia. Na lista estão Bogotá, Curaçao, três chilenos e quatro em Honduras. Segundo o prêmio distribuído pela empresa da indústria do turismo World Travel, em 2013 o aeroporto de Zurique obteve pelo décimo ano seguido o prêmio de melhor aeroporto europeu. “A estratégia da Flughafen Zürich AG concentra-se em contratos de gestão, em firmar sólidas parcerias locais em mercados emergentes como a América do Sul e Central, Europa Oriental, Ásia Central ou do Sul da Ásia Oriental”, diz nota publicada no site da empresa logo depois de batido o martelo. A CCR tem participação também em outros três aeroportos latinoamericanos: Quito (Equador), San José (Costa Rica) e Curaçao, em parceria com a operadora de Zurique.
Alimentação A falta de oferta de serviços de alimentação é um dos pontos críticos em Confins, o que inclusive colabora para a elevação do valor dos produtos. Pesquisa feita pela Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República com usuários do terminal coloca os quesitos de alimentação com notas inferiores à média nacional. Se consideradas as instalações, de 1 a 5, a nota do terminal mineiro é 3,1 ante 3,25 da média nacional. Quanto aos valores, a nota é ainda mais baixa: 2 ante 2,25 dos outros terminais. Em contrapartida, o aeroporto de Munique, o segundo mais movimentando da Alemanha, atrás de Frankfurt, foi eleito neste ano como o melhor do mundo na categoria alimentação, segundo premiação da Skytrax.
Administrador de empresas, Renato Cruz, 52 anos, é de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Ele desembarcou em Confins ontem, depois de fazer uma demorada escala em Brasília, já que não há voos diretos entre as capitais. “Os aeroportos de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro estão caóticos, congestionados, porque os voos são centralizados nesses terminais.” Renato, que utiliza com frequencia os aeroportos, diz que as escalas tornam os voos mais cansativos. “Com boas opções, os passageiros podem fazer sua refeição no próprio aeroporto.”
Sem custo maior para passageiros
Apesar dos alto investimentos previstos para Confins e os demais aeroportos concedidos à iniciativa privada, o custo operacional para os passageiros não deve aumentar, principalmente se considerado que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estabelece uma tarifa teto, permitindo aos operadores negociar os valores. Com isso, como forma de atrair voos em horários de menor movimento, é possível que sejam dados descontos, segundo o diretor da agência reguladora, Marcelo Guaranys.
Atualmente, a tarifa é controlada pela agência reguladora e sofre reajuste anual de acordo com o IPCA. No entanto, no caso da Infraero, é mais complicado justificar qualquer tentativa de redução de tarifa para determinado aeroporto devido à fiscalização de órgãos de controle e as regras firmes. No caso da iniciativa privada, isso se torna mais fácil. “A flexibilização no privado é bem mais fácil”, diz ele.
Além do aumento da concorrência, o diretor de Novos Negócios da CCR, Leonardo Viana, em entrevista coletiva depois do leilão na Bolsa de Valores de São Paulo, mandou recado para o governo mineiro sobre a busca por uma parceria para desenvolver Confins em velocidade mais rápida que os demais. Viana disse conhecer os planos mineiros para efetivar a aerotrópolis e o aeroporto indústria. “Vamos fazer uma parceria. Será uma via de mão dupla. Sem dúvida, a gente está considerando todas as premissas de investimentos do governo de Minas. Por exemplo, carga é quase irrisório. Existe a possibilidade de aumentar essa capacidade”, diz.
Vianna diz que a conquista de Confins consolida a estratégia da empresa de diversificação dos negócios em logística, trazendo para o país sua experiência em aeroportos no exterior. Ele aposta no grande potencial de expansão do movimento de passageiros no terminal, sobretudo com um melhor aproveitamento da vantagem de sua posição geográfica, “praticamente equidistante” das cidades de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.
Longo prazo Sobre as informações de recuo na procura por voos no local, o executivo salientou que a visão do consórcio está nas oportunidades do longo prazo, descartando a existência de riscos ambientais inesperados. “Além do papel importante que desempenhará na aviação doméstica, o acesso internacional de Confins está muito aquém de sua capacidade”, sublinhou. Na avaliação do subsecretário de Assuntos Estratégicos da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Luiz Antônio Athayde, os investimentos necessários serão cada vez mais estimulados. “Não tínhamos estratégia econômica. A oferta da infraestrutura precisa vir antes da demanda”, diz. (Com PRF)