Brasília – O Brasil, se dividido pela cor da pele, seria dois países distintos. Um formado por uma população branca, que ocuparia a 65ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Outro, de negros e pardos, estaria relegado ao fim dessa fila, no 102º lugar. Os dados evidenciam o tamanho e a persistência da desigualdade racial que ainda reina no país, a despeito de todos os avanços sociais na última década.
Calculados pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com base no IDH da Organização das Nações Unidas (ONU), que põe o Brasil na 85ª posição numa lista de países ordenados de acordo com as condições de vida da população, os dois índices mostram que a longa distância que os separa exige ações concretas do governo e da sociedade para corrigir problemas históricos.
É evidente, também, que o Brasil mais pobre, de características preta e parda, que agrega 96,8 milhões de pessoas, está, aos poucos, rompendo barreiras importantes. Entre 2003 e 2013, esse grupo passou a dar as cartas no mercado de consumo. Seu potencial de gastos mais que dobrou — cresceu 136% —, saltando de R$ 509,3 bilhões para R$ 1,2 trilhão. No mesmo período, o avanço entre os não negros, segundo classificação do Instituto Data Popular, foi de 67%.
Ainda assim, falta muito, cerca de R$ 800 bilhões, para que os negros e os pardos alcancem o nível de gastos do restante dos brasileiros, que em 2013 será de R$ 2 trilhões. "A renda dos que ganham menos vem crescendo mais desde 2003. O país, porém, apresenta um grande índice de desigualdade. Temos mais negros na baixa renda do que na alta", afirma Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular.
Mesmo no topo da pirâmide as cores da desigualdade são evidentes. O rendimento dos negros de classe alta representa apenas 28% dos gastos totais dessa camada da população. Na parcela classificada como média, negros e pardos respondem por 51% da renda. Na base, eles são donos de 68% do dinheiro despejado na economia todos os anos. "Essa desigualdade decorre, primeiro, da disparidade no mercado de trabalho", explica Meirelles. Os brancos acabam sendo os escolhidos para os melhores postos, com remunerações maiores.