O conselho de administração da petroleira espanhola Repsol aprovou nesta quarta-feira o princípio de acordo para uma compensação financeira da Argentina pela expropriação da YPF em 2012, pontuando que buscará garantias da Argentina para uma "solução justa", enquanto apoiou a gestão de sua direção.
Após mais de quatro horas de reunião em Madri, os membros do conselho avaliaram "positivamente o princípio de acordo anunciado pelo governo argentino sobre a compensação pela expropriação de 51% da participação acionária da Repsol na YPF", informou o grupo em um comunicado.
Para definir suas condições, "a Repsol decidiu iniciar, em breve, conversas entre suas equipes e as do governo argentino, a fim de buscar uma solução justa, eficaz e rápida para a controvérsia", informaram em um comunicado.
"O processo deverá (...) responder aos termos e garantias apropriados para afirmar sua eficácia", para o qual a Repsol contratará o assessoramento de um banco de investimento "de prestígio internacional", acrescentaram.
Segundo fontes próximas à negociação, a indenização aceita pelo governo de Cristina Kirchner consiste em 5 bilhões de dólares em títulos desse país, o que, segundo os analistas, implica um certo risco. "É preciso ver realmente qual é o valor da dívida argentina que lhes ofereceram", disse à AFP Natalia Aguirre, diretora do departamento de análise da empresa de corretagem espanhola Renta4.
Por isso, o conselho de administração da Repsol, da qual participam a petroleira estatal Pemex e o banco espanhol CaixaBank - dois grandes acionistas que participaram da negociação do acordo - têm respectivamente um e dois membros, devia dar especial importância, segundo os especialistas, às garantias de Buenos Aires.
"Em nossa opinião, a solvência externa da Argentina se encontra sob questão (depois do default em 2001/2002) devido à delicada situação - de novo - de seu quadro macroeconômico", disseram os analistas da Bankinter.
Para eles, a economia do país "evolui de forma preocupante: a inflação real estimada se encontra na faixa +25%/+30%" frente aos 10,5% oficial, "o PIB desacelera rapidamente para o crescimento nulo", "a balança de conta corrente é deficitária e sua taxa de juros é de intoleráveis 13,50%".
As três grandes agências de classificação de crédito Fitch, Moody's e Standard and Poor's situam a dívida argentina no nível de 'título podre', o que implica um risco de que o país não pague seus credores.
Nesse contexto, "parece lógico que a Repsol reivindique garantias adicionais para os títulos soberanos com os quais, aparentemente, vai ser indenizado... sobre uma quantia que, por outra parte, em absoluto, parece suficiente para compensar o valor do negócio expropriado", afirmaram os analistas da Bankinter após ser conhecido o princípio de acordo na terça-feira.
Longe dos 10,5 bilhões de dólares que reivindicados a princípio, com este acordo a Repsol perderia 1,7 bilhão de euros, já que a YPF tinha contabilizado em seus livros 5,4 bilhões de euros. Contudo, "a perda líquida será inferior em 500 milhões pelo efeito fiscal e pode sofrer outras variações pelo método de contabilização ou diferenças de câmbio", informou o El País.
Além disso, 5 bilhões de dólares é mais do que os analistas esperavam e, sobretudo, evita para a companhia um longa e cara batalha judicial. Para os analistas do Bankinter, este era "um conselho de administração que poderíamos qualificar como crucial", porque devia analisar também a gestão de Brufau, que recentemente recebeu duras críticas do diretor geral da Pemex, Emilio Lozoya.
O acordo foi alcançado na segunda-feira em Buenos Aires durante uma reunião do novo ministro de Economia argentino, Axel Kicillof, com o ministro espanhol da Indústria, José Manuel Soria, e com Lozoya, sem a presença de Brufau, o que despertou especulações sobre seu futuro.
O conselho o apoiou nesta quarta-feira e manifestou, "como órgão de administração da companhia, o pleno apoio à estratégia da mesma e à gestão que a equipe de direção vem desenvolvendo". A Pemex votou contra este ponto. A Pemex considerou "um bom sinal" que o conselho de administração da espanhola Repsol desse sua aprovação nesta quarta-feira ao acordo e acredita que ele será formalizado "com brevidade".
A estatal Petróleos Mexicanos (Pemex) - que possui 9,34% da Repsol- "vê como um bom sinal a vontade expressa esta tarde pelo conselho de administração da petroleira espanhola de alcançar um acordo para pôr fim ao conflito relativo à empresa argentina Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF)", disse em um comunicado.