Preços maquiados, descontos reais em poucos itens, lentidão em alguns sites, dificuldades para finalizar as compras e para fazer contato com as empresas participantes. Apesar da evolução promovida por algumas empresas em relação à informação prestada ao consumidor, esse foi o retrato do Black Friday brasileiro que mais uma vez foi alvo de críticas e reclamações. Levantamento feito pelo Estado de Minas mostra que o preço de alguns produtos, principalmente os eletrônicos, não se alterou e outros apresentaram apenas pequeno abatimento no valor. O resultado foram carrinhos de compras esvaziados na conclusão da transação.
De acordo com levantamento da Sieve, empresa especializada em inteligência de precificação no comércio eletrônico, que comparou a média histórica de preços nos últimos 90 dias com preços praticado pelas lojas à 1h da manhã de ontem, o desconto médio no preço de produtos e serviços foi de 20%. O levantamento considera somente os itens publicados pelas lojas no site www.blackfriday.com.br, organizado pelo Busca Descontos. Segundo o estudo, as categorias que tiveram os maiores baixas foram papelaria, com média de 31%, moda e acessórios, com 30%, e casa e decoração, com 28%.
A variação de preços e dificuldade para identificar a aplicação dos descontos resultou em milhares reclamações. Até às 18h de ontem, no espaço cedido pelo site Reclame Aqui para o usuário que quisesse denunciar ou reclamar das ofertas do Black Friday, já estavam estampadas mais de 2,2 mil reclamações. Extra.com.br, Ponto Frio e Submarino lideraram o ranking das reclamações durante todo o dia de ofertas. Entre os relatos, valores diferentes na finalização da compra, produtos indisponíveis, maquiagem de preço, falta de suporte e informação ao cliente, lentidão e outros.
Para evitar fraudes no período no qual os consumidores receberam o 13º salário e são alvos das promoções que continuam sendo oferecidas durante o fim de semana por algumas redes, o recomendado é pesquisar. A Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, em parceria com o Procon-RJ, verificou fraudes tanto na internet quanto em lojas físicas. O mais recorrente é o aumento do preço de produtos excluídos da promoção. Em alguns casos também é válido inflar os valores para simular descontos. “É óbvio que as empresas têm liberdade de determinar seus preços, mas não podem induzir o consumidor a erro, como acreditar que recebeu descontos quando na verdade foi só uma jogada para aumento de vendas. Essa conduta é contrária aos princípios estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor, como a boa-fé e transparência”, afirma a coordenadora institucional da Proteste, Maria Inês Dolci.
Embora o evento tenha trazido problemas para parte dos consumidores, a estimativa é de que as vendas nas primeiras 12 horas do Black Friday tenham movimentado R$ 174 milhões, conforme divulgado pelo Busca Descontos, site organizador do evento. Segundo estimativa da ClearSale, líder brasileira em soluções para autenticação de vendas no e-commerce, os consumidores brasileiros realizaram no mesmo período 410 mil pedidos de compras pela internet, com ticket médio de R$ 425. Entre as categorias mais procuradas da meia noite às 12h de ontem, estavam telefonia, eletrodomésticos, eletrônicos, informática e games, respectivamente.
De tudo um pouco
Pneus, roupas, utensílios domésticos, livros, cerveja (muita cerveja) e principalmente eletrodomésticos e eletrônicos. Em Belo Horizonte, consumidores de todos os perfis lotaram lojas de departamento e as principais redes varejistas em busca de produtos desejados por longo tempo – ou mesmo aqueles sonhados nos últimos segundos. Nas lojas abarrotadas e com publicidade agressiva, poucos foram os que gastaram tempo na comparação de preços, confiando quase cegamente nos descontos anunciados.
De olho na promoção, a aposentada Delícia Herculana da Silva não poupou esforços para levar para casa duas panelas que fritam sem óleo e um televisor de 32 polegadas. Sem pesquisar, ela viu o anúncio que informava os antigos preços e não titubeou em pagar R$ 1.760. “Consegui R$ 500 de desconto”, calculou, com base no panfleto.
Mais cauteloso, Rogério Valle foi ao supermercado em busca de cerveja. Cada latão saía por R$ 1,60 na compra de dois fardos. Mas o produto não durou muito e ele aproveitou para procurar outros itens para casa. Exemplar, o administrador Leandro Moutim saiu de casa com a lista de produtos desejados em mãos. Na ponta da língua, ele sabia o valor da cadeira para escritório, monitor cardíaco e da piscina de plástico para os filhos. Antes de ir ao shopping, em uma pesquisa na internet, ele comparou os preços. Mas, mesmo assim, com preços atraentes, aproveitou para comprar refrigerante, sucos e outros produtos de dia a dia.
No ambiente on-line a agitação não foi diferente. O Walmart.com que espera movimentar R$ 100 milhões nesta edição do Black Friday, montou operação de guerra para atender os milhares de pedidos da madrugada. Dezenas de colaboradores viraram a noite nos setores de tecnologia e logística na sede em Barueri (SP) para dar conta da demanda e comemoraram o fato de o site permanecer em funcionamento durante todo o período sem o registro de problemas para o consumidor. “Passamos de 387 funcionários para os atuais 864 profissionais, sendo 200 da tecnologia, como forma de oferecer uma melhor experiência ao consumidor”, revelou o presidente do Walmart.com no Brasil, Flávio Dias. A expectativa é de que seja assim durante todo o fim de semana, quando novas ofertas entram no site. (CM e PRF)