São Paulo – Os preços da gasolina e do diesel foram reajustados nas refinarias em 4% e 8%, respectivamente. Os novos valores, em vigor desde a 0h de hoje, foram anunciados no início da noite de ontem pela Petrobras, após um mês de forte pressão sobre o governo para reduzir a elevada defasagem de suas tabelas. O último reajuste de preços da gasolina foi em janeiro, de 6,6%. Para o diesel, trata-se do terceiro aumento, após 5,4% em janeiro e 5% em março. Como a Contribuição sobre Intervenção de Domínio Econômico (Cide) está zerada, os aumentos serão repassados ao consumidor.
A Petrobras não divulgou expectativa de qual será o impacto do reajuste nos postos. Mas analistas estimam que o aumento de 4% deverá ter impacto de 3% na bomba, caso da gasolina, e de 6%, do diesel. Os preços variam de cidade para cidade, conforme o frete pago e a distância da refinaria até os pontos de distribuição. Além disso, figura, em tese, a livre concorrência entre os postos, pois não há tabelamento.
Depois de seis horas de reunião iniciada por volta das 10h da manhã, o conselho de administração da companhia avaliou a proposta da diretoria executiva de uma metodologia de reajustes automáticos e periódicos dos combustíveis. O fato relevante divulgado no começo da noite informa que a implementação dessa nova política foi aprovada, mas “por razões comerciais, os parâmetros de precificação serão estritamente internos à companhia”. Com isso, seus detalhes seguem desconhecidos.
O comunicado argumentou que a metodologia visa assegurar que os níveis de endividamento da Petrobras retornem aos limites estabelecidos no Plano de Negócios 2013-2017 em até 24 meses, considerando o crescimento da produção de petróleo e a nova política de preços de combustíveis. Outro objetivo é alcançar, em prazo compatível, a convergência dos preços no Brasil com as referências internacionais, disse a Petrobras. A petroleira informou ainda que não quer “repassar a variação dos preços internacionais ao consumidor doméstico”. Mais cedo, nenhum dos membros do conselho comentou o resultado do encontro, realizado no escritório da estatal na Avenida Paulista, em São Paulo.
O impacto do aumento da gasolina divulgado ontem na inflação deve ficar em torno de 0,20 ponto percentual, de acordo com cálculos dos especialistas. Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, esperava 5% de aumento, “de forma a pegar metade este ano e metade ano que vem”. “Neste percentual, o impacto total no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2013 seria pequeno, de 0,2 a 0,3 ponto”, estimou. “A gasolina é o segundo maior peso do IPCA, 4,1%, perdendo só para refeição”, acrescentou André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. Ele acreditava num reajuste de até 8%.
Nos postos A personal trainer Daniele Neves já começa a sentir medo do peso do aumento no preço do combustível. Para ir trabalhar de carro ela gasta, por semana, cerca de R$ 130 e não sabe o que fazer para reduzir o gasto. “Ir de ônibus a gente não chega a tempo, de carro tá cada dia mais caro. Daqui há pouco vou pagar para trabahar”, lamenta. Em Minas Gerais, os revendedores já estimam como será o impacto para o consumidor.
De acordo com o revendedor do Posto Wilson Piazza, Carlos Piazza, se o aumento for repassado integralmente, a gasolina pode ficar até R$ 0,10 mais cara e o diesel R$ 0,17. “O aumento era esperado há muito. Há tempos não se via uma estabilidade tão grande no preço dos combustíveis”, explica Carlos que lembra que o último reajuste de preços da gasolina, 6,6%, foi em janeiro deste ano. Piazza comenta ainda que se os revendedores estiverem pensando em recuperar a margem de lucro os aumentos podem ser ainda maiores.
O consumidor Valdeci da Silva Fernandes conta que com esse reajuste vai repensar os gastos com o carro e deve passar a ir trabalhar de ônibus. “A gasolina daqui é uma das mais caras. Com esse aumento vai ficar quase impossível poder ir trabalhar de carro”, comenta. Antes da alta do combustível, Valdeci gastava, em média, R$ 150 por semana, já de ônibus ele gastaria cerca de R$ 50. “O jeito vai ser deixar o carro em casa e ir de ônibus. O problema é o trânsito, vou ter que sair de casa bem mais cedo”, afirma.
Valorização O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que preside o conselho da petroleira e maior opositor da fórmula proposta pela presidente da Petrobras, Graça Foster, também deixou a reunião sem falar com os jornalistas. Ele evitou fazer comentários até mesmo com os seus assessores mais próximos. Em paralelo ao clima de segredo da reunião, as ações da companhia dispararam ao longo do dia na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), diante da expectativa de anúncio de reajuste dos combustíveis.
As ações preferenciais (PN) da Petrobras terminaram o pregão em alta de 2,47%. As ordinárias (ON), por sua vez, subiram 3,33%. Durante a manhã, o ritmo de vendas dos papéis chegou a ser ainda mais positivo, acima dos 5%. O otimismo com a empresa mais valiosa do pregão embalou os negócios gerais, que fecharam com valorização de 1,23%.
Estrago no caixa da estatal
Brasília – A ingerência do governo nos preços da Petrobras ao longo nos últimos anos arrastou a maior empresa do país para um dos seus piores quadros financeiros, em seus 60 anos de atividade. Com ou sem a adoção de uma nova fórmula de reajustes automáticos dos combustíveis, proposta pela sua diretoria executiva para dar previsibilidade ao caixa, a estatal terá de encarar duros desafios em 2014, com receitas represadas e grandes obrigações de investimentos.
No terceiro trimestre, o percentual do endividamento da companhia em relação a seu patrimônio líquido atingiu 36%, estourando o limite de 35% fixado pelo próprio comando da empresa como aceitável. A situação gerada pelas perdas médias anuais de R$ 8 bilhões com a defasagem entre os preços da gasolina e do diesel vendidos pela petroleira no mercado interno em comparação com os que ela paga pelos volumes importados zerou a capitalização histórica de R$ 120 bilhões, em setembro de 2010.
De olho nessa deterioração, as agências norte-americanas de classificação de risco de crédito ameaçam rebaixar a nota da Petrobras. “A perspectiva é claramente insustentável. Com uma dívida líquida beirando US$ 90 bilhões, quase o seu valor de mercado, a empresa ainda tem um plano de investimentos agressivos para os próximos cinco anos enquanto compra insumos caros no exterior para vender barato no mercado doméstico”, resume Rafael Campos, sócio da gestora de capitais Mint.
Para ele, chegou a hora de o governo acabar com uma deficiência estrutural que pune todos os acionistas minoritários. “Ou o acionista controlador passa a respeitar os investidores para poder contar com o apoio desses ou evidencia que quer continuar usando a empresa como instrumento de controle da inflação e de política industrial. Essas duas posturas são claramente incompatíveis”, explicou. O embate entre a estatal e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, esconde problemas ainda maiores.
Para se ter uma ideia dos efeitos negativos em razão do congelamento das tabelas das refinarias ao longo dos últimos três anos, o déficit acumulado da petroleira no seu comércio exterior chegou a US$ 22,4 bilhões no período de janeiro a outubro. Esse montante recorde é 157% superior às perdas registradas em todo o ano passado. (SR)
Minas vai construir gasoduto
O governo de Minas vai bancar os investimentos de R$ 1,8 bilhão para a construção de um gasoduto de 457 quilômetros entre Belo Horizonte e Uberaba. O anúncio foi feito ontem pelo governador Antonio Anastasia, em Uberaba, no Triângulo Mineiro. O gasodutoa será construído em parceria entre a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) a Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig), Petrobras e Gaspetro. Depois de enfrentar a burocracia de órgãos públicos e do governo paulista para levar a tubulação até a divisa entre os estados, Anastasia surpreendeu e disse que irá fazer um gasoduto 100% mineiro. A obra é vista por ele como “a mais importante e estratégica do governo mineiro nos últimos anos”.
O prefeito de Uberaba, Paulo Piau (PMDB), comemorou e disse que atrás do gasoduto vem a fábrica de amônia e, com esses megaprojetos, vem um desenvolvimento sem precedentes para Uberaba e região. A fábrica era disputada com as cidades paulistas de Ribeirão Preto e São Carlos, mas a própria presidente Dilma Rousseff já havia manifestado que ela ficaria mesmo no Triângulo Mineiro. Segundo Anastasia, o gasoduto foi oficializado em acordo firmado esta semana na sede da Petrobras, no Rio de Janeiro. O governador contou que a única dificuldade para liberar o projeto foi mostrar que este seria o melhor trajeto, já que um parecer da ANP (Agência Nacional do Petróleo) previa os tubos partindo de São Paulo.