A partir de março, o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, na Grande BH, iniciará uma nova fase de seu desenvolvimento. Das mãos da burocrática Infraero, Confins vai ser operado pelos responsáveis por dois dos três melhores aeroportos da Europa em parceria com um gigante do setor de infraestrutura do Brasil. De olho no crescimento vertiginoso da indústria aérea nacional, o consórcio terá pela frente o desafio de retirar passageiros e carga de concorrentes para aumentar a receita do aeroporto mineiro. Em favor da disputa, o know-how de suíços e alemães ante os menos experientes franceses, sul-africanos e argentinos. Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, o diretor de Desenvolvimento de Negócios Internacionais da Flughafen Zürich AG (operadora do aeroporto de Zurique), Martin Fernandez, fala dos planos da empresa para Confins. Formada pela Prefeitura de Zurique (5%), o Estado de Zurique (33,3%) e iniciativa privada, a empresa reconhece as limitações atuais do aeroporto, no entanto, diz ser possível melhorar a prestação de serviços com adequações na configuração da infraestrutura enquanto as obras não são feitas. Mas mais que isso. Como a empresa tem 65 anos de experiência no setor aéreo, Fernandez procura aplicar o que chama de “swissness” (traduzido para a realidade brasileira, seria a brasilidade) na realidade da América Latina, onde opera outros nove aeroportos. O entrevistado corrobora a opinião do diretor do sócio brasileiro do consórcio, o grupo CCR, sobre a necessidade de ampliar as rotas internacionais em Confins, proporcionando assim maior receita. E diz: “A demanda por Confins já está lá”. Ou seja, a avaliação é que basta melhorar as condições da infraestrutura para que o aeroporto alce voos mais altos.
Por que a Flughafen Zürich AG decidiu participar do leilão dos aeroportos brasileiros?
Atualmente, a Flughafen Zürich AG está envolvida em 10 aeroportos no mundo. Em parceria com o Aeroporto Internacional de Bengaluru, na Índia, o operador do aeroporto está ativamente envolvido em nove aeroportos na América Latina, incluindo Bogotá, Curaçao, três chilenos e quatro hondurenhos. A estratégia da Flughafen Zürich AG está focada em fornecer a excelência da experiência dos 65 anos de operação de um best-in-class-aeroporto em colaboração com parceiros locais fortes. A indústria de tráfego aéreo brasileiro mostra taxas de crescimento impressionantes. Acreditamos firmemente que Belo Horizonte é um plus muito apropriado ao nosso portfólio, especialmente considerando seu tamanho atual e seu potencial na expansão da infraestrutura para se tornar um centro de transporte para o interior.
Os diretores da Flughafen Zürich AG visitaram Confins antes do leilão? O que viram que precisa ser mudado rapidamente?
Nós visitamos o local várias vezes e analisamos o ativo detalhadamente. Vimos uma equipe muito dedicada que se esforça para tirar o melhor proveito de uma infraestrutura limitada. Nós identificamos muitos ganhos rápidos que podem ser alcançados alterando os processos e a configuração da infraestrutura atual. Além disso, a expansão da infraestrutura do terminal vai criar uma nova experiência de passageiros com processos eficientes e grande oferta comercial.
Os cinco principais aeroportos do Brasil estão nas mãos da iniciativa privada, o que deve estimular a concorrência. O que pode ser feito para atrair mais passageiros e carga para Confins?
A demanda por Confins já está lá. O que temos que fazer agora é criar um ambiente atraente para os passageiros e para as companhias aéreas. Estamos convencidos de que Confins pode ser desenvolvido em um importante hub nacional com conexões internacionais atraentes no futuro. Isso também é apoiado pelo forte compromisso do Estado de Minas Gerais, que está fazendo um ótimo trabalho, criando um ambiente ideal para o desenvolvimento do aeroporto.
Que tipo de experiência pode ser adaptada do aeroporto de Zurique em Confins de forma a melhorar a experiência dos passageiros?
O aeroporto de Zurique tem se dedicado a “swissness”, que significa alto padrão de qualidade, processos eficientes de passageiros, pontualidade e confiabilidade, bem como uma excelente infraestrutura. O aeroporto de Zurique ganhou o “World Travel Award” nove vezes seguidas e recebeu numerosos reconhecimentos adicionais, por exemplo, para a entrega de bagagem mais rápida do mundo; a equipe mais simpática e excelência global. Temos 65 anos de experiência e empregamos especialistas altamente motivados. Todos estes fatores tornam-nos um parceiro ideal, e estamos ansiosos para compartilhar nossa experiência com nossos futuros colegas em Belo Horizonte.
O diretor da CCR, Leonardo Vianna, afirmou que os passageiros terão mais opções de voos internacionais em Confins. Hoje Confins tem somente voos diretos para Miami, Panamá, Lisboa e Buenos Aires. É possível dizer quais rotas podem ser criadas? E quantas?
É muito cedo para dar mais detalhes. O mix de destinos certamente é uma prioridade e vamos dedicar grande atenção a este aspecto.
Um estudo da empresa de consultoria Leigh Fisher mostra que o aeroporto de Zurique tem a sexta maior receita não tarifária. Em média, com a receita não tarifária, o gasto é maior que US$ 10, enquanto em Confins é US$ 3,40. O aumento do número de rotas internacionais é o principal fator para aumentar esse tipo de receita do aeroporto? O que mais pode ser feito?
O aumento da receita comercial certamente faz parte da nossa estratégia. No entanto, isso só funciona no enquadramento certo. Portanto, a qualidade do aeroporto tem em geral de ser melhorada para se ter um impacto na experiência do passageiro. Além do aumento de ligações nacionais e internacionais, existem várias outras áreas em que as receitas podem ser melhoradas, por exemplo, na movimentação de carga.
A experiência na operação de outros aeroportos na América Latina pode contribuir na operação de Confins?
Claro, isso é o que nos faz valiosos parceiros. Nós estamos presentes na América Latina desde 2001. A adaptação a diferentes mercados é um elemento-chave na nossa estratégia e estamos convencidos de que seremos bem-sucedidos em Confins também.