A presença delas não chega a ser uma novidade. Desde os anos 90, as construtoras se organizam para atuar como prestadoras de serviços públicos. Mas, nos últimos leilões federais de estradas e aeroportos - e tudo indica que ocorrerá o mesmo nos de ferrovias e portos -, elas estão mais agressivas do nunca. Reinam absolutas.
Segundo o economista Gesner Oliveira, a mudança é estrutural. Oliveira foi um dos coordenadores do livro Parcerias Público-Privadas - Experiências, Desafios e Propostas, que, apesar do nome, também contextualiza o impacto das privatizações e das concessões sobre a dinâmica da economia nacional. “Estamos saindo da era da infraestrutura como obra e transitando rumo à era da infraestrutura como serviço e boa operação”, diz ele.
Isso significa que empresas, antes interessadas em apenas fazer a infraestrutura, estão cada vez mais organizadas para operar o serviço público. “É um movimento positivo porque, nesse processo se adquire uma nova mentalidade: se você vai operar, você constrói da melhor maneira possível - mais barata, mais eficiente, mais rápida - e também se aproxima do cliente, se preocupa com a satisfação dele”, diz Oliveira. “É um grande avanço se lembramos que durante décadas vimos muita inauguração de obra que não rendeu bons serviços.”
Trabalhar com a prestação do serviço público inspirou, por exemplo, a criação, em 2010, da Odebrecht Transport, braço do grupo de mesmo nome voltado aos setores de rodovias, mobilidade urbana e logística. A empresa mostra que tem apetite. Venceu o leilão da BR-163, em Mato Grosso, com deságio de 52%, e levou a cobiçada concessão do Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, pagando R$ 19 bilhões, um ágio de 252%.
“Entendemos que podemos ir além da fase de construção”, diz Paulo Cesena, presidente da Odebrecht Transport. “O Brasil tem carência na qualidade de serviços públicos e a iniciativa privada, por natureza, tem agilidade e capacidade de inovação para contribuir.”
O peso da Odebrecht Transport nos negócios do grupo dá uma dimensão da reformulação em curso. A empresa tem hoje 17 ativos (já incluindo os dois arrematados nos últimos leilões). Seu faturamento hoje gira na casa dos R$ 2 bilhões. Não é uma quantia inexpressiva, mas equivale a meros 2% do resultado do grupo, que fatura R$ 100 bilhões.
Os investimento da Transport, porém, contando a nova estrada e o aeroporto, já correspondem a 18% de toda a carteira de investimentos do grupo Odebrecht nos próximos três anos.
Nova rota
Em parte, o crescente interesse por concessões tem relação com o paulatino desgaste do segmento de obras públicas. “De um tempo para cá, as empreiteiras tentam reduzir a dependência das obras públicas porque elas são alvos de tribunais de contas, de ministérios públicos e ainda sofrem com os órgãos ambientais”, diz Richard Dubois, sócio da consultoria PwC Brasil que atua na área de serviços públicos.
Os contratos de concessão também funcionam como uma espécie de proteção para as construtoras, explica José Antunes Sobrinho, um dos sócios da Engevix. “A construção civil é um negócio instável sensível ao desempenho da economia e à intenção do governo”, diz ele. “Com contratos de longo prazo, a receita é mais previsível.”
A Engevix nasceu como prestadora de projetos de engenharia em 1965. Em 2011, criou uma empresa para administrar concessões, a Infravix. A companhia tem participações nos aeroportos de Brasília, São Gonçalo do Amarante e na concessionária ViaBahia, dona de 680 quilômetros de rodovias. Hoje, entre 5% e 7% da receita total do grupo, de R$ 3 bilhões, vem de concessões.