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Estado de Minas

Brasileiro deve R$ 1,2 trilhão somente aos bancos

Endividamento das famílias com os bancos é o maior da história e pode comprometer o consumo e o crescimento do PIB. Valor é oito vezes superior ao total injetado pelo 13º


postado em 02/12/2013 06:00 / atualizado em 02/12/2013 07:34

Dívidas elevadas dos consumidores podem afetar desempenho das vendas do comércio no fim do ano (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 2013 5/11/13 )
Dívidas elevadas dos consumidores podem afetar desempenho das vendas do comércio no fim do ano (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 2013 5/11/13 )

Brasília
– Mesmo se usado integralmente para pagar as dívidas, o 13º salário não seria suficiente. Os brasileiros chegam ao fim de 2013 devendo – somente aos bancos – um total de pouco mais de R$ 1,2 trilhão, o maior saldo da história, segundo dados do Banco Central (BC). O montante equivale a oito vezes a quantia que será injetada na economia brasileira este ano com o benefício natalino, cuja primeira parcela caiu na conta dos trabalhadores na sexta-feira. Ceia, presentes e viagens poderão até ser mantidos, mas o aperto nunca foi tão grande.


A situação das finanças domésticas se complica porque, com base nos números do BC sobre as operações de crédito, os consumidores têm mergulhado justamente nas dívidas mais caras do mercado. O saldo devedor do cheque especial, por exemplo, é o maior já registrado, com crescimento acumulado de 20,9% no ano. As dívidas com o cartão de crédito na modalidade rotativa (6,2%) – quando se paga apenas o valor mínimo da fatura – cresceram em 2013, até aqui, mais do que os pagamentos à vista com cartão, em que não há incidência de juros (5,1%).


O ano não foi fácil para os brasileiros. A inflação foi persistente e bem acima do centro da meta do governo, de 4,5%. A cada ida ao supermercado, novo espanto diante dos aumentos, sempre minimizados pela equipe econômica. Não bastasse, a expectativa para o início de 2014 é de mais alta dos preços, além dos gastos extras do período, como pagamento de impostos e matrícula escolar. A escalada da taxa básica de juros – que na última semana chegou a 10% ao ano, voltando à casa dos dois dígitos – encarecerá o crédito e poderá acelerar o inchaço das dívidas.


A soma do que os brasileiros devem às instituições financeiras representa, hoje, mais de um quarto (25,8%) das riquezas produzidas no país em um ano, também a maior proporção já identificada pelo Banco Central. “Para diminuir o peso das dívidas, o consumidor foi obrigado a ficar mais seletivo e cuidadoso. Quem conseguiu limpar o nome não vai querer virar o ano no vermelho de novo”, acredita o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fabio Bentes.


Nos últimos anos, com a ausência de projetos estruturantes no país, o consumo das famílias foi o que garantiu o crescimento econômico. O aumento da renda e do nível de emprego da população fez o governo estimular a fartura do crédito e, consequentemente, uma corrida às compras. A euforia deu resultado. Mas, no entender de analistas, esse modelo de desenvolvimento – que acabou abafando a falta de projetos sólidos – se esgotou.

Impacto O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará amanhã o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre. Os números voltarão a mostrar que o consumo deixou de ser a principal mola propulsora da economia brasileira. O mercado aposta em retração do indicador em 0,3%. “O consumo se estagnou mesmo, chegou ao seu esgotamento. É algo que preocupa. Agora, ele terá de dar lugar à poupança”, comenta o ex-diretor do BC Carlos Eduardo de Freitas.
Com o poder de compra estrangulado pela inflação e pelas dívidas, muitos brasileiros que iniciaram o ano na lista de mau pagadores deram a volta por cima e dizem ter aprendido a lição. Decidiram neste fim de 2013 não só diminuir o consumo, e estão mais dispostos a poupar. “Parece que há, de fato, uma maior conscientização. Mas não basta. As famílias precisam de uma ‘faxina financeira’ e mudar hábitos”, pondera o educador financeiro Reinaldo Domingos.


O auxiliar de cozinha Sidney Araújo da Silva, 34 anos, passou vários Natais “comendo e se divertindo na casa dos outros”, como relembra. As dívidas com cartão de crédito e celular torravam o dinheiro da ceia. Desta vez, metade do 13º está reservado para garantir a festa da família, mesmo sem muita pompa. “Quem quiser esbanjar que esbanje. Eu vou cuidar das minhas contas para entrar em 2014 tranquilo”, afirma.

 

"Para diminuir o peso das dívidas, o consumidor  foi obrigado a ficar mais seletivo e cuidadoso.  Quem conseguiu limpar o nome não vai querer " virar o ano no vermelho de novo

 

Fábio Bentes, economista da CNC


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