Brasília – Apesar de todos os estímulos dados pelo governo, o Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre não reagiu e registrou queda de 0,5% ante os três meses imediatamente anteriores. O resultado, que provocou reação no Palácio do Planalto e elevou o tom das críticas da oposição, superou a média das projeções do mercado, de queda de 0,3%.
O recuo refletiu, sobretudo, a desconfiança do empresariado em relação à política econômica da presidente Dilma Rousseff, que tem sido leniente com a inflação, elege setores específicos para receber benefícios, intervém na condução dos juros pelo Banco Central, recorre a truques fiscais para mostrar uma saúde que as contas públicas não têm e congela tarifas públicas, criando uma sensação artificial de controle da carestia. Não à toa, os investimentos produtivos cederam 2,2%, a maior surpresa negativa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O que mais assusta o empresariado e os investidores é a possibilidade de o Brasil entrar novamente em recessão. A despeito de esse não ser o quadro principal, os economistas admitem uma nova retração do PIB no quarto trimestre do ano. Os dados preliminares da atividade dão consistência a essas previsões, que podem ser reforçadas caso o mesmo IBGE mostre, hoje, queda na produção industrial de outubro. As estimativas são de recuo de 0,6% ante setembro e de 1% frente ao mesmo mês de 2012.
"Infelizmente, o risco de haver uma recessão no país não é desprezível. A maioria dos indicadores antecedentes de atividade e as condições financeiras sinalizam contração na atividade nos últimos três meses do ano", disse Vagner Alves, economista da gestora de recursos Franklin Templeton. Mas não é só. "Também estamos vendo uma economia muito fraca no primeiro trimestre de 2014", acrescentou. Ele reduziu, de 2,4% para 2,2%, a projeção de crescimento para o PIB neste ano e acredita que o resultado de 2014 será inferior a 2%. Pelos cálculos do banco inglês Barclays, o avanço no próximo ano será de 1,9%.
MANTEGA OTIMISTA
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mantém o otimismo. Para ele, a economia brasileira está em uma trajetória de expansão gradual, que deve se manter nos próximos trimestres. "A recuperação talvez não esteja na velocidade de que gostaríamos", reconheceu. "Mas ainda é possível que o PIB avance 2,5% neste ano", emendou. Para ele, "houve uma concentração de crescimento no segundo trimestre (quando o PIB teve alta de 1,8%)", por isso, "o país teve dificuldade de crescer agora". "A base de comparação fica mais difícil após um bom resultado", justificou. Segundo o ministro, isso pode explicar o fato de o Brasil ter sido o país com o pior desempenho entre julho e setembro.
De 13 países listados pelo IBGE, o Brasil registrou o menor resultado no terceiro trimestre. Ficou atrás até da Espanha e de Portugal, economias cambaleantes, que avançaram, em relação ao segundo trimestre, 0,1% e 0,2%, respectivamente. No grupo dos Brics, que agrega os principais emergentes, o Brasil, com o salto de 2,2% ante o terceiro trimestre do ano passado, ficou superdistante da China, que cresceu 7,8%, e da Índia, com 4,8%. Superou, porém, a África do Sul, com incremento de 1,8% e a Rússia, com 1,2%.
Para o economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, qualquer que seja o parâmetro de comparação, os dados do PIB brasileiro são fracos. "Os números mostram que não conseguimos crescer, embora existam diversas medidas para estimular o consumo. Os resultados práticos das ações do governo são déficit recorde nas contas externas e mais inflação, consequências de um desequilíbrio macroeconômico de pouca produção para muito consumo", assinalou.
A indústria, que deveria estar em plena atividade para atender o consumo das famílias, com salto de 1% no terceiro trimestre frente ao segundo, ficou estagnada, com avanço de 0,1%. O mesmo ocorreu com o setor de serviços. Esse descasamento só reforça a incapacidade do país de ampliar a oferta de mercadorias e, assim, conter a inflação.
Segundo Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda e um dos conselheiros da presidente Dilma, o dólar barato por muito tempo acabou com a indústria de manufaturados. "Entre 2003 a 2007, a indústria brasileira teve superávit de US$ 160 bilhões. Desde então, com o real valorizado, o setor acumulou déficit de US$ 120 bilhões. Ou seja, o câmbio roubou da indústria nacional US$ 280 bilhões em demanda. Numa situação como essa, não há empresário que vá investir", frisou.
Alta de juros pode ser enterrada
Brasília – O fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, com queda de 0,5%, deve levar o governo a aumentar a pressão para que o Banco Central (BC) amenize ou até mesmo enterre de vez o ciclo de alta dos juros básicos da economia. Desde abril, a Selic já foi elevada seis vezes, saindo da mínima histórica de 7,25% ao ano para o nível atual, de 10%. Até então o plano de voo da autoridade monetária era seguir aumentando os juros para tentar frear o consumo das famílias e, com isso, trazer a inflação para o centro da meta de 4,5%, o que não ocorre desde 2009.
A pressão sobre o presidente do BC, Alexandre Tombini, deve centrar-se num dos principais problemas da economia brasileira: o baixo investimento. No terceiro trimestre do ano, a chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), taxa que mede o volume de recursos aplicados na ampliação da capacidade produtiva do país, despencou 2,2%. Foi o segundo pior desempenho para o conjunto de itens que compõem o PIB, ficando atrás, somente, da agropecuária, que encolheu 3,5% no período.
INVESTIMENTO CONGELADO
Especialistas dizem ainda ser cedo para avaliar se a alta de juros posta em prática desde abril pelo BC já produziu efeito nesses números, mas é certo que, daqui para frente, a escalada da Selic contribuirá cada vez mais para encarecer o investimento no país. Explicando: se os juros pagos pelo governo pelos títulos públicos – considerados uma referência para os demais empréstimos bancários – estão altos a tendência natural é de que empresários deixem seus recursos no banco, evitando o risco de aplicá-los em projetos de longo prazo, como a construção de uma fábrica, por exemplo.
O recuo refletiu, sobretudo, a desconfiança do empresariado em relação à política econômica da presidente Dilma Rousseff, que tem sido leniente com a inflação, elege setores específicos para receber benefícios, intervém na condução dos juros pelo Banco Central, recorre a truques fiscais para mostrar uma saúde que as contas públicas não têm e congela tarifas públicas, criando uma sensação artificial de controle da carestia. Não à toa, os investimentos produtivos cederam 2,2%, a maior surpresa negativa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O que mais assusta o empresariado e os investidores é a possibilidade de o Brasil entrar novamente em recessão. A despeito de esse não ser o quadro principal, os economistas admitem uma nova retração do PIB no quarto trimestre do ano. Os dados preliminares da atividade dão consistência a essas previsões, que podem ser reforçadas caso o mesmo IBGE mostre, hoje, queda na produção industrial de outubro. As estimativas são de recuo de 0,6% ante setembro e de 1% frente ao mesmo mês de 2012.
"Infelizmente, o risco de haver uma recessão no país não é desprezível. A maioria dos indicadores antecedentes de atividade e as condições financeiras sinalizam contração na atividade nos últimos três meses do ano", disse Vagner Alves, economista da gestora de recursos Franklin Templeton. Mas não é só. "Também estamos vendo uma economia muito fraca no primeiro trimestre de 2014", acrescentou. Ele reduziu, de 2,4% para 2,2%, a projeção de crescimento para o PIB neste ano e acredita que o resultado de 2014 será inferior a 2%. Pelos cálculos do banco inglês Barclays, o avanço no próximo ano será de 1,9%.
MANTEGA OTIMISTA
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mantém o otimismo. Para ele, a economia brasileira está em uma trajetória de expansão gradual, que deve se manter nos próximos trimestres. "A recuperação talvez não esteja na velocidade de que gostaríamos", reconheceu. "Mas ainda é possível que o PIB avance 2,5% neste ano", emendou. Para ele, "houve uma concentração de crescimento no segundo trimestre (quando o PIB teve alta de 1,8%)", por isso, "o país teve dificuldade de crescer agora". "A base de comparação fica mais difícil após um bom resultado", justificou. Segundo o ministro, isso pode explicar o fato de o Brasil ter sido o país com o pior desempenho entre julho e setembro.
De 13 países listados pelo IBGE, o Brasil registrou o menor resultado no terceiro trimestre. Ficou atrás até da Espanha e de Portugal, economias cambaleantes, que avançaram, em relação ao segundo trimestre, 0,1% e 0,2%, respectivamente. No grupo dos Brics, que agrega os principais emergentes, o Brasil, com o salto de 2,2% ante o terceiro trimestre do ano passado, ficou superdistante da China, que cresceu 7,8%, e da Índia, com 4,8%. Superou, porém, a África do Sul, com incremento de 1,8% e a Rússia, com 1,2%.
Para o economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, qualquer que seja o parâmetro de comparação, os dados do PIB brasileiro são fracos. "Os números mostram que não conseguimos crescer, embora existam diversas medidas para estimular o consumo. Os resultados práticos das ações do governo são déficit recorde nas contas externas e mais inflação, consequências de um desequilíbrio macroeconômico de pouca produção para muito consumo", assinalou.
A indústria, que deveria estar em plena atividade para atender o consumo das famílias, com salto de 1% no terceiro trimestre frente ao segundo, ficou estagnada, com avanço de 0,1%. O mesmo ocorreu com o setor de serviços. Esse descasamento só reforça a incapacidade do país de ampliar a oferta de mercadorias e, assim, conter a inflação.
Segundo Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda e um dos conselheiros da presidente Dilma, o dólar barato por muito tempo acabou com a indústria de manufaturados. "Entre 2003 a 2007, a indústria brasileira teve superávit de US$ 160 bilhões. Desde então, com o real valorizado, o setor acumulou déficit de US$ 120 bilhões. Ou seja, o câmbio roubou da indústria nacional US$ 280 bilhões em demanda. Numa situação como essa, não há empresário que vá investir", frisou.
Alta de juros pode ser enterrada
Brasília – O fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, com queda de 0,5%, deve levar o governo a aumentar a pressão para que o Banco Central (BC) amenize ou até mesmo enterre de vez o ciclo de alta dos juros básicos da economia. Desde abril, a Selic já foi elevada seis vezes, saindo da mínima histórica de 7,25% ao ano para o nível atual, de 10%. Até então o plano de voo da autoridade monetária era seguir aumentando os juros para tentar frear o consumo das famílias e, com isso, trazer a inflação para o centro da meta de 4,5%, o que não ocorre desde 2009.
A pressão sobre o presidente do BC, Alexandre Tombini, deve centrar-se num dos principais problemas da economia brasileira: o baixo investimento. No terceiro trimestre do ano, a chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), taxa que mede o volume de recursos aplicados na ampliação da capacidade produtiva do país, despencou 2,2%. Foi o segundo pior desempenho para o conjunto de itens que compõem o PIB, ficando atrás, somente, da agropecuária, que encolheu 3,5% no período.
INVESTIMENTO CONGELADO
Especialistas dizem ainda ser cedo para avaliar se a alta de juros posta em prática desde abril pelo BC já produziu efeito nesses números, mas é certo que, daqui para frente, a escalada da Selic contribuirá cada vez mais para encarecer o investimento no país. Explicando: se os juros pagos pelo governo pelos títulos públicos – considerados uma referência para os demais empréstimos bancários – estão altos a tendência natural é de que empresários deixem seus recursos no banco, evitando o risco de aplicá-los em projetos de longo prazo, como a construção de uma fábrica, por exemplo.