Quando o assunto é dinheiro e contas, pode-se dizer que a maioria dos brasileiros vive com a corda no pescoço. É o que mostra a pesquisa de site especializado em controle e gestão financeira de pessoa física, que traçou o perfil de 25 mil brasileiros, sendo 2.252 mineiros. O estudo revela que 56% dos consumidores em Minas vivem em apuros, ou seja, gastam mais do que ganham e aumentam as dívidas a cada dia mais. Outros 32% vivem no limite, quando não gastam mais do que ganham, mas precisam recorrer a empréstimos pessoais rápidos para dar conta de pagar as despesas do mês. No Brasil, os números não são muito diferentes: 54% dos brasileiros vivem em apuros e 34% no limite.
De acordo com o planejador financeiro do GuiaBolso.com, Luiz Krempel, os dados são preocupantes, uma vez que, somando os dois perfis, o número de pessoas que não têm nenhuma reserva financeira chega a 88%. “Eles têm alto comprometimento da renda, gastam mais do ganham e do que podem e ficam sem reserva para emergências, tendo que recorrer sempre a empréstimos com juros altos, o que pode virar uma bola de neve em pouco tempo”, explica. Ainda de acordo com o especialista, viver em uma era incentivadora do consumo contribui para que os brasileiros fiquem mais endividados e com a renda mais comprometida. “Infelizmente, a maioria prorroga o problema financeiro como se fosse uma aventura qualquer. Com finanças não podemos brincar, tudo tem que ser levado a sério e as contas têm de estar na ponta do lápis”, comenta.
A pesquisa revela ainda que, em Minas, 88% dos consumidores vivem sem reserva e para 68% deles falta dinheiro no final do mês. Para mudar a situação dos mineiros, Krempel recomenda o já tão almejado planejamento financeiro, para que aprendam a gastar menos do que ganham. “O consumidor tem que entender que o máximo que ele pode comprometer do seu salário é 30% com parcelas fixas e despesas essenciais”, explica.
O administrador Douglas Gomes Reis, de 29 anos, é um dos mineiros que há seis meses se encaixava no perfil “no limite”. Gastava toda a renda que ganhava e sempre precisava recorrer a empréstimos, como cheque especial, para quitar as contas do mês. Para mudar sua realidade, o administrador recorreu ao planejamento financeiro, identificou os gastos considerados supérfluos e começou a fazer os cortes. “Não conseguia guardar R$ 1 no fim do mês, gastava com baladas. Hoje já consigo economizar R$ 200”, afirma. Além da economia no fim do mês, Douglas substituiu os gastos supérfluos, empregando o dinheiro em prestações consideradas por ele um investimento, como o consórcio do carro, com parcela de R$ 600. “Sei que ainda não é o suficiente, já que meus gastos fixos ultrapassam 50% do meu salário, quando o recomendado é 30%”, lembra.
Especialistas acreditam que o maior fator que influencia tal comportamento é o aumento da renda do brasileiros aliado à oferta mais fácil de crédito. Financiamentos de carro, casas e compras parceladas em até 12 vezes sem juros enganam consumidores que não fazem o planejamento a longo prazo. “Acumular prestações sem observar como ficará o orçamento daqui a três ou quatro meses, ou no caso de perder o emprego, é o erro mais comum para cair na armadilha”, acrescenta Krempel.
SEM DÍVIDAS A parcela de consumidores que consegue economizar e fazer uma reserva no fim do mês é muito pequena, apenas 12%. Desses, 9% são identificados como poupadores e apenas 3% são tidos como investidores. O funcionário público Eduardo Ambrósio da Silva tenta chegar a esse patamar. Há um ano, ele ganhava aproximadamente R$ 3,6 mil e gastava R$ 4 mil mensais. Com planejamento financeiro, hoje ele gasta menos de R$ 3 mil e economiza para fazer uma viagem à Europa. “E não sabia como era importante ter um planejamento e anotar todos os gastos. Hoje vejo o quanto gastava com coisas de que não precisava”, lembra.
Educadores financeiros explicam que o número de poupadores e investidores é muito pequeno na comparação com os que vivem em apuros e no limite. “Esse número precisa crescer. Se houver uma emergência, em que o consumidor tenha um gasto extra com doença ou algum contratempo, somente 12% têm chances de sair sem dívidas no final”, comenta.