Crédito mais caro, volta da inflação no varejo e a perda de vigor da massa salarial devem limitar o crescimento das vendas do Natal deste ano em 5%, segundo as projeções da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Com isso, a expansão do volume de vendas esperada para este Natal será a menor desde 2004, quando o crescimento foi de 4,3%, observou o economista da CNC, Fábio Bentes, responsável pela projeção.
Do lado do consumidor, as expectativas para a melhor data para o varejo realmente não são animadoras. Se depender dele, os gastos com presentes neste final de 2013 serão menores que em anos anteriores e chegarão ao pior nível desde 2008, ano do início da crise financeira global.
Além disso, com o crédito contido e mais caro, os produtos de maior valor, como eletroeletrônicos, perdem espaço para roupas e calçados, que custam menos, segundo estimativa da Fundação Getulio Vargas (FGV) com base em dados da Sondagem do Consumidor de novembro.
O levantamento, obtido com exclusividade pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, revela que o ânimo do consumidor para compras no Natal caiu 3,9% em relação a 2012, para 78 pontos. “O indicador mostra desaceleração do consumo nesse período natalino”, analisou a coordenadora da pesquisa, a economista Viviane Seda.
Segundo a pesquisa da FGV, 34,2% dos consumidores pretendem gastar menos do que no ano passado. Essa fatia é um pouco menor do que os 35,9% observados em 2012. Mas o resultado, que poderia ser interpretado como um sinal positivo, é pequeno perto do recuo mais intenso na parcela dos que pretendem gastar mais. Em 2012, eles eram 17,2% dos consumidores. Neste ano, eles são 12 2%.
Uma das evidências de que o consumo anda perdendo vigor até mesmo no período natalino é que um número muito maior de itens teve seus preços reduzidos após a Black Friday deste ano em relação ao mesmo evento do ano passado.
Na quinta-feira, 12, depois de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar o resultado da Pesquisa Mensal de Comércio de outubro, com crescimento do volume de vendas de 0,2% na comparação com setembro, a CNC decidiu manter a projeção de outubro de aumento do volume de vendas de 5% para este Natal.
Inflação
De acordo com Bentes, a estimativa do Natal, que começou em 4,5% em agosto, foi elevada para 4,8% em setembro e chegou a 5% em outubro, por causa do arrefecimento da inflação no varejo. Mas desde outubro essa estimativa não foi alterada e continua mantida em 5% porque já há sinais de avanço da inflação no varejo.
“Os preços começaram a subir”, observou Bentes. Em outubro, por exemplo, o deflator implícito da PMC, que é uma espécie de indicador da inflação dos produtos comercializados no varejo, subiu 0,6%. Foi a maior alta registrada pelo indicador desde março (0,7%), quando a inflação estava acelerada.
Na análise de Bentes, a aceleração da inflação no último trimestre deste ano, já sinalizada pelos índices que medem a variação dos preços no varejo dos produtos, é o principal fator que deve atrapalhar o Natal. Ele atribui essa pressão ao impacto defasado da alta do dólar, ocorrida no primeiro semestre deste ano e que está aparecendo agora nos preços dos produtos no varejo.
IPI e juros
Além da pressão inflacionária, o economista da CNC ressaltou o impacto negativo nas vendas deste final de ano em razão da volta gradual do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de geladeira, fogão, lavadora e carro popular em relação a dezembro do ano passado.
O imposto maior cobrado sobre esses itens encareceu esses produtos. “O IPI não é mais o mesmo”, lembrou o economista. Também os juros mais altos nas linhas de crédito ao consumidor funcionam como um breque nas vendas.
O último fator apontado pelo economista que deve tirar o brilho deste Natal é a perda de vigor da massa salarial. Em outubro, a massa salarial cresceu 1,4% em relação ao mesmo mês de 2012, descontada a inflação. Esse foi o pior resultado em dois anos.
Produtos
Diante desse cenário, os bens duráveis e dependentes do crédito perdem espaço neste Natal. Os eletroeletrônicos são a opção de 5 4% dos consumidores, enquanto os eletrodomésticos aparecem como escolha de 0,5%, segundo a FGV. Em 2012, esses porcentuais eram de 7,5% e 0,6%, respectivamente. “Esses itens estão com preço maior e dependem de prazo e de crédito, que não são favoráveis neste momento”, disse Viviane, da FGV.