Escaldado do consumo excessivo dos últimos anos que levou à escalada da inadimplência, o brasileiro está mais cauteloso neste fim de ano. Pela primeira vez o principal destino da segunda parcela do 13.º salário neste ano será a poupança, revela pesquisa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) em parceria com o Instituto Ipsos.
Desde 2009, quando a pesquisa começou a ser realizada pela associação, é a primeira vez que a caderneta de poupança é o principal destino da segunda parcela do 13.º salário.
Em anos anteriores, o gasto com presentes liderou o ranking do destino da segunda parcela do 13.º. Em alguns anos, como em 2010 e 2012, o gasto com presentes dividiu o pódio com o pagamento de dívidas.
"Esse resultado nos surpreendeu", diz o economista da associação Emílio Alfieri. Ele diz que há muitas incertezas em relação à economia em 2014, e isso pode ter afetado a confiança do consumidor e ampliado a cautela. "Se essa intenção se confirmar, a caderneta de poupança poderá bater novo recorde de captação. Em novembro, isso já ocorreu."
Se o resultado da intenção de gasto da segunda parcela do 13.º salário for combinado com a pesquisa do destino da primeira parcela, sobrarão poucos recursos para consumo neste fim de ano, reafirmando as projeções de várias entidades ligadas ao comércio varejista de que este será um Natal moderado.
Na enquete feita na última semana de outubro, também pela ACSP em parceria com o Instituto Ipsos, 24,5% dos entrevistados indicaram que o principal uso da primeira parcela do 13.º salário seria o pagamento de dívidas, seguido pela poupança (20 4%) e pelas compras de presentes (18,4%).
No caso da primeira pesquisa, Alfieri diz que o resultado reflete o movimento de antecipação de renegociação de dívidas, iniciado no primeiro semestre, para que a segunda parcela fosse destinada ao consumo. Mas não foi isso que a pesquisa mostrou em relação ao uso da segunda parcela do 13.º.
Apesar de a cautela do consumidor representar um breque no consumo no melhor período de vendas para o varejo, Alfieri vê um lado bom nesse resultado. Com esse "colchão" de recursos poupados, o cenário para o varejo em 2014 poderá ser mais positivo e com menor risco de calote nas vendas a prazo. "Se o consumidor tiver o equivalente a uma ou duas prestações guardadas, o risco de inadimplência diminui", diz o economista da associação.