Após o acordo de facilitação de comércio negociado em Bali, a Organização Mundial do Comércio (OMC) traçará um mapa que permita prosseguir com a Rodada Doha. Segundo o diretor-geral do órgão, Roberto Azevêdo, a ideia é usar a experiência adquirida em Bali e se debruçar sobre o assunto até o fim de 2014. “Vamos trocar ideias em Genebra sobre por que Bali deu certo e o que nos levou ao fracasso nos momentos anteriores. Estaremos prontos para ser criativos, para ter a mentalidade aberta e ter a flexibilidade necessária e traçar um mapa factível”, disse.
O diretor-geral declarou que o núcleo central das discussões de Doha será o tripé – agricultura, bens industriais e serviços. Portanto, estará na mesa o tema dos subsídios agrícolas concedidos pela União Europeia. “Dificilmente você vai conseguir avançar em negociações em um desses três pilares sem que os outros dois estejam sobre a mesa igualmente. Na medida em que se fala em avançar na Rodada Doha, está se falando em avançar em agricultura junto com outras áreas de negociação”, disse.
Azevêdo também voltou a destacar o caráter histórico do pacote de Bali. “Há quase 20 anos não concluímos nenhum acordo multilateral. Chegamos perto várias vezes, mas sempre falhamos no minuto final. Alguns analistas tendem a dizer que o acordo foi pequeno, foi fácil. Na verdade, não foi pequeno e nem fácil. A importância econômica, segundo estimativa de economistas, é que eleve os possíveis ganhos a mais de centenas de bilhões de dólares por ano e até a um trilhão”, disse. O diretor da OMC explicou que, atualmente, está sendo preparada a implementação do acordo. “Estamos negociando como entrará em vigor a legalização e a implementação”.
Roberto Azevêdo comentou ainda o anúncio do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) de retirada gradual dos estímulos à economia norte-americana. Segundo ele, até o momento, está mantida a projeção da OMC de crescimento de 4,5% do comércio mundial para o ano que vem, mas que o número pode vir a ser revisto. “Ainda é um crescimento anêmico comparado a taxas históricas, que costumavam ser 6%. Desde 2008 [o crescimento] tem sido inferior”, disse.
Azevêdo deu as declarações em coletiva de imprensa na Confederação Nacional da Indústria (CNI), após reunir-se com o presidente da entidade, Robson Andrade. Foi o primeiro encontro do diretor-geral com o setor privado desde Bali. Ele disse ainda que a indústria brasileira teve papel importante nas negociações e que continuará em contato com a CNI a respeito de Doha.