No INSS, mesmo quando não há fila há drama, revolta e espera, muita espera. Enquanto a senha que a pessoa tem em mãos não pisca no painel e traz um pouco de alívio, uns cochilam, outros tomam o café da manhã atrasado. “Se você ficar aqui um minuto e for só um pouco emotivo, vai chorar”, avisa à reportagem Antônio de Pádua Melo, de 59 anos, um funcionário da Caixa Econômica que sofre de câncer de próstata, sem perder o senso crítico e, acima de tudo, o bom humor e a vontade de viver.
Sentado próximo ao balcão de atendimento, ele analisava, em voz alta, as repetidas cenas a que assistia. “Você está vendo alguém desejar bom-dia? Não tem nada disso. Eles devem pensar: ‘Lá vem mais um velho que não sabe de nada, um babaca, um otário para atrapalhar meu dia’”, disparava, aguardando a vez de ser chamado para a perícia médica. “É assim: eles, servidores públicos, fazem de conta que nos servem. A gente faz de conta que está tudo bem. E a vida segue”, resumiu o segurado.
No silêncio rompido apenas pelo apitar das senhas, milhares de brasileiros, em todo o país, alimentam diariamente a frustração de perceber a incapacidade do Estado em atendê-los, muitas vezes nos momentos mais difíceis da vida. “Não dá para culpar somente os funcionários. O que temos aqui é a ponta do iceberg, resultado de um sistema corrupto, de uma máquina administrativa completamente inoperante”, ponderou o bancário Alex Pereira, de 58, que há dois anos tenta resolver uma pendência com o INSS.
Se na resolução dos problemas faltam agilidade e eficiência, no quesito segurança o INSS é implacável. No posto, em Brasília, quatro guardas armados monitoram com rigidez o acesso de idosos e deficientes, em sua maioria. “É o Estado opressor que quer inibir logo de cara. Estou achando é graça”, comenta o aposentado Walter Ribeiro, de 68, cujo contador descobriu um débito de 2011, do qual ele pretende se livrar. Pegou senha, esperou e ouviu que estava no lugar errado. “Pediram para eu ligar, agendar e voltar em dois meses.”
A falta de rigor na transmissão da informação é o que mais intriga Reinaldo Freire da Silva, de 39, o deficiente que, recém-operado, teve de peregrinar por três postos do INSS e, em cada um, recebeu uma orientação diferente. “Se soubesse que seria assim, tinha ficado me recuperando, como o médico mandou.” Ele vai confiar na última informação oficial e retornar ao INSS em maio do ano que vem. “Imposto a gente tem que pagar no dia, sem atrasar um segundo. Mas na hora de receber o benefício é assim, uma enrolação só. Fazer o quê?”, comenta o segurado.