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Estado de Minas

Executivos e empresas apostam cada vez mais em projetos que viabilizam bem-estar social

Nova classe média também tem atenção especial de bem-sucedidos que estendem as mãos a comunidade pobres


postado em 25/12/2013 06:00 / atualizado em 25/12/2013 08:21

Diretor do Sitawi-Finanças do Bem, Leonardo Letelier é um dos pioneiros de um movimento que inspira cada vez mais executivos no país(foto: Valéria Abrahao/Sitawi/Divulgação)
Diretor do Sitawi-Finanças do Bem, Leonardo Letelier é um dos pioneiros de um movimento que inspira cada vez mais executivos no país (foto: Valéria Abrahao/Sitawi/Divulgação)

O que leva graduados e bem-sucedidos executivos de finanças a mudar radicalmente as suas carreiras em multinacionais e a estender a mão a organizações não governamentais (ONGs) e micro e pequenas empresas, a maioria delas em comunidades pobres do Brasil? Certamente, não é o salário nem o prestígio. À frente dos chamados negócios sociais, buscam sentido mais amplo e verdadeiro para suas trajetórias. E num país onde as maiores instituições bancárias estão entre as mais lucrativas do planeta, também viabilizam financiamento barato sustentado por doações de brasileiros e estrangeiros.

Pioneiro e mais famoso dessa turma, Leonardo Letelier, de 39 anos, decidiu usar a sua experiência corporativa para fazer "algo transformador". Em 2007, depois de oito anos como consultor da McKinsey, fundou no Rio de Janeiro a Sitawi — Finanças do Bem, um fundo sem fins lucrativos que empresta dinheiro sem burocracia e com juros de até a taxa básica, hoje em 10% anuais. O nome exótico, que quer dizer "desenvolver e florescer" em swahili, língua dos nativos do Monte Kilimanjaro, na Tanzânia, que o executivo escalou em 2002, lhe soou como a síntese do empreendedorismo solidário.

Ao se sentir incompleto no meio corporativo, ele resolveu trazer para o presente o projeto pessoal que tocaria depois da aposentadoria, para se sentir realizado e feliz com o que faz, ajudando pessoas. A ideia do empréstimo social partiu da constatação de que são doados todo ano R$ 10 bilhões para as cerca de 300 mil ONGs do país, uma média de R$ 33 mil para cada. Como esses valores não garantem todas as ações do setor social e os bancos tradicionais têm dificuldade de emprestar a essa clientela, Letelier assumiu a missão de trazer dinheiro para viabilizar projetos de alto impacto, alijados do crédito tradicional.

Com empréstimos de R$ 50 mil a R$ 200 mil para pequenos empreendimentos, como escolas de samba e feiras livres, e prazos de resgate entre três meses e três anos, sua iniciativa já fez 12 contratos que somam R$ 3 milhões, para 15 organizações de seis estados. A maioria dos casos (80%) não tem fim lucrativo e a inadimplência é mínima. Como organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), a Sitawi presta contas ao Ministério da Justiça. O escritório do Rio tem estrutura enxuta, que inclui analistas terceirizados.

"Damos também orientação gerencial, sem nos intrometer na decisão que o cliente dá ao seu negócio", explica Letelier. O engenheiro formado pela Universidade de São Paulo (USP) já acumula prêmios de reconhecimento no país e exterior em razão do fundo, que tem entre os doadores a gigante da informática IBM e o ex-presidente do Banco Central (BC) Armínio Fraga. O critério para emprestar é o do impacto social, a capacidade de pagar e de gerir o negócio e, sobretudo, a ética. Entre os casos apoiados está a conversão de uma carreta em hospital móvel e a reforma de um restaurante popular.

AÇÃO COMUNITÁRIA Para David Ivan Fleischer, representante no país da Inter-American Foundation (IAF), dos Estados Unidos, as grandes empresas também têm importante papel na promoção de empreendedorismo social. Com o crescimento do investimento social privado, vinculado a iniciativas de responsabilidade social, elas passaram a contribuir com mais recursos para pequenos projetos comunitários, que projetam empreendedores sociais. "Se comparados a países desenvolvidos, os investimentos privados na área social no Brasil ainda são tímidos, mas elevados em relação ao resto da América Latina", conta.

Na sua avaliação, um dos problemas enfrentados pelo setor é a falta de incentivos fiscais atraentes para o setor privado investir na área social. A IAF apoia projetos em toda a América Latina voltados para fortalecer a sociedade civil e melhorar a qualidade de vida de comunidades menos favorecidas. No Brasil, a fundação apoia 30 projetos em 16 estados, com alvos variados, desde quilombolas e indígenas a educação de jovens e de agricultores.

Carlos Alberto dos Santos, diretor técnico do Sebrae Nacional, acrescenta que os negócios sociais, muitas vezes confundidos com ações sociais, também têm a seu favor a relação com as chamadas novas classes médias, maior fonte de riqueza do mundo atual. "O desafio de empreender na base e no meio da pirâmide social não é só o de lidar com a maior parcela da população, mas de se criarem novos modelos sustentáveis ambiental e economicamente", detalha.

INCLUSÃO A construção de um mercado de consumo para todos, salienta o executivo, está limitada à disponibilidade dos recursos naturais e de preços acessíveis. Mas esse esforço também passa pela inclusão empresarial, produtiva e financeira. É com essa percepção que a Be-Linked, consultoria com origem na França e uma das únicas no mundo 100% dedicadas às relações estratégicas entre organizações sociais e empresas, aposta tudo na força dos microempreendedores.

Seu presidente, o francês Jerome Auriac, diz que as grandes empresas devem, sim, financiar o desenvolvimento de projetos externos de alcance social, como forma de integrá-los à sua própria cadeia produtiva e de criação de valor. "Elas têm o capital para investir nas ideias e nos projetos maduros e podem recolher benefícios na forma de conhecimento, marketing e novas linhas de distribuição", lembra. Entre os casos vitoriosos, cita os de conglomerados nos ramos de alimentação, energia e saúde.

ONG ou Oscip?

É fácil confundir uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) como uma organização não-governamental (ONG). A primeira é uma instituição em si, qualificada pela Lei 9.790, de 1999. A sigla ONG serve para designar entidades civis sem fins lucrativos que atuam no chamado terceiro setor. Presentes em várias áreas, como meio ambiente e reciclagem, os serviços das ONGs atuam em situações onde o Estado é pouco presente e podem trabalhar em parceria com governos, sendo mantidas por diversas fontes de recursos. As Oscips, por sua vez, são entidades privadas dedicadas a áreas típicas do setor público, que suportem atividades sem retorno econômico, com patrocínio de diferentes fontes, como doações de empresas e repasses do governo. ONGs já constituídas podem optar por obter a qualificação de Oscips, atendendo pré-requisitos legais e ressaltando sua função social.


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