Belo Horizonte ocupa a liderança de um ranking desagradável: a cidade acumula a inflação mais alta na era do real entre as 11 capitais pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Aqui, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 342,96% entre 1º de julho de 1994, quando a atual moeda começou a circular, e 30 de novembro de 2013, data do fechamento do último balanço. O indicador é 15,9% maior do que o registrado em Fortaleza (295,82%), cidade que ocupa a última posição no estudo. A média nacional é de 341% e no acumulado no período BH aparece à frente de Belém (342,38%) e do Rio de Janeiro (338,95%). No acumulado deste ano, a alta de preços na capital mineira é de 4,92%. No Brasil, 4,95%.
“Houve essa preocupação maior (da União, com o controle do preço da gasolina), porque a inflação já estava pressionando (fugindo do centro da meta). Houve os incentivos na redução dos juros, mas, como viram que a inflação não estava arrefecendo, voltaram a subir a taxa. O adiamento do preço da gasolina foi para tentar evitar um impacto ainda maior na inflação”, disse Thaize Martins, economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG).
A decisão do governo em postergar o aumento da gasolina freou o avanço do IPCA, porém, prejudicou o caixa da Petrobras, pois a estatal precisa importar, portanto paga em dólar, parte dos combustíveis consumidos no país. Em agosto, quando a moeda norte-americana bateu em R$ 2,40, o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) estimou prejuízo mensal de R$ 700 milhões para a companhia em razão da defasagem dos preços dos combustíveis – o diesel também ficou mais caro (8%) nas refinarias em novembro.
Quem ganha a vida no trânsito sente mais a inflação dos combustíveis. É o caso do taxista Fernando Kneipp, de 46 anos e cujas corridas diárias consomem, em média, meio tanque. “Rodo e gasto cerca de 20 litros. Não é uma conta barata”, lamenta o chofer, que considera o preço da gasolina exorbitante na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ele sugere a redução do valor via corte da carga tributária sobre o combustível.
“Sou taxista há duas décadas. No início, o custo com a gasolina correspondia a 12% do meu faturamento. Atualmente, gasto em torno de 30%. Algo precisa ser feito, porque os combustíveis são caros no Brasil. Quem sabe se o governo diminuir os impostos…” Apenas a título de esclarecimento, a carga tributária corresponde a 53% do preço médio da gasolina vendida nas bombas de Belo Horizonte.
Pela boca A evolução do preço das carnes na era do real (392%) também afetou o bolso dos moradores da capital, mas isso não impediu o comerciante Valny Cortês, de 55, de comprar um leitão assado para degustar com a família na noite de Natal. Ele trabalha num açougue na Avenida dos Andradas, no Centro da cidade, e acompanha o preço das carnes de boi, porco e frango, além da de pescado, diariamente. “O valor dos cortes bovinos e suínos subiu nos últimos dois meses. Quando isso ocorre, há um aumento nas vendas de frango e pescado.” O grande vilão, no entanto, foram exatamente os pescados, com alta acumulada de 564,4% em quase duas décadas.
Outro item que disparou na capital mineira na era do real foi a alimentação fora do domicílio. Desde julho de 1994 esse conjunto acumula alta de 443,4%. O IBGE não discriminou, nesse caso, qual produto serviu como elevador do item. Nos últimos dois anos, porém, o tomate foi eleito o “vilão” da inflação. O quilo do hortifrutigranjeiro chegou a ser negociado a R$ 9 em alguns sacolões de Belo Horizonte em 2012. Uma das justificativas foi a ocorrência de problemas climáticos em São Paulo, grande mercado consumidor.
Como os preços lá ficaram mais atrativos para o produtor, muitos fazendeiros mineiros venderam suas mercadorias para o estado vizinho, reduzindo a quantidade de tomate nos estabelecimentos em Minas e, consequentemente, forçando o aumento dos preços. No primeiro semestre de 2013, porém, com a safra estadual em alta e a recuperação do mercado em São Paulo, os preços despencaram em Minas. Houve fazendeiros que nem sequer colheram o fruto, preferindo vê-lo apodrecer na plantação, o que levou a nova pressão de preços do produto, que apenas em outubro registraram aumento de 18,65%.