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Estado de Minas 30 ANOS

EM mostra trajetória do aeroporto de Confins e perspectivas para o futuro com iniciativa privada

Inaugurado há três décadas, quando foi tachado de 'elefante branco', o aeroporto entra em nova fase com a iniciativa privada, como mostra série de reportagens do EM


postado em 02/01/2014 06:00 / atualizado em 02/01/2014 12:49

Antes mesmo de entrar em operação , desde julho de 1982 a pista de Confins já recebia aviões que eram desviados do aeroporto da Pampulha(foto: Arquivo EM)
Antes mesmo de entrar em operação , desde julho de 1982 a pista de Confins já recebia aviões que eram desviados do aeroporto da Pampulha (foto: Arquivo EM)

2 de janeiro de 1984 – Às 4h,um Boeing da Transbrasil, procedente do Rio de Janeiro e carregado de malotes dos Correios, taxiava pela pista do aeroporto de Confins e marcava a inauguração do terceiro maior aeroporto do país. Sem formalidades e a presença de políticos, em muito devido à obra estar inacabada e o terminal, em construção, com capacidade para receber somente metade dos 5 milhões de passageiros anuais previstos, era dado o pontapé inicial na operação do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, no longíquo distrito de Confins, em Lagoa Santa. Iniciava-se ali o sonho dos mineiros de aproximar sua capital do resto do mundo. No dia que marca o aniversário de 30 anos do primeiro voo oficial, o Estado de Minas inicia a publicação de uma série de reportagens sobre a história e o futuro do aeroporto, que, a partir de março, será operado pela iniciativa privada e finalmente o sonho de voos maiores pode ser concretizado.


A construção de um segundo aeroporto para voos comerciais na Grande BH visava resolver a saturação do terminal da Pampulha, que, em 1980, já recebia 500 mil passageiros acima da capacidade operacional. E o pior: o aeroporto vez ou outra sofria com as inundações. Inclusive, a antecipação em oito meses da inauguração de Confins, com a obra inacabada, se deveu à proximidade do período de chuvas e alagamentos em Belo Horizonte. Tanto é que nem mesmo o restaurante estava pronto no dia, o que obrigou os visitantes a se contentar com os desde sempre “salgados” lanches. “No anacrônico aeroporto da Pampulha, onde passageiros e cargas se moviam a lentidão própria de tempos menos apressados do que os nossos”, dizia trecho da edição do EM no dia da inauguração de Confins.

(foto: Clique para ampliar)
(foto: Clique para ampliar)
No mesmo dia, o primeiro voo regular de passageiros iria pousar por volta das 6h50, vindo também do Rio de Janeiro. O Boeing 737 da extinta Vasp desceria em Minas para minutos depois seguir para Brasília, Goiânia e Cuiabá. No terminal, além de passageiros e trabalhadores, centenas de curiosos aguardavam o início das operações.

A definição, no entanto, sobre a localização do novo aeroporto teve início uma década antes. O distrito de Lagoa Santa era uma opção por estar localizado em área pouco urbanizada, onde 2 mil pessoas residiam, diferentemente do terreno escolhido para abrigar Congonhas, em São Paulo, onde os edifícios vizinhos dificultavam a operação. Por outro lado, a região era reconhecida por abrigar lagoas e grutas de onde o paleontólogo Peter Lund e sua equipe retiraram ossadas pré-históricas que explicam as origens do Homo Sapiens  na América do Sul. Até o poeta Carlos Drummond de Andrade, em coluna no Estado de Minas, publicou texto em defesa do legado de Confins: “Deus nos livre desse aeroporto de Confins” era o título do texto em defesa das cavernas subterrâneas.

Contestado por sua localização distante, terminal tinha nos flingers, instalados ainda na construção, um sinal de modernidade(foto: Arquivo EM)
Contestado por sua localização distante, terminal tinha nos flingers, instalados ainda na construção, um sinal de modernidade (foto: Arquivo EM)

Pousos e decolagens

Depois de batido o martelo sobre a localização do aeroporto, as construtoras mineiras Andrade Gutierrez e Mendes Junior foram contratadas para a obra, iniciada em maio de 1980. Antes mesmo de a obra ser concluída – o que só iria acontecer no segundo semestre de 1984, meses depois de o presidente militar João Baptista Figueiredo ter inaugurado oficialmente o aeroporto, em março daquele ano –, 182 aviões haviam pousado em Confins, parte deles transportando material importado para a construção e outros impossibilitados de descer na Pampulha devido às condições climáticas. Isso bem antes de a torre de controle começar a funcionar.

Em 15 de julho de 1982, o primeiro desses aviões iria inaugurar a pista recém-concluída – a torre de controle e o terminal ainda estavam em obras. Às 11h30, o Bandeirantes do Palácio dos Despachos desceu “no asfalto ainda fresco” com o governador Francelino Pereira; o ex-ministro Eliseu Resende; o ministro da Aeronáutica Délio Jardim Mattos, além de outros políticos renomados, vindo do aeroporto da Pampulha. Em pouco mais de 10 minutos, o piloto Claudionor Nunes Coelho completou o trajeto debaixo de chuva.

“Era uma chuvarada danada. A pista estava toda suja. O pessoal saiu pisando na lama. Mas não desci do avião, voltei com o sapato limpo”, recorda o comandante da aeronave, que, depois do desembarque das autoridades, voltou para a Pampulha para buscar outra parte da comitiva, enquanto os políticos limpavam o sapato para a cerimônia. Por sorte, o avião também não atolou, segundo Coelho: “Tinha esse risco. Se fosse um avião de grande porte, não sairia dali”, diz Claudionor, recordando as condições precárias da pista.

Marco de modernidade
Depois de receber os primeiros pousos de aeronaves que eram impedidas de descer no aeroporto da Pampulha por condições climáticas, os 1,7 mil operários continuaram as obras do terminal e das demais estruturas do aeroporto, classificado pelo então ministro da Aeronáutica, Délio Jardim Mattos, como “um novo marco de desenvolvimento e progresso na Região Metropolitana de Belo Horizonte”. Além da maior pista de pouso do país, apta a receber os Boeings 727 e 747 e o Airbus 300, Confins era destacado pelas pontes de desembarque, que permitiam ao passageiro entrar e sair do avião com acesso direto ao terminal. Os fingers eram sinônimo de modernidade para a época.

Um ano e meio depois do primeiro pouso, o sobe e desce de aeronaves comerciais finalmente seria autorizado. O início das operações em Confins poria fim ao drama da Pampulha, que estava superlotado e era inundado nos dias de tempestade. Inaugurado pela manhã, à noite Confins receberia um avião vindo de São Paulo, tendo o terceiro-sargento da Polícia Militar de Minas Gerais João da Matta Ataíde entre os passageiros. Ganhador da Corrida de São Silvestre na virada de 31 de dezembro para 1º de janeiro, o atleta seria o primeiro a ser recepcionado com pompa no aeroporto, feito que se repetiria nos anos seguintes, principalmente com jogadores de futebol contratados por Atlético e Cruzeiro. Naquele ano, a TV transmitiu ao vivo, pela primeira vez, o evento, aumentando de forma significativa a divulgação.

Contratado pela equipe de atletismo do Galo, o mineiro era aguardado no saguão por centenas de torcedores. “Havia o mito de que o brasileiro era incapaz de vencer os estrangeiros. (Minha vitória) foi um momento de muita euforia. No aeroporto havia família e torcida à minha espera e a fanfarra do Atlético”, diz o hoje delegado da Polícia Federal  João da Matta. De lá, ele seguiu em comboio até o batalhão do Corpo de Bombeiros na Avenida Antônio Carlos, onde subiu em um caminhão da corporação para desfilar até a Praça da Liberdade, onde o governador Tancredo Neves esperava para lhe prestar homenagem.


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