No dicionário, Confins é um lugar muito longe, um fim de mundo. Na prática, os 42 quilômetros que separam Belo Horizonte e o aeroporto internacional por muito tempo foram um complicador para os passageiros e para que se efetivasse a demanda projetada para o substituto do aeroporto da Pampulha. Com isso, os defensores do fim das restrições operacionais ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves tinham pela frente o desafio de encurtar o tempo gasto no trajeto e convencer o governo federal a descartar o projeto de ampliação do Aeroporto Carlos Drummond de Andrade, o que significaria um xeque-mate em Confins.
Operando há dois anos com número de passageiros acima da sua capacidade operacional, Confins não lembra em quase nada o aeroporto que foi no passado. Antes de viajar de avião, era preciso uma viagem de carro até o terminal. Em muitos casos, o trecho de terra demorava mais que o aéreo. Por exemplo, até as capitais de São Paulo e do Rio de Janeiro, o voo durava menos de uma hora, enquanto rumo ao aeroporto o tempo podia ser até 30 minutos superior. “Não foi feita uma via expressa à época da construção. Isso revela a improvisação da nossa infraestrutura”, critica o subsecretário de Investimentos Estratégicos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Luiz Antônio Athayde.
À época da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, o Palácio do Planalto se mostrava disposto a aumentar a capacidade do terminal da Pampulha para 5,5 milhões de passageiros por ano. Um segundo terminal seria construído no lugar dos hangares de avião geral para quase quadriplicar o limite operacional. Do outro lado, ao assumir o governo de Minas, Aécio Neves tinha em mãos um ambicioso plano, elaborado ainda no governo Eduardo Azeredo, para retomar o aeroporto que leva o nome de seu avô, transformando-o em eixo estratégico do desenvolvimento do estado.
A mudança de rumo teria início em agosto de 2004, 20 anos depois de o aeroporto entrar em operação. Depois de extenso debate, na Assembleia Legislativa e em outras frentes, finalmente o governo federal chegaria a acordo com o governo mineiro para que os voos de grande porte voltassem para Confins. Era a tentativa de fazer o “elefante branco” alçar voo. No segundo dia da série de reportagens sobre os 30 anos do aeroporto de Confins, o Estado de Minas mostra a reviravolta no fluxo de passageiros no aeroporto internacional, que, até então, com pista mais extensa e terminal com capacidade operacional três vezes maior que o concorrente, era um clássico exemplo de desperdício de dinheiro público.
Primeiro veio a canetada do Palácio do Planalto que permitiu a transferência gradual de voos da Pampulha para Confins e menos de um ano depois seria a vez de o Palácio da Liberdade fazer sua parte, com o lançamento do projeto da Linha Verde. A via rápida era a promessa de diminuir em 20 minutos o tempo do percurso Praça Sete-aeroporto, reduzindo de uma hora para 40 minutos o tempo da viagem. Somado a isso, o projeto estabelecia investimentos para crescimento do chamado Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Em pouco tempo, a política conjunta de forças voltada para o aeroporto mostraria resultados, com a Gol construindo seu centro de manutenção de aeronaves no domínio do sítio aeroportuário e a retomada dos voos internacionais, em 2008, com TAP e American Airlines criando rotas para Europa e América do Norte, respectivamente. Segundo o subsecretário de Investimentos Estratégicos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Luiz Antônio Athayde, devido à maior facilidade de pouso no terminal metropolitano, as companhias aéreas tinham economia aproximada de US$ 500 por pouso em relação aos principais aeroportos do país. A afirmação só reforça os estudos feitos à época da construção do aeroporto, que projetavam redução de US$ 129 milhões por ano com os gastos de combustível de avião.
MUDANÇA Faltando alguns meses para se completar o décimo ano da canetada decisiva para a mudança de rumo do aeroporto internacional, a situação hoje é oposta à vivida no período em que o terminal era chamado de elefante branco. Confins teve movimentação 13,4 vezes superior à da Pampulha no ano passado. E os papéis se inverteram: antes abandonado, hoje Confins luta para solucionar o problema de superlotação, enquanto a Pampulha tem fluxo abaixo da capacidade.
Por dia, passam, em média, 28 mil passageiros pelo Aeroporto Internacional Tancredo Neves, mais de quatro vezes a população de Confins. Não à toa, com a arrecadação proveniente do terminal, o PIB per capita do município é o segundo maior do estado e quarto do país, com R$ 256.466,16.
Em obras há mais de dois anos, o terminal opera desde 2012 acima da capacidade limite, causando desconforto para os usuários. Aqueles que antes desfrutavam de cadeiras vazias no saguão e na sala de embarque, hoje disputam espaço com os milhares de passageiros. E os repetidos atrasos na conclusão da reforma aumentam os transtornos, devido à poeira e à limitação da mobilidade no terminal.