Entre contas de diversos serviços e extratos bancários, Reginaldo Costa, de 39 anos, usa a calculadora para planejar a compra de um carro zero quilômetro em 2014. Desde o fim de 2013, ele economiza parte da sua remuneração mensal, de R$ 2,5 mil, como microempreendedor individual. “Quero um carro com preço em torno de R$ 35 mil. Minha intenção é dar uma entrada de 10% e financiar o restante em 60 parcelas. Analiso planos que não comprometam mais do que 25% dos meus vencimentos”, disse Reginaldo, que mora no Bairro Dom Bosco, na Região Noroeste de Belo Horizonte, e é pai de uma adolescente.
Caso não compre o sonhado carro este mês – quando ainda é possível encontrar veículos com a alíquota antiga do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) nas concessionárias –, Reginaldo, assim como outros brasileiros, vai pagar mais caro. Isso porque o aumento do IPI de 2% para 3% para os carros 1.0 e de 7% para 9% nos carros 2.0, além da obrigatoriedade de freios ABS e airbags em 100% dos veículos produzidos a partir de agora, fará com que os preços dos populares subam de 4% a 8%. Reajustes estão em vigor e devem ser sentidos com mais força a partir de fevereiro.
O planejamento para a compra e o custo para a aquisição de um automóvel zero quilômetro são os temas da quarta reportagem da série 2014 bem planejado, que o EM publica desde 1º de janeiro. Ao longo da última década, o controle da inflação e o aumento de renda do brasileiro possibilitaram a muitos homens e mulheres realizarem o sonho da compra de um veículo zero quilômetro. No estado, por exemplo, a frota saltou 117,8% de julho de 2003 a igual mês de 2013, de 3.928.568 unidades para 8.557.595, segundo o Departamento de Trânsito (Detran-MG).
O primeiro passo para uma pessoa comprar um automóvel, porém, é ter a carteira nacional de habilitação (CNH). No caso de Reginaldo, ele precisa de um documento na categoria B. Os gastos para conseguir a habilitação são divididos em dois conjuntos: os pagos ao Detran-MG e ao centro de formação de condutores, também conhecido por auto-escola. As taxas cobradas pelo órgão da Polícia Civil mineira somam R$ 320,96. O valor, claro, leva em conta a hipótese de o candidato ser aprovado em todos os testes na primeira tentativa.
A lista de gastos com o órgão de trânsito é a seguinte: inscrição para o exame de habilitação (R$ 50,03), exame médico (R$ 58,60), exame psicotécnico (R$ 74,75), exame de legislação ou repetência (R$ 50,03), exame de direção ou repetência (R$ 50,03) e expedição de licença de aprendizagem (R$ 37,52). “Juntando esses valores aos cobrados pela autoescola, vou desembolsar mais de R$ 1 mil. Cada aula prática na auto-escola me custa R$ 32. O mínimo exigido pela legislação é de 15 aulas, mas vou fazer um pouco mais. Além disso, há mais R$ 100 referentes ao aluguel do carro para o teste de direção”, disse Reginaldo.
Os gastos não param por aqui: “Tenho de reservar dinheiro para os impostos, como o IPVA”. A alíquota do Imposto sobre Veículos Automotores (IPVA), em Minas, oscila de 1% (frota de locadoras, ônibus, caminhões etc) a 4% (automóveis), como é o caso de Reginaldo. O índice, quando aplicado sobre o preço do bem que o rapaz deseja adquirir (R$ 35 mil), representa R$ 1,4 mil. Vale lembrar que essa cifra representa o chamado ano cheio. No caso de ele comprar o veículo em junho, pagará proporcionalmente.
Além do IPVA, o proprietário precisa quitar a Taxa de Licenciamento Anual de Veículo (TRLAV), no valor de R$ 75,19, e o Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), cuja cifra de 2014 será de R$ 105,65. “Há muitas taxas e impostos. Por isso tenho de reservar uma boa quantia para quitá-los.”
FINANCIAMENTO A intenção de Reginaldo é dar uma entrada correspondente a 10% do valor do veículo e financiar o restante. Mauro Pinto de Moraes Filho, presidente do Sindicado dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv), diz que a maioria dos negócios fechados no ramo é pago a prazo. “O grosso das vendas é o financiamento. A compra à vista chega a mais ou menos 20%.” No parcelamento, o juro é 0,99%, dependendo do banco.
O motorista também deve lembrar que o carro é um bem que gera grande despesa, como explica Ana Paula Bastos, economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH): “Ao pensar em comprar um automóvel, a pessoa precisa lembrar dos gastos. Em média, os custos com combustível, estacionamento, seguro, impostos e manutenção equivalem ao preço de um veículo a cada três anos. Dessa forma, se a pessoa for comprar um carro de R$ 20 mil, gastará cerca de R$ 7 mil para mantê-lo”.
Desconto na revenda
Entre os benefícios de comprar carros já faturados, está o preço mais baixo, mas também a oferta de descontos e melhores condições de financiamento. Mauro Pinto de Morais Filho, presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv-MG), alerta que diante da existência de estoque antigos nas concessionárias vale o esforço de antecipar a compra para este mês. “Na minha visão, vai ser um mês de oportunidades, quando os preços estarão certamente mais baixos que em fevereiro”, afirma. “Os bons preços estarão nos carros em estoque, já faturados, que não receberam reajuste de IPI e que não foram impactados pelo aumento de custos das montadoras, em vigor na tabela nova”, acrescenta.
O gerente de novos da Tecar Fiat, Shelber Morato, garante que janeiro será um “excelente mês para comprar”. Isso porque ainda há uma boa oferta de carros sem o reajuste. Entre as medidas para dar fim ao lote de carros com o IPI antigo – que incluem o Novo Palio, Novo Uno e Punto, de diversos modelos – está a oferta de descontos, mas também de taxas de financiamentos mais atrativas para o consumidor. “A partir de fevereiro os preços mudam bastante”, reforça. “O desconto que estamos aplicando é bem maior que o aumento do IPI, de um ponto sobre os carros 1.0 e de dois pontos sobre os 2.0. Alguns modelos chegam a ser vendidos com R$ 7 mil de desconto”, acrescenta.
Embora a maior parte dos carros com preço antigo já tenham sido vendidos pela Misaki Nissan no mês passado, a concessionária oferece taxa 0% no financiamento com 60% de entrada para carros como Sentra, nas versões S e SV, Versa e Frontier. Além disso, oferece o IPVA deste ano pago para o March. Wellington Campos, gerente de vendas de novos da Misaki, explica que as ofertas vem para atender aqueles clientes que não puderam comprar com o IPI antigo ou optaram por esperar pelo financiamento com taxa zero. “O mercado começou diferente e temos registrado um janeiro diferente em termos de fluxo de loja”, avalia.