O Secretário do Tesouro dos EUA, Jacob Lew, pediu nesta quarta-feira à Alemanha para estimular o consumo e os investimentos domésticos para ajudar a reacender o crescimento europeu, depois de Berlim divulgar uma alta do superávit comercial. "Acreditamos que as políticas para promover mais investimentos domésticos e a demanda seriam positivas para a economia alemã e a economia global", disse Lew depois de conversar com o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble.
Invejada por seus sócios europeus por sua poderosa economia e pela força de suas finanças públicas, a Alemanha vem enfrentando pressões para estimular sua demanda interna e ajudar, assim, seus pares, impulsionando o crescimento das exportações em seus países, ao invés de se apoiar em suas próprias exportações para crescer.
Analistas estão otimistas sobre a saúde da economia alemã depois de dados divulgados no começo desta quarta-feira mostrarem que os pedidos às indústrias, um importante indicador da demanda dos produtos alemães interna e externamente, subiram com força em novembro.
Após dar início a sua breve visita expressando os desejos do presidente norte-americano Barack Obama de uma rápida recuperação à chanceler Angela Merkel, que fraturou a bacia em uma pista de esqui, Lew reiterou os pedidos de Washington. "Deixamos muito claro que acreditamos que mais demanda doméstica e investimento seria uma boa coisa", disse ele, em meio à viagem por três países europeus que começou em Paris na terça-feira e continuará em Lisboa ainda nesta quarta-feira.
Ele disse que é importante conseguir um equilíbrio entre "promover a demanda doméstica e os investimentos e obter um crescimento de curto prazo onde for necessário para gerar um forte crescimento econômico de longo prazo". Lew apontou as políticas da grande coalizão de Merkel com os social-democratas para investimento em infraestrutura e a introdução de um salário mínimo nacional como sendo "consistentes com essa abordagem". "Nosso objetivo comum é o crescimento e a reforma", acrescentou.
O encontro aconteceu poucas horas depois de os novos dados do comércio mostrarem que as exportações ainda estavam crescendo enquanto as importações estão caindo, muitos meses depois que claras diferenças foram expostas entre Berlim e os Estados Unidos sobre política econômica.
Crescimento alemão puxado pela demanda doméstica
Os laços entre Berlim e Washington ficaram desgastados, no ano passado, por causa da espionagem dos EUA aos europeus, incluindo a revelação de que o celular da chanceler Angela Merkel estava sendo grampeado. O Tesouro dos EUA criticou a maior economia da Europa em seu relatório semestral de outubro, por não estar fazendo o suficiente para ajudar a estimular a economia global, acrescentando que o país devia reduzir seus superávits para incentivar a demanda doméstica.
Preocupação similar foi expressa pela Comissão Europeia, que colocou o superávit alemão sob observação. Berlim, por sua vez, respondeu laconicamente como "não compreensível" o relatório dos EUA, que criticou a dependência do país de suas exportações e o "ritmo anêmico" do crescimento da demanda interna enquanto a zona do euro precisava de ajuda para sair da deflação.
A Alemanha também argumentou que o superávit reflete a competitividade de suas empresas. Schaeuble defendeu a política alemã nesta quarta-feira, destacando que o crescimento alemão foi conduzido pela demanda doméstica e que a zona do euro como um todo teve um superávit muito pequeno em relação ao restante do mundo.
"Dentro da zona do euro não temos um superávit alemão, mas estamos contribuindo integralmente para uma situação de equilíbrio" disse ele em coletiva de imprensa conjunta. "Além disso, o crescimento da Alemanha é sustentado pela demanda doméstica," afirmou. Os dados publicados pelo escritório de notícias federal nesta quarta-feira mostraram que o superávit subiu em novembro.
Em dados ajustados de variações sazonais, a Alemanha exportou produtos avaliados em 93,2 bilhões de euros em novembro, uma alta em relação aos 92,9 bilhões de euros em outubro, calculou a Destatis. As importações, por outro lado, caíram 1,1% a 75,4 bilhões de euros de 76,2 bilhões de euros. Em termos regionais, as exportações aos 18 membros da zona do euro subiram 0,1% em 12 meses, em novembro, enquanto as importações dessa região se contraíram em 1%.
Chris Williamson, analista da Markit em London, disse que os dados, provavelmente, colocariam a Alemanha sob mais pressão. "A ampliação do superávit colocará mais pressão política sobre a Alemanha para reequilibrar sua economia, de um crescimento orientado pelas exportações a um orientado pelo consumo doméstico", disse ele. O aumento do superávit foi o maior desde que os dados comparativos estão disponíveis, em 1990, observou ele.