A inflação continua pressionando o bolso dos consumidores e colocando em xeque o poder de compra da população. Com o orçamento corroído pelos aumentos de preços, a saída muitas vezes é recorrer ao cheque especial, cujas taxas em dezembro chegaram ao patamar mais alto desde agosto de 2012, e ao cartão de crédito, que têm os maiores juros. O resultado é o aumento no número de famílias endividadas. Em Belo Horizonte, a alta no custo de vida, principalmente nos alimentos, foi constatada pelo custo da cesta básica, divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), da Fundação Getulio Vargas (FGV).
De acordo com os indicadores, a cesta básica avançou 0,45% em dezembro e registrou aumento de 7,35% em 2013. Já de acordo com o IPC-S, na primeira semana de janeiro a inflação registrou variação de 0,67%, resultado 0,06 ponto percentual (p.p) superior ao da quarta semana de
A técnica em eletrônica Raquel Maria do Nascimento e o marido, o empresário Josimar Fernandes Meireles, já sentiram os efeitos dos preços altos e começaram o ano com o pé no freio. O resultado da despesa pressionada é o comprometimento da vida social, que fica em segundo plano. Para reverter a situação, eles, que todos os meses fazem as compras juntos, colocaram como meta a contenção de despesas, mesmo as com alimentação, consideradas as mais caras. “Estamos economizando de todas as formas, inclusive no preparo dos alimentos para não ter desperdício”, conta Raquel. “Dependemos da força do nosso trabalho e temos três filhos. Por isso, as contas seguem na ponta do lápis para não perdermos o controle, já que tudo está mais caro”, acrescenta.
Na balança De acordo com a regional do Dieese em BH, o valor da cesta básica, composta por 13 produtos, foi de R$ 312,25 em dezembro e exigiu 50,06% do salário mínimo líquido, de R$ 623,76, pago ao trabalhador brasileiro. Em relação a novembro, os produtos que tiveram as maiores altas foram a banana (2,49%), o café (2,03%) e a farinha (1,66%). Já os produtos que apresentaram as maiores quedas de preços foram o tomate
(-2,24%), o feijão (-1,50%) e o arroz (-0,41%). No ano, os produtos com maior elevação no preço foram banana (35,98%), farinha (25,44%), e batata (17,93%). No mesmo período, os produtos que tiveram queda foram óleo (-21,60%), açúcar (-0,25%) e feijão (-8,28%).
Fernando Ferreira Duarte, economista supervisor técnico do escritório regional do Dieese, explica que a alta sentida nos itens da cesta é decorrente de problemas climáticos e, em alguns casos, da redução de área plantada. Esse, por exemplo, foi o caso da batata, que sofreu ainda com queda de produtividade. Já a alta nos preços da farinha de trigo, segundo Duarte, pode ser justificada pela dependência da importação. “Nossa produção não consegue suprir a nossa necessidade. Além da dificuldade de importar da Argentina, algumas chuvas no Rio Grande do Sul, principal polo produtor, afetaram a produção”, lembra.
Na semana Segundo resultados do IPC-S, das oito classes de despesa que compõem o índice, educação, leitura e recreação, além de despesas diversas tiveram as principais altas. As taxas passaram de 0,27% para 1,06% e de 0,17% para 0,65%, da última semana de dezembro para a primeira de janeiro, respectivamente. Na primeira prévia de janeiro, alguns grupos perderam força. Os aumentos foram menores em transportes, que de 0,95% em dezembro passaram a registrar alta de 0,84% em janeiro, comunicação que de 0,83% passou para 0,30%, alimentação de 1,02% para 1,01% e outros.
Segundo o economista da FGV/Ibre André Braz, a alta pode ser justificada principalmente pelos reajustes nas mensalidades escolares, que devem continuar pressionando a inflação do mês. “A expectativa é de que esse item favoreça a continuidade da aceleração dos preços, já que o item educação, leitura e recreação compromete mais de 3% do orçamento familiar”, lembra. Em despesas pessoais, que compreende todos os gastos que não são alocados em outros grupos, a principal contribuição, segundo Braz, foi a do cigarro, que passou de 0% para 1,28%. Outro impacto no resultado cheio deve ser sentido nos preços dos alimentos in natura, como frutas e hortaliças, que ficam mais caros por sofrerem efeitos do verão.
E o endividamento cresce
Brasília – O número de famílias brasileiras endividadas aumentou 7,5% no ano passado na comparação com 2012, com 62,5% delas relatando ter dívidas, incluindo modalidades como cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado e financiamento de carro e de casa, segundo estudo divulgado ontem pela Confederação Nacional do Comércio (CNC). O percentual de famílias com dívidas permaneceu elevado o ano todo, alcançando o pico em julho de 2013, quando marcou 65,2%.
A economista Marianne Hanson, da CNC, avalia que a alta do endividamento dos brasileiros está ligada à manutenção de uma tendência de crescimento da concessão de crédito às pessoas físicas, mesmo que em ritmo mais moderado. Ela observou que o número de famílias com contas em atraso ficou praticamente estável no ano passado, em 12,2% do total. Já o índice de famílias sem condições de pagar as dívidas caiu de 7,1% para 6,9%.
Mesmo com o crescimento da fatia da população comprometida com dívidas, o estudo da CNC apontou uma melhoria no perfil de endividamento dos brasileiros, com alongamento dos prazos. De 2012 a 2013, o prazo médio de comprometimento com dívida subiu de 6,53 meses para 6,74 meses. “Este alongamento permitiu a queda na parcela média da renda das famílias comprometida com dívidas, de 30% para 29,4%”, afirma a economista. No que diz respeito ao tipo de dívida, o estudo aponta que a parcela das famílias que têm débitos com o cartão de crédito avançou de 73,6% para 75,2% . Em segundo lugar, ficou o carnê de prestações, citado por 18,7% das famílias. O financiamento do carro ficou em terceiro lugar, mencionado por 12,2%.
Juros sobem As taxas de juros em operações de crédito subiram em dezembro para pessoa física, segundo pesquisa divulgada pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). O levantamento indica que a taxa de juros média geral para pessoa física passou de 5,57% ao mês em novembro (91,64% ao ano) para 5,60% ao mês (92,29% ao ano) em dezembro. A taxa no mês passado é a maior desde novembro de 2012. Para Miguel José Ribeiro Oliveira, diretor da Anefac, as taxas vão continuar subindo nos próximos meses.