Brasília – As eleições devem segurar a alta dos juros, apesar de a inflação continuar em alta, superando as expectativas do governo e até mesmo do mercado. Os especialistas garantem que, para conter a carestia, que fechou 2013 em 5,91%, acima da registrada em 2012, de 5,84%, o Banco Central (BC) deveria elevar a Selic até 12,5% ao fim do ano. Porém, por ser ano eleitoral, nenhum deles acredita que isso efetivamente ocorrerá. O BC deve reduzir a intensidade da alta dos juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana para evitar que a economia caia em recessão. Assim, a maioria dos analistas aposta em uma alta de apenas 0,25%, elevando a Selic para 10,25% ao ano.
Na avaliação de Eduardo Velho, economista chefe da INVX Global Partners, se o BC realmente fosse perseguir o centro da meta de inflação, de 4,5%, teria espaço para promover, pelo menos, cinco altas de meio ponto percentual, elevando a Selic a 12,5% ao ano no fim de 2014. Contudo, Velho alertou que o governo está acomodado com a perspectiva de a carestia ficar próxima do teto da meta, de 6,5%, por onde tem, insistentemente, permanecido durante o mandato de Dilma Rousseff.
“Há uma diferença entre o que achamos que devia ser feito, que é acelerar a alta dos juros para conter a inflação, e o que acreditamos que o BC efetivamente vai fazer”, justificou Velho. Para ele, pelo teor da última ata do Copom, segundo a qual a carestia já está em rota decrescente, o aperto monetário será menor. “O BC deve elevar a Selic em apenas 0,25 ponto percentual na próxima reunião”, afirmou. Velho acredita que a autoridade monetária vai levar os juros para 10,5%, com mais um aumento de 0,25 ponto percentual, até as eleições. “Depois, dependendo do quadro eleitoral e da persistência da inflação, poderá elevar mais a Selic”, disse.
O economista argumenta que o IPCA de dezembro teve um impacto muito forte sazonal, por conta do reajuste dos combustíveis, e por isso o BC deve levar a Selic a 10,25% na próxima semana. Velho explicou que os últimos índices mais fracos do emprego nos Estados Unidos aliviaram o peso da decisão do Copom, porque sinalizam que a redução dos estímulos do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) será desacelerada, contendo a valorização do dólar no mundo. “Como a alta da moeda americana pressiona a inflação no Brasil, o BC deverá apostar mais nas intervenções no câmbio”, projetou.
O presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon/DF), Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do BC, lembrou que o presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, havia prometido, em abril, quando a alta de juros foi retomada, que a inflação de 2013 seria menor do que a de 2012. “Nada disso se confirmou. Agora, a coisa ficou complicada”, observou.
Freitas aposta numa elevação de 0,5 ponto percentual na reunião do Copom da semana que vem. “Se o governo fizer sua parte, isto é, planejar a parte fiscal e cumpri-la, de forma transparente, a Selic poderia fechar o ano em 11%”, estimou. Entretanto, Freitas não acredita que isso vá ocorrer. “A equipe econômica perdeu credibilidade. Se o fiscal continuar como está, e acho que vai, o mínimo para combater a inflação seria uma Selic em 12% ao ano no fim de 2014. Agora, isso significaria admitir que a política econômica foi errada todo esse tempo”, ressaltou.
O economista alertou que, se o aperto monetário não for promovido, o Brasil corre o risco de ter a nota da economia rebaixada pelas agências de classificação mais cedo. “O país não tem atividade econômica aquecida, nem alta nos preços de commodities. Ou seja, essa inflação é gerada pela inércia. Se o governo vai ter coragem de agir como deveria em ano eleitoral, não sei. Minha opinião é que deveria subir bem a taxa de juros.”
Rendimentos estagnados
Brasília – Em 2014, os brasileiros não devem esperar muito por aumento salarial. Apenas 7% das empresas estão dispostas a aplicar reajustes acima da inflação este ano, segundo pesquisa realizada pela consultoria anglo-americana Grant Thornton. As demais não aceitariam conceder alta real aos rendimentos. O congelamento de salários pela maior parte do mercado – ou, na melhor das hipóteses, aumentos mínimos – ilustra o pessimismo quase generalizado com os rumos da economia nacional.
A perspectiva de reajustes identificada pela Grant Thornton é a menor desde quando esse tipo de levantamento começou a ser feito, em 2009. Na medição anterior, no terceiro trimestre do ano passado, 20% das 300 empresas de médio porte consultadas concordavam em dar aumentos superiores à inflação. O maior indicador foi registrado no fim de 2011, quando executivos de quatro em cada 10 companhias tinham a pretensão de contemplar os funcionários com reajustes mais generosos.
O mau humor dos patrões detectado neste início de 2014 era algo previsto, no entender do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Para ele, o consumo continuará acomodado ao longo do ano, atingindo em cheio os indicadores de emprego e renda. A taxa de desocupação, acredita ele, deve parar de cair, o que contribuirá para a estagnação dos salários. “A tendência clara é que o rendimento real não suba este ano”, insiste.
Em 2013, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os reajustes salariais apresentaram recuo em relação a 2012, mas não tiveram um comportamento tão discrepante dos anos anteriores: no primeiro semestre, cerca de 85% das 328 unidades de negociação analisadas conquistaram aumentos reais para os salários.
A alta da inflação reforça a brusca queda na perspectiva de aumento salarial. Para economistas como José Luis Oreiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o governo deverá negociar com os sindicatos uma política de “moderação salarial”. (Diego Amorim)