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Estado de Minas

Preço de material escolar chega a variar 580% em BH

É a quanto chega a diferença entre os valores cobrados pelas papelarias para um mesmo produto em Belo Horizonte. Frente a 2013, a lista completa ficou cerca de 10% mais cara


postado em 13/01/2014 06:00 / atualizado em 13/01/2014 07:26

Com gastos de R$ 1mil, Lis de Oliveira prioriza a qualidade e a durabilidade dos itens escolhidos para Gabriel(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Com gastos de R$ 1mil, Lis de Oliveira prioriza a qualidade e a durabilidade dos itens escolhidos para Gabriel (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

As férias de janeiro ainda estão pela metade, mas aos 5 anos Breno está ansioso para começar a estudar na nova escola. O material novo em folha, que estampa personagens famosos, como o robô Buzz Lightyear do filme Toy Story , foi comprado na manhã de sábado. A família de Breno trocou o dia de sol pela papelaria, onde escolheu o uniforme e providenciou a lista apresentada pela escola. Para arcar com a despesa de R$ 800 consumidos no material e outros R$ 800 com uniforme, a pedagoga Ludimila Campolina e o analista de sistemas Marcelo Henrique Pinto fizeram um planejamento financeiro. Afinal, a conta da papelaria soma-se aos impostos (IPTU e IPVA) típicos desta época do ano, à matrícula, e para muitos às despesas pré-datadas do Natal.

Além de enfrentar, neste ano, reajustes do livro didático próximos a 8%, os pais devem reservar tempo extra para pesquisar preços. A variação de um mesmo item pode ultrapassar 500% no varejo, segundo levantamento do site de pesquisas Mercado Mineiro, de Belo Horizonte. É o caso do apontador com reservatório, encontrado pelo menor preço a R$ 0,29 e o maior, R$ 1,98, perfazendo diferença de 582,70%. Alguns itens estão custando menos do que em janeiro de 2013. No entanto, no apanhado geral da lista, pais que já fecharam suas compras consideram que a alta em relação ao ano passado ficou próxima a 10%. No mercado, os descontos para pagamento à vista variam entre 5% e 10% e podem aliviar a fatura para quem não divide a conta. Para as famílias que optarem pela compra a prazo há redes permitindo o pagamento de prestações até o Natal.

O mercado que envolve o material escolar e artigos de papelaria deve girar no país perto de R$ 7 bilhões em 2014. Pesquisa do Mercado Mineiro indica que alguns produtos, como o refil para fichário e o giz de cera, tiveram alta expressiva (57,8% e 35%, respectivamente) em comparação aos preços encontrados no ano passado. Mas é possível economizar, já que alguns itens também tiveram seu preço reduzido, como o a massa para modelar, em 30,5%, e o caderno universitário, 24%.

Ludimila Campolina, que gastou cerca de R$ 800 com a lista para a educação infantil, acredita que neste ano o preço do material cresceu perto de 12%. Ela diz que livros, mochila, cadernos, lápis e lancheira com personagens têm boa qualidade, mas reconhece que eles costumam custar até 30% mais. “Considero que o investimento compensa, porque é uma motivação grande para a criança.” Ludimila e Marcelo optaram por comprar de uma só vez o uniforme para todo o ano, incluindo a roupa para aulas de esporte e para o inverno, parcelando a fatura em três vezes. Para enfrentar as despesas do início do ano, uma das estratégias do casal foi transferir as férias para julho, quando os gastos são menores.

Rodrigo Azevedo, sócio-proprietário da Livraria João Paulo II, tem três lojas em Belo Horizonte e está há 10 anos no mercado. Ele observa que o movimento de volta às aulas já começou na capital e percebe que está havendo grande busca pelos livros usados. Pudera. “Com a troca do livro é possível economizar 50%.” Rodrigo acredita que o reajuste de preços do livro novo seguiu a trajetória de anos anteriores, ficando perto de 8%. “A partir do 6º ano, os pais podem fazer a troca”, ponderou.

Estoques altos


Na Papelaria Port, Aline Dutra, gerente da loja no Bairro Prado, diz que houve mais promoções na loja, incluindo lançamentos com personagens. O pagamento também pode ser parcelado em até seis vezes e descontos para quem prefere quitar à vista são negociados com o cliente. O economista-chefe da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Gabriel de Andrade Ivo, observa que além de a volta às aulas representar a melhor época de vendas para as papelarias, existe um otimismo generalizado no comércio quanto a janeiro. Isso porque os estoques estão altos e o consumidor pode ser motivado ao consumo por meio das promoções.

Planejamento financeiro é a saída que Marcelo e Ludimila usam para conciliar as compras para Breno com as despesas típicas de janeiro(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Planejamento financeiro é a saída que Marcelo e Ludimila usam para conciliar as compras para Breno com as despesas típicas de janeiro (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Com 8 anos, Gabriel está pronto para iniciar a terceira série. No sábado, ele foi cedo com a mãe, a funcionária pública Lis de Oliveira, escolher o material escolar. Lis diz que no momento da compra escolhe produtos de boa qualidade porque eles duram mais e neste ano percebeu nesses itens alta de preços entre 10% e 12%. “Gastei pouco mais de R$ 1 mil, sendo que 70% desse valor corresponde aos livros.” Ela só paga à vista se os descontos concedidos partirem de 10%.

Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mede a inflação do país, aponta alta em 2013 de 8,71% dos itens de papelaria e artigos de leitura em Belo Horizonte frente ao percentual de 7,94% no país, acima do custo de vida, que fechou 2013 com variações de 5,7% na Grande BH e de 5,9% na média nacional. Nadim Donato Filho, presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Belo Horizonte (Sindilojas-BH), estima que o mercado de papelarias deva crescer neste primeiro trimestre cerca de 5% frente ao ano passado, mas no fechamento do ano, como o restante do comércio, o setor não deve registrar alta. Em 2013, o crescimento de janeiro a março foi de 13% frente ao mesmo período do ano anterior.

Pedir desconto é a melhor estratégia


Os especialistas recomendam cautela aos pais antes de eles saírem de casa com a lista do material escolar, dispostos a comprar todos os itens, fazer prestações e seguir em frente para a fase de organização para o início das aulas. O momento é muito propício para as crianças colocarem em prática ensinamentos que trabalharam na escola ao longo do ano. “Entre eles, o reaproveitamento, ou seja, a reciclagem”, alerta Maria Inês Prazeres, consultora em finanças pessoais. Itens que podem ser reaproveitados do ano anterior, ou entre irmãos, devem ser cortados da lista. “Na escola, o aluno pode dizer ao colega que não tem um produto novo, mas que está fazendo o que aprendeu na escola, reutilizando-o. Uma questão de consciência ambiental e financeira.”

Maria Inês Prazeres recomenda, ainda, que os pais busquem se unir para fazer compras coletivas. “É mais barato, porque para grande quantidade eles podem negociar descontos melhores.” O próximo passo, depois da pesquisa de preços concluída e da compra feita, é o pagamento. “Parcelar nunca é a melhor alternativa. A compra fica mais cara”, alerta a consultora. Segundo Milagres, quem tem possibilidade de pagar à vista deve aproveitar o desconto. Para quem não tem como escolher, é melhor reduzir o número de parcelas, evitando o endividamento a longo prazo. “Não vale a pena pegar empréstimo para a compra do material. Os pais devem conversar, negociar com a escola, que sejam francos”, sugere. A consultora explica que o material é pedido todo de uma só vez, mas usado ao longo do ano. Assim sendo, se o dinheiro estiver escasso, vale tentar negociar com a escola a compra em duas vezes.

Bianca e o marido, Carlos, com a filha Gabriela, compram na mesma loja (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Bianca e o marido, Carlos, com a filha Gabriela, compram na mesma loja (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Com dois filhos – Gabriela, de 4 anos, e João Victor, 9 –, o casal de dentistas Bianca Mourão Elias e Carlos Augusto de Paula calcula que este ano vai gastar R$ 1,5 mil com o material para as duas crianças. Bianca diz que não costuma fazer pesquisa de preços devido à falta de tempo livre, mas compra na mesma papelaria há seis anos e, por isso, confia no seu fornecedor. “Procuro comprar produtos de boa qualidade para durarem mais. Vou parcelar o material neste ano, mas costumo pagar à vista, quando os descontos são acima de 10%”, comenta.

O coordenador de eventos Marcelo Borges já está com a lista do material comprada e com os cadernos do filho de 7 anos encapados. Precavido, ele diz que desembolsou pouco mais de R$ 1 mil com o material escolar e que neste ano não notou grande oscilação de preços em relação a 2013. Marcelo afirma ter optado pela estratégia de reservar parte do décimo terceiro para quitar a despesa de janeiro.

Procons atentos

“Os pais podem sempre questionar a escola sobre a lista do material e em caso de dúvidas, inclusive acionar o Procon. Os estabelecimentos de ensino são livres para recomendar uma determinada marca, mas não podem impor o produto. Outra questão são os materiais de uso coletivo, que não devem entrar na lista dada aos pais. Esses itens, como os produtos de limpeza e higiene, por exemplo, devem constar na composição de custos da escola, incluídos nos preços das mensalidades. Os pais também devem reclamarcaso considerem excessiva a quantidade de material que foi pedida. Não há uma regra estabelecendo que o material escolar deve ser entregue de uma só vez para uso ao longo do ano. Se julgarem conveniente, os pais também podem tentar negociar essa questão com a escola.”

Bruno Burgarelli
Vice-presidente da Comissão de
Defesa do Consumidor da OAB Federal


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