O consumidor pode ir preparando o bolso. Com a inflação ainda sem dar sossego aos brasileiros, o Banco Central (BC) deverá subir novamente os juros básicos da economia. As apostas do mercado financeiro são de que o Comitê de Política Monetária (Copom), um colegiado de diretores da instituição, decida pela elevação da Selic em 0,5 ponto percentual, para 10,5% ao ano. Será a sétima alta consecutiva em menos de um ano. Em abril de 2013, a taxa básica atingiu a mínima histórica, 7,25% ao ano, mas não parou de subir desde então.
Para quem já está com o orçamento doméstico apertado, a escalada dos juros representa uma dificuldade a mais na hora de negociar um empréstimo com o gerente do banco ou conseguir desconto ao comprar algum item no crediário. Mais do que isso. Com o crédito mais caro e escasso, a tendência é que o consumo esfrie.
Com menos trabalhadores indo às compras, circulará menos dinheiro na economia, o que afetará, em algum momento, o mercado de trabalho e, posteriormente, a renda das famílias. “E esse efeito psicológico levará o consumidor a colocar o pé no freio”, explicou o economista Miguel Ribeiro de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). “O trabalhador pode não entender como funciona a alta dos juros, mas ele lê nos jornais que esse processo provoca desaceleração econômica, e que isso corrói a renda. Então, para se precaver de uma possível demissão, ele já começa a postergar as decisões de compra menos essenciais no dia a dia”, observou.
Desde abril de 2013, a taxa Selic saiu da mínima história, 7,25% ao ano, para o patamar de 10%, alcançado em novembro. De lá para cá, as elevações foram quase todas de 0,5 ponto percentual. A exceção foi a primeira alta, em abril, de 0,25 ponto, que deu início ao ciclo de aperto nos juros.
Até semana passada, o consenso no mercado financeiro era que o BC fosse reduzir o ritmo de altas na Selic, por considerar que o que já havia sido feito em 2013 seria suficiente para colocar os preços de produtos e serviços em queda. “O que mudou esse quadro foi uma inflação alta demais no fim do ano passado, que ninguém esperava, muito menos o governo”, disse um técnico da equipe econômica de Dilma Rousseff. Em dezembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou variação de 0,92%. O resultado veio acima até das previsões mais pessimistas de mercado, que apontavam para uma alta de, no máximo, 0,89%.
Os números acenderam um sinal de alerta no Palácio do Planalto. A auxiliares próximos, a presidente avisou que o BC ganhou carta branca para levar a Selic até onde achar que deve. O recado foi claro: ainda mais importante do que a alta dos juros é manter a inflação em rédea curta. A avaliação do staff de campanha da presidente é de que a alta dos preços e o desemprego são os dois fatores que, em caso de uma sensível piora, poderiam tirar votos de Dilma na campanha em outubro.
Em 2013, o IPCA fechou em 5,91%, acima, portanto, da meta informal feita pelo governo de trazer o índice para baixo do resultado de 2012 (5,84%). Um grande problema é que a alta dos juros, que, em tese, poderia reduzir a pressão dos preços também produz um efeito colateral no crescimento do país. Juros maiores esfriam o consumo e tornam mais atraentes os investimentos financeiros, em vez dos produtivos. “Se um empresário percebe que pode ganhar mais dinheiro aplicando em investimentos financeiros, para ganhar com juros, do que na ampliação de uma fábrica, certamente ele vai preferir a primeira opção. Até porque o ganho financeiro, descontado os impostos, é líquido. Já o investimento numa fábrica depende de ter ou não demanda para o que ele vai produzir”, ensinou o professor Silvio Paixão, da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).
POUPANÇA A alta dos juros tende a ampliar a rentabilidade das aplicações financeiras que acompanham a Selic, como os fundos de investimento. A melhora, no entanto, não deve ser suficiente para reduzir a atratividade da caderneta de poupança. Um comparativo feito pela Anefac mostra que os fundos só ganham da poupança quando oferecem taxas de administração inferiores a 1,5%. Com um detalhe: apenas nos casos em que o prazo de resgate seja superior a dois anos. “Em todos os outros casos, a poupança segue sendo imbatível, em termos de rentabilidade, para o pequeno investidor”, disse Miguel Oliveira, da Anefac.
Essa vantagem tende a diminuir caso o BC siga elevando os juros básicos da economia, hipótese já esperada pelo mercado financeiro. Antecipando uma nova elevação da taxa básica de 0,5 ponto, na reunião de hoje do Copom, os juros futuros fecharam ontem novamente em alta, negociados a 10,76%, para contratos com vencimento em janeiro de 2015. “Isso quer dizer que o juro esperado para daqui um ano é projetado pelo mercado financeiro em 11%”, explicou o economista Antonio Madeira, da LCA Consultores.
“Esse patamar de juro representa duas coisas: ou os investidores estão ainda mais pessimistas com a trajetória recente da inflação, que vem insistentemente incomodando, ou entendem que, para compensar os riscos de se emprestar dinheiro, o prêmio mínimo cobrado nas operações de crédito tem de ser esse, de 11%”, completou.
NOVA POSTURA Seja qual for o motivo, diz o ex-diretor do BC Keyler Carvalho Rocha, professor da Universidade de São Paulo (USP), é certo que a exigência de prêmios de juros maiores forçará a equipe econômica a mostrar um comprometimento maior no combate à inflação. “Até agora, tudo o que foi feito pelo governo foi tentar segurar os preços pela via da postergação de reajustes, como os da conta de luz e das passagens, e a alta dos juros, que não tem surtido o efeito esperado”, afirmou.
“O que tem que ficar claro para o governo é que a inflação alta não é um problema exclusivo do BC, mas de toda a administração Dilma Rousseff. A melhor forma de o governo mostrar comprometimento com uma inflação realmente no centro da meta, de 4,5%, é cortar despesas e fazer uma política fiscal realmente mais austera. Mas, até agora, tudo o que foi feito foi postergar gastos e antecipar receitas, para dar a impressão de que as metas fiscais foram cumpridas”, disse o ex-diretor do BC.
Para quem já está com o orçamento doméstico apertado, a escalada dos juros representa uma dificuldade a mais na hora de negociar um empréstimo com o gerente do banco ou conseguir desconto ao comprar algum item no crediário. Mais do que isso. Com o crédito mais caro e escasso, a tendência é que o consumo esfrie.
Com menos trabalhadores indo às compras, circulará menos dinheiro na economia, o que afetará, em algum momento, o mercado de trabalho e, posteriormente, a renda das famílias. “E esse efeito psicológico levará o consumidor a colocar o pé no freio”, explicou o economista Miguel Ribeiro de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). “O trabalhador pode não entender como funciona a alta dos juros, mas ele lê nos jornais que esse processo provoca desaceleração econômica, e que isso corrói a renda. Então, para se precaver de uma possível demissão, ele já começa a postergar as decisões de compra menos essenciais no dia a dia”, observou.
Desde abril de 2013, a taxa Selic saiu da mínima história, 7,25% ao ano, para o patamar de 10%, alcançado em novembro. De lá para cá, as elevações foram quase todas de 0,5 ponto percentual. A exceção foi a primeira alta, em abril, de 0,25 ponto, que deu início ao ciclo de aperto nos juros.
Até semana passada, o consenso no mercado financeiro era que o BC fosse reduzir o ritmo de altas na Selic, por considerar que o que já havia sido feito em 2013 seria suficiente para colocar os preços de produtos e serviços em queda. “O que mudou esse quadro foi uma inflação alta demais no fim do ano passado, que ninguém esperava, muito menos o governo”, disse um técnico da equipe econômica de Dilma Rousseff. Em dezembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou variação de 0,92%. O resultado veio acima até das previsões mais pessimistas de mercado, que apontavam para uma alta de, no máximo, 0,89%.
Os números acenderam um sinal de alerta no Palácio do Planalto. A auxiliares próximos, a presidente avisou que o BC ganhou carta branca para levar a Selic até onde achar que deve. O recado foi claro: ainda mais importante do que a alta dos juros é manter a inflação em rédea curta. A avaliação do staff de campanha da presidente é de que a alta dos preços e o desemprego são os dois fatores que, em caso de uma sensível piora, poderiam tirar votos de Dilma na campanha em outubro.
Em 2013, o IPCA fechou em 5,91%, acima, portanto, da meta informal feita pelo governo de trazer o índice para baixo do resultado de 2012 (5,84%). Um grande problema é que a alta dos juros, que, em tese, poderia reduzir a pressão dos preços também produz um efeito colateral no crescimento do país. Juros maiores esfriam o consumo e tornam mais atraentes os investimentos financeiros, em vez dos produtivos. “Se um empresário percebe que pode ganhar mais dinheiro aplicando em investimentos financeiros, para ganhar com juros, do que na ampliação de uma fábrica, certamente ele vai preferir a primeira opção. Até porque o ganho financeiro, descontado os impostos, é líquido. Já o investimento numa fábrica depende de ter ou não demanda para o que ele vai produzir”, ensinou o professor Silvio Paixão, da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).
POUPANÇA A alta dos juros tende a ampliar a rentabilidade das aplicações financeiras que acompanham a Selic, como os fundos de investimento. A melhora, no entanto, não deve ser suficiente para reduzir a atratividade da caderneta de poupança. Um comparativo feito pela Anefac mostra que os fundos só ganham da poupança quando oferecem taxas de administração inferiores a 1,5%. Com um detalhe: apenas nos casos em que o prazo de resgate seja superior a dois anos. “Em todos os outros casos, a poupança segue sendo imbatível, em termos de rentabilidade, para o pequeno investidor”, disse Miguel Oliveira, da Anefac.
Essa vantagem tende a diminuir caso o BC siga elevando os juros básicos da economia, hipótese já esperada pelo mercado financeiro. Antecipando uma nova elevação da taxa básica de 0,5 ponto, na reunião de hoje do Copom, os juros futuros fecharam ontem novamente em alta, negociados a 10,76%, para contratos com vencimento em janeiro de 2015. “Isso quer dizer que o juro esperado para daqui um ano é projetado pelo mercado financeiro em 11%”, explicou o economista Antonio Madeira, da LCA Consultores.
“Esse patamar de juro representa duas coisas: ou os investidores estão ainda mais pessimistas com a trajetória recente da inflação, que vem insistentemente incomodando, ou entendem que, para compensar os riscos de se emprestar dinheiro, o prêmio mínimo cobrado nas operações de crédito tem de ser esse, de 11%”, completou.
NOVA POSTURA Seja qual for o motivo, diz o ex-diretor do BC Keyler Carvalho Rocha, professor da Universidade de São Paulo (USP), é certo que a exigência de prêmios de juros maiores forçará a equipe econômica a mostrar um comprometimento maior no combate à inflação. “Até agora, tudo o que foi feito pelo governo foi tentar segurar os preços pela via da postergação de reajustes, como os da conta de luz e das passagens, e a alta dos juros, que não tem surtido o efeito esperado”, afirmou.
“O que tem que ficar claro para o governo é que a inflação alta não é um problema exclusivo do BC, mas de toda a administração Dilma Rousseff. A melhor forma de o governo mostrar comprometimento com uma inflação realmente no centro da meta, de 4,5%, é cortar despesas e fazer uma política fiscal realmente mais austera. Mas, até agora, tudo o que foi feito foi postergar gastos e antecipar receitas, para dar a impressão de que as metas fiscais foram cumpridas”, disse o ex-diretor do BC.