Em meio à pressão inflacionária, o Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juros (Selic) da economia brasileira em meio ponto percentual, de 10% ao ano para 10,5% ao ano, superando a expectativa de parte do mercado financeiro, que apostava em uma redução no ritmo do arrocho. A medida impopular em ano de eleição tem na mira o encarecimento do custo de vida, que se manteve no ano passado em patamares bem acima do centro da meta, fechando 2013 em 5,9%. Esta é a sétima elevação seguida da taxa básica, mas a trajetória ascendente observada desde abril de 2013 pode sofrer uma pausa técnica, onde o BC deve avaliar sua repercussão sobre a inflação em 2014.
Os analistas ouvidos pelo Estado de Minas não descartavam a possibilidade de alta de até meio ponto percentual nessa primeira reunião do Comitê de Política Econômica (Copom) em 2014, embora alguns acreditassem que o nível atual fosse alcançado em fevereiro. O economista Carlos Thadeu Gomes, ex-diretor do Banco Central e chefe do departamento de estudos econômicos da Confederação Nacional do Comércio (CNC) acredita que a taxa Selic deve estacionar em 10,5% ao ano, já que esse percentual seria suficiente para conter o ímpeto inflacionário em ano atípico, de Copa do Mundo e pressão no custo de vida. “Tudo vai depender do dólar. Com uma taxa básica a 10,5% ao ano e considerando um câmbio chegando a R$ 2,50 em dezembro, é possível ter uma inflação de 5,5% em 2014.” Ele aponta que a taxa de juros real do país já saltou de 2% para 4%.
A notícia de alta dos juros diante de um crescimento baixo da indústria no país e expectativa inclusive de resultado negativo da atividade fabril em Minas no fechamento de 2013 fizeram o setor produtivo acionar o pessimismo. Para o gerente de economia da Federação das Indústria de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Leão, o modelo de alta da taxa de juros para conter a aceleração do custo de vida tem tido efeito lento sobre a inflação e afetado fortemente a atividade produtiva. “Tivemos um ano industrial ruim, há uma perda rápida de fôlego da atividade comercial, comprometimento da capacidade de endividamento, o que afeta a atividade produtiva.” O economista considera que, depois da alta de ontem, a taxa deve se estabilizar ao longo do ano. “É preciso uma austeridade fiscal, além da busca de equilíbrio entre oferta e demanda, incentivando o crescimento da produtividade.”
Entidades do comércio como a Federação do Comércio de Minas (Fecomércio-MG) e Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) também engrossam a lista dos que apostavam ontem na elevação da Selic, consenso entre analistas. “O aumento da Selic reflete nas demais taxas de juros da economia, provocando um arrefecimento do consumo e do nível de preços”, aponta Bruno Falci, presidente da CDL-BH. Segundo ele, uma das alternativas para controle da inflação, é o estímulo à competitividade e política restritiva de gastos do governo.
Para o consumidor o aumento da taxa de juros costuma ser diluído nas prestações e por isso é pouco sentido, mas a alta dos juros encarece o crédito, e é sentida mais fortemente no freio ao consumo. Cálculos feitos pelo professor de finanças Paulo Vieira, com base em taxas de juros calculadas pela Fundação Ipead/ UFMG para Belo Horizonte, mostram que na compra de um automóvel no valor de R$ 30 mil, dividido em 24 parcelas o consumidor pagaria no total R$ 168,24 reais a mais, correspondentes a taxa de juros.
Para o especialista, o ano eleitoral é de desafios para o governo. “Inflação demais é ruim, mas a retração econômica também não é nada positivo. O governo deve, de agora em diante, observar os resultados da alta do juros na contenção do ímpeto inflacionário.” No empréstimo pessoal, a taxa medida pela Fundação Ipead de 4,18% ao mês em dezembro equivale a 63,46% ao ano. Para se ter ideia da força do juros no consumo, um crédito pessoal de R$ 10 mil, para pagamento em um ano terá saldo devedor ao fim desse período de R$ 16.346, ou seja, juros de R$ 6.346, mais de 60% do capital inicial. A elevação da taxa básica em 0,5 ponto percentual eleva o valor do juro sobre o empréstimo para R$ 6.421.
Flávio Combat, economista da Ativa Corretora apostava em uma elevação de 0,25% da taxa básica. “Em sua última ata de 2013 o Copom enfatizou a sua preocupação com o impacto da desvalorização cambial sobre a inflação.” Com a decisão do Copom de ontem, o Brasil se mantém na primeira posição no ranking mundial de juros reais (com 4,25% ao ano) feito pelo MoneYou. Em segundo e terceiro lugares, aparecem a Argentina (3,7% ao ano) e a China (3,41% ao ano).
O ganhador é a poupança
Com o novo aumento do juro básico (a Selic) ontem para 10,5% ao ano, a poupança retoma vantagem sobre o rendimento médio de fundos de renda fixa que havia sido parcialmente perdida na última elevação da taxa, em novembro de 2013, para 10% ao ano. Segundo projeção da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), com base na nova taxa de juros, o grande benefício para a poupança agora é a Taxa Referencial (TR), que está mais alta. A projeção da Anefac é de taxa média de 0,09 ponto percentual em janeiro, o que elevará o rendimento da poupança este mês para 0,59%.
A TR é calculada com base no juro básico e no número de dias úteis de cada mês. Quanto maior o juro e mais longo o mês, maior a taxa. Os fundos de renda fixa com taxa de administração de 2% ao ano, que passaram a ganhar da poupança em resgates a partir de um ano quando a Selic subiu para 10% ao ano, voltaram a perder da caderneta. A poupança também voltou a ganhar dos fundos de renda fixa com taxa de administração de 1,5% ao ano em resgates até um ano e a empatar em resgates entre um ano e dois anos. Antes, empatava para resgates em até seis meses e perdia nas demais situações.
Só ganham sempre da poupança, independentemente do prazo de resgate, os fundos com taxa de administração de até 0,5% ao ano. Esses produtos costumam exigir aplicação mínima de R$ 50 mil. Os que cobram 1% ao ano, em torno de R$ 25 mil. E os com taxas partir de 1,5% aceitam valores menores. No cenário de aumento de juros, os títulos pós-fixados, que acompanham a variação de um índice, como a Selic, são mais vantajosos. “As taxas que esses papéis pagam acompanham a elevação da Selic”, diz Michael Viriato, professor do Insper, instituto de ensino e pesquisa.
A vítima é o consumo
A elevação dos juros desde abril do ano passado encareceu o crédito e reduziu a predisposição do consumidor às compras, sobretudo o apetite por bens de consumo duráveis, de acordo com dados da pesquisa Intenção de Consumo das Famílias (ICF), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A avaliação sobre o momento para a compra de duráveis teve deterioração de 6,5% em janeiro em relação a dezembro. Na comparação com janeiro de 2013, a queda foi de 14,1%.
“O indicador mostra que a perspectiva de consumo é moderada, porém favorável. Mas, para os bens duráveis, o momento tende a não ser tão favorável”, avaliou o economista da CNC, Bruno Fernandes, lembrando ainda que também desestimulam o consumo de bens duráveis o alto nível de endividamento das famílias e a desvalorização do real frente ao dólar. “A gente tem um novo patamar de câmbio que encarece os bens duráveis”, acrescentou.
Os juros mais altos nas linhas de financiamento afetaram também a avaliação das famílias sobre as compras a prazo. Apesar da melhora de 3,6% na passagem de dezembro para janeiro, o item compra a prazo teve piora de 7,3% na comparação com janeiro de 2013.
Outro sintoma da insatisfação das famílias com o crédito aparece na pesquisa pelo corte de faixa de renda. As famílias com renda mensal acima de 10 salários mínimos tiveram uma queda na intenção de consumo mais aguda (-5,4%) do que a registrada pelas com renda de até 10 salários (-2,5%). “O crédito mais caro impacta diretamente mais essa faixa de renda mais alta”, apontou Fernandes. No resultado geral, a ICF registrou alta de 1,1% em janeiro ante dezembro, para 131 pontos. Em relação a janeiro de 2013, houve recuo de 3%.
Os analistas ouvidos pelo Estado de Minas não descartavam a possibilidade de alta de até meio ponto percentual nessa primeira reunião do Comitê de Política Econômica (Copom) em 2014, embora alguns acreditassem que o nível atual fosse alcançado em fevereiro. O economista Carlos Thadeu Gomes, ex-diretor do Banco Central e chefe do departamento de estudos econômicos da Confederação Nacional do Comércio (CNC) acredita que a taxa Selic deve estacionar em 10,5% ao ano, já que esse percentual seria suficiente para conter o ímpeto inflacionário em ano atípico, de Copa do Mundo e pressão no custo de vida. “Tudo vai depender do dólar. Com uma taxa básica a 10,5% ao ano e considerando um câmbio chegando a R$ 2,50 em dezembro, é possível ter uma inflação de 5,5% em 2014.” Ele aponta que a taxa de juros real do país já saltou de 2% para 4%.
A notícia de alta dos juros diante de um crescimento baixo da indústria no país e expectativa inclusive de resultado negativo da atividade fabril em Minas no fechamento de 2013 fizeram o setor produtivo acionar o pessimismo. Para o gerente de economia da Federação das Indústria de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Leão, o modelo de alta da taxa de juros para conter a aceleração do custo de vida tem tido efeito lento sobre a inflação e afetado fortemente a atividade produtiva. “Tivemos um ano industrial ruim, há uma perda rápida de fôlego da atividade comercial, comprometimento da capacidade de endividamento, o que afeta a atividade produtiva.” O economista considera que, depois da alta de ontem, a taxa deve se estabilizar ao longo do ano. “É preciso uma austeridade fiscal, além da busca de equilíbrio entre oferta e demanda, incentivando o crescimento da produtividade.”
Entidades do comércio como a Federação do Comércio de Minas (Fecomércio-MG) e Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) também engrossam a lista dos que apostavam ontem na elevação da Selic, consenso entre analistas. “O aumento da Selic reflete nas demais taxas de juros da economia, provocando um arrefecimento do consumo e do nível de preços”, aponta Bruno Falci, presidente da CDL-BH. Segundo ele, uma das alternativas para controle da inflação, é o estímulo à competitividade e política restritiva de gastos do governo.
Para o consumidor o aumento da taxa de juros costuma ser diluído nas prestações e por isso é pouco sentido, mas a alta dos juros encarece o crédito, e é sentida mais fortemente no freio ao consumo. Cálculos feitos pelo professor de finanças Paulo Vieira, com base em taxas de juros calculadas pela Fundação Ipead/ UFMG para Belo Horizonte, mostram que na compra de um automóvel no valor de R$ 30 mil, dividido em 24 parcelas o consumidor pagaria no total R$ 168,24 reais a mais, correspondentes a taxa de juros.
Para o especialista, o ano eleitoral é de desafios para o governo. “Inflação demais é ruim, mas a retração econômica também não é nada positivo. O governo deve, de agora em diante, observar os resultados da alta do juros na contenção do ímpeto inflacionário.” No empréstimo pessoal, a taxa medida pela Fundação Ipead de 4,18% ao mês em dezembro equivale a 63,46% ao ano. Para se ter ideia da força do juros no consumo, um crédito pessoal de R$ 10 mil, para pagamento em um ano terá saldo devedor ao fim desse período de R$ 16.346, ou seja, juros de R$ 6.346, mais de 60% do capital inicial. A elevação da taxa básica em 0,5 ponto percentual eleva o valor do juro sobre o empréstimo para R$ 6.421.
Flávio Combat, economista da Ativa Corretora apostava em uma elevação de 0,25% da taxa básica. “Em sua última ata de 2013 o Copom enfatizou a sua preocupação com o impacto da desvalorização cambial sobre a inflação.” Com a decisão do Copom de ontem, o Brasil se mantém na primeira posição no ranking mundial de juros reais (com 4,25% ao ano) feito pelo MoneYou. Em segundo e terceiro lugares, aparecem a Argentina (3,7% ao ano) e a China (3,41% ao ano).
O ganhador é a poupança
Com o novo aumento do juro básico (a Selic) ontem para 10,5% ao ano, a poupança retoma vantagem sobre o rendimento médio de fundos de renda fixa que havia sido parcialmente perdida na última elevação da taxa, em novembro de 2013, para 10% ao ano. Segundo projeção da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), com base na nova taxa de juros, o grande benefício para a poupança agora é a Taxa Referencial (TR), que está mais alta. A projeção da Anefac é de taxa média de 0,09 ponto percentual em janeiro, o que elevará o rendimento da poupança este mês para 0,59%.
A TR é calculada com base no juro básico e no número de dias úteis de cada mês. Quanto maior o juro e mais longo o mês, maior a taxa. Os fundos de renda fixa com taxa de administração de 2% ao ano, que passaram a ganhar da poupança em resgates a partir de um ano quando a Selic subiu para 10% ao ano, voltaram a perder da caderneta. A poupança também voltou a ganhar dos fundos de renda fixa com taxa de administração de 1,5% ao ano em resgates até um ano e a empatar em resgates entre um ano e dois anos. Antes, empatava para resgates em até seis meses e perdia nas demais situações.
Só ganham sempre da poupança, independentemente do prazo de resgate, os fundos com taxa de administração de até 0,5% ao ano. Esses produtos costumam exigir aplicação mínima de R$ 50 mil. Os que cobram 1% ao ano, em torno de R$ 25 mil. E os com taxas partir de 1,5% aceitam valores menores. No cenário de aumento de juros, os títulos pós-fixados, que acompanham a variação de um índice, como a Selic, são mais vantajosos. “As taxas que esses papéis pagam acompanham a elevação da Selic”, diz Michael Viriato, professor do Insper, instituto de ensino e pesquisa.
A vítima é o consumo
A elevação dos juros desde abril do ano passado encareceu o crédito e reduziu a predisposição do consumidor às compras, sobretudo o apetite por bens de consumo duráveis, de acordo com dados da pesquisa Intenção de Consumo das Famílias (ICF), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A avaliação sobre o momento para a compra de duráveis teve deterioração de 6,5% em janeiro em relação a dezembro. Na comparação com janeiro de 2013, a queda foi de 14,1%.
“O indicador mostra que a perspectiva de consumo é moderada, porém favorável. Mas, para os bens duráveis, o momento tende a não ser tão favorável”, avaliou o economista da CNC, Bruno Fernandes, lembrando ainda que também desestimulam o consumo de bens duráveis o alto nível de endividamento das famílias e a desvalorização do real frente ao dólar. “A gente tem um novo patamar de câmbio que encarece os bens duráveis”, acrescentou.
Os juros mais altos nas linhas de financiamento afetaram também a avaliação das famílias sobre as compras a prazo. Apesar da melhora de 3,6% na passagem de dezembro para janeiro, o item compra a prazo teve piora de 7,3% na comparação com janeiro de 2013.
Outro sintoma da insatisfação das famílias com o crédito aparece na pesquisa pelo corte de faixa de renda. As famílias com renda mensal acima de 10 salários mínimos tiveram uma queda na intenção de consumo mais aguda (-5,4%) do que a registrada pelas com renda de até 10 salários (-2,5%). “O crédito mais caro impacta diretamente mais essa faixa de renda mais alta”, apontou Fernandes. No resultado geral, a ICF registrou alta de 1,1% em janeiro ante dezembro, para 131 pontos. Em relação a janeiro de 2013, houve recuo de 3%.