(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Investimentos mostram custo do emprego em Minas Gerais

Levantamento revela que 88 projetos vão gerar 66,9 mil postos de trabalho no estado nos próximos sete anos, sendo que, na média, cada um deles vai exigir aporte de R$ 281,3 mil


postado em 19/01/2014 06:00 / atualizado em 19/01/2014 07:17

Gerente da Forno de Minas, Marcelo Luiz Ferreira afirma que a indústria de alimentos tem demanda aquecida por profissionais qualificados(foto: EULLER JÚNIOR/EM/D.A PRESS)
Gerente da Forno de Minas, Marcelo Luiz Ferreira afirma que a indústria de alimentos tem demanda aquecida por profissionais qualificados (foto: EULLER JÚNIOR/EM/D.A PRESS)


Definidos num período de cautela com as incertezas que rondam a economia mundial e a brasileira, os 66.876 empregos que a iniciativa privada promete criar nos próximos sete anos em Minas Gerais vão exigir aportes de R$ 281,3 mil, em média, por posto de trabalho. As vagas serão criadas tanto no quadro de pessoal direto, quanto no das fornecedores das indústrias, da construção civil, do comércio e das empresas prestadoras de serviços para atender um ciclo de investimentos de R$ 18,8 bilhões no estado. Os aportes por emprego foram estimados pelo economista e consultor Felipe Queiroz, com base nos protocolos de intenção de investimentos – 88 ao todo – firmados pelas empresas com o governo mineiro de janeiro a novembro de 2013.

Os projetos da indústria química se destacam com o maior volume de recursos em proporção da criação de empregos. São R$ 2,095 milhões para cada uma das 1.171 oportunidades que o setor pretende abrir em toda a cadeia de produção. O segundo destaque ficou com as pequenas centrais e usinas hidrelétricas, as quais vão demandar R$ 1,806 milhão por emprego, num total de 72 vagas. Âncora do balanço de investimentos ainda parcial divulgado no mês passado, as mineradoras de ferro vão aplicar R$ 1,125 milhão para criar cada uma das 10.768 vagas previstas na abertura de jazidas e ampliação de complexos minerários no estado.

O estudo feito pelo economista Felipe Queiroz, a pedido do Estado de Minas, alerta para a importância que a geração de empregos ganha neste ano, tendo em vista o fôlego menor que a economia já vem demonstrando para gerar postos de trabalho, embora a taxa de desemprego, de 4,6% em novembro, esteja no menor nível da série histórica pesquisada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De janeiro a novembro do ano passado, foi positivo o saldo de empregos formais gerados na economia brasileira (contratações menos demissões), de 1,546 milhão de postos de trabalho, mas significou o pior resultado desde 2003, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego.

Felipe Queiroz diz que é positiva a diversidade de investimentos anunciados para Minas, em que sobressaem setores com projetos de peso em tecnologia e que geram valor para toda a cadeia de produção que carregam. “Até mesmo os segmentos que vão criar uma quantidade menor de vagas, como os projetos das pequenas centrais elétricas, têm grande importância no benefício de estimular fornecedores e prestadores de serviços”, afirma.

Exemplo disso são os aportes anunciados para os próximos anos nas áreas de biodiesel, alimentos e agronegócio. Eles somam investimentos previstos de R$ 2,76 bilhões, representando 14,7% do bolo total que o estado vai receber, e são responsáveis por 46% dos empregos a ser criados. Ainda assim, a indústria minerometalúrgica, setor tradicional da produção mineira, confirmou sua liderança. Com recursos de R$ 12,7 bilhões anunciados até 2020, mais de dois terços da cifra global, vai criar 13.375 empregos, 20% da projeção no balanço.

Sustentável O investimento de longo prazo na criação de postos de trabalho é o que de melhor um país pode esperar, observa Guilherme Veloso Leão, gerente de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). “É o mais sustentável. Quando a geração de emprego ocorre porque a empresa aumenta a sua produção num dado momento, se a economia perde ritmo, ela pode ter que dispensar esse trabalhador mais à frente”, afirma. Outros dois fatores essenciais são um ambiente mais seguro para o setor privado trabalhar e regras institucionais estáveis.

Na indústria de alimentos, que deverá investir R$ 97,4 mil por emprego nos próximos anos em Minas, o engenheiro mecânico Marcelo Luiz Costa Ferreira, especializado em desenvolvimentos de projetos, percebe demanda ativa por profissionais qualificados. “O setor vive um período de investimentos em modernização tecnológica e de melhorias na distribuição de produtos. Busca gente cada vez mais qualificada, com visão do cliente, da qualidade e de processos eficientes de produção”, afirma. Com 10 anos de experiência no ramo de alimentos, ele assumiu em novembro a função de gerente de projetos da Forno de Minas, fabricante de pães de queijo e alimentos congelados semiprontos. A valorização profissional na área é, para ele, uma tendência.

Travas O alto custo do investimento privado no Brasil dificulta a geração de empregos, o que preocupa neste ano, em razão das novas previsões de baixo crescimento da economia. “Temos uma carga tributária difusa e que incide em cascata, além da logística cara no país. Outro fator é a burocracia”, diz o economista Felipe Queiroz. Para o presidente da Forno de Minas, Helder Mendonça, a elevação da taxa básica de juros – a Selic, que remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência nas operações nos bancos e no comércio, está em 10,5% ao ano – agravou a baixa disposição para os investimentos na produção.

“Sabemos que o mercado consumidor tem potencial para crescer, mas a condição de nos endividarmos para investir num cenário tão duvidoso faz com que as empresas pensem duas vezes”, afirma. A Forno de Minas está concluindo um programa de investimentos de R$ 25 milhões em expansão da produção e melhorias de produtividade. Neste ano, a empresa já definiu recursos de R$ 15 milhões. Segundo Mendonça, ainda que a indústria invista em automação do processo produtivo, necessita gerar muitos empregos nas áreas comercial e de logística.

Mais dinheiro
O balanço parcial de empréstimos feitos no ano passado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) indica liberações, de janeiro a outubro de 2013, de R$ 12,963 bilhões para Minas Gerais, volume de recursos 40% superior ao dos primeiros 10 meses de 2012 (R$ 9,257 bilhões). O comércio e o setor de prestação de serviços participaram com a maior parcela, de R$ 4,356 bilhões, seguidos dos projetos da indústria, com crédito de R$ 4,064 bilhões. Empreendimentos na área de infraestrutura receberam outros R$ 3,095 bilhões. Em todo o Brasil, a instituição liberou R$ 148,807 bilhões, 36,6% a mais na mesma base de comparação.

Qualificar é necessário

Mais que a geração de empregos, a tônica deste ano será a qualificação dos postos de trabalho que as empresas vão criar, o que exigirá mais jogo de cintura da máquina pública na negociação para atrair o investimento produtivo, reconhece a secretária de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Dorothea Werneck. “Introduzimos essa questão nas conversas com os empreendedores e desde o primeiro momento envolvemos os programas de formação profissional do estado e estimulamos parcerias com universidades e centros de pesquisa na realização dos projetos de investimento”, afirma.

Para o economista Felipe Queiroz, não há dúvidas de que por trás da taxa baixa de desemprego no Brasil há um processo pouco observado, principalmente pelas autoridades públicas, de queda da qualidade do emprego. “Quando abrimos os dados divulgados regularmente sobre o mercado de trabalho, percebe-se que eles encobrem a precarização do trabalho e isso tem relação com o fenômeno da desindustrialização no país (a perda de participação da indústria no Produto Interno Bruto, medido pela produção e bens e serviços da economia)”, diz.

O governo de Minas tem se esforçado numa estratégia de atrair empresas inovadoras e de alta tecnologia e, se for o caso, ajudar naqueles projetos de companhias já instaladas no estado que tiverem condições de avançar nessas áreas. A meta vale, também, na corrida atrás dos investimentos de setores tradicionais da economia em Minas, a exemplo da indústria da mineração e da siderurgia. “A nossa ênfase é no emprego de qualidade, o que significa, inclusive, perseguir a qualificação do pessoal que a indústria vai contratar, seja do nível técnico ou do superior. Um bom exemplo são empresas como a Embraer, que está trazendo de volta ao estado a mineirada experiente que aceitou convites para trabalhar fora”, diz Dorothea Werneck.

Quanto mais o país conseguir derrubar entraves ao investimento, mais crescerá a capacidade das empresas de gerar empregos, destaca Guilherme Veloso Leão, gerente de Estudos Econômicos da Fiemg. “Se os investimentos da indústria levam prazos maiores para maturar porque há uma série de imposições burocráticas, ou seja, o capital fica empatado num negócio e demora mais para gerar caixa. Com isso, o custo do investimento aumenta.” Helder Mendonça, da Forno de Minas, defende programas de incentivo a setores que além de gerar empregos formam mão de obra.

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)