Os jovens de classe C dominaram os shopping e centros comerciais do país. Com um potencial de consumo de R$ 130 bilhões por ano, se transformaram no principal cliente dos lojistas instalados nesses locais. A força desse público é tamanha que supera até mesmo a massa de rendimentos da parcela mais rica da população, cujo desembolso anual, nesse tipo de comércio, chega a R$ 80 bilhões. Os números são parte de uma pesquisa realizada pelo Data Popular, dados que revelam que esses brasileiros têm duas demandas principais: eletrônicos e marcas da moda.
Jordano da Conceição, de 26 anos, ganha pouco menos de R$ 800 como garçom e gasta, mensalmente, boa parte do salário com roupas, calçados e outros produtos. “Comprei um tablet, há duas semanas, por R$ 600”, disse o rapaz, que nasceu no Espírito Santo e se mudou para Belo Horizonte no fim da década passada. Integrante da chamada nova classe média brasileira, ele conta que uma de suas diversões preferidas é passear nos principais centros comerciais da capital, onde tem prazer em olhar as vitrines e conhecer outros jovens.
“Vou aos shoppings toda semana”, acrescentou o rapaz enquanto comentava ter feito, ontem, novas amizades. Uma delas foi com Max Vinícius, de 14, morador em Sabará, na Grande Belo Horizonte. O garoto também não passa uma semana sem visitar um centro comercial da capital. Entre uma visita e outra, aproveita para deixar currículos nas lojas: “Atualmente, faço bico como carregador. Há mês que eu não consigo nada”. Mas isso não impede Max, estudante do último ano do ensino fundamental, de desembolsar cerca de R$ 300 mensais, segundo ele próprio, nos shoppings de Belo Horizonte. “Compro camisas, calças, tênis. Prefiro pagar à vista, pois consigo descontos. Minha mãe é quem me ajuda, me dando o dinheiro quando eu não consigo um bico”. A mãe dele, uma diarista, recebe em torno de R$ 1 mil por mês.
Esses jovens são parte dessa nova Classe C e, por meio das compras e da moda, desfrutam da ascensão social que levou milhões de brasileiros ao mercado consumidor nos últimos 10 anos. Antes, eu era bem comum. Até que eu conheci um pessoal do hip hop. Me acho muito mais bonita. Agora que comecei a trabalhar, sou independente e posso manter meu estilo com meu próprio dinheiro”, disse a vendedora Lois Almeida, de 18, que está prestes a terminar o ensino médio. Ela conseguiu o primeiro emprego há três meses e se empolgou nas compras. “Estourei todos os meus cartões de crédito com roupas e diversão”, disse em tom de brincadeira.
Renda Para realizar os sonhos de consumo, os jovens da nova classe média começam a trabalhar cedo. Segundo Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular, a renda obtida vai, em parte, para ajudar a família. Esses recursos são divididos ainda para educação e para roupas e diversão. Ele explicou que as marcas têm dois papéis na vida do jovem de classe C. “Primeiro, o da celebração. Essa pessoa não sofreu as mesmas adversidades que o pai, cresceu na bonança da economia brasileira e quer mostrar que não passa dificuldades”, ponderou. “Por outro lado, esse é também o jovem que sofre preconceito da elite consumidora, como o vendedor que olha de cima para baixo para decidir se vai atender, é também o público que sofre mais revistas policiais”, disse.
Newton Marques, do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, avaliou que esse jovem tem uma demanda reprimida por ter mais dificuldade de acesso a determinados bens e que, quando ele começa a consumir, faz de maneira exagerada, sem ponderar se o objeto almejado realmente cabe no orçamento. “A primeira coisa que faz quando recebe o salário é comprar celular, máquina fotográfica, tênis da moda. Se tiver crédito então, compra exageradamente”, observou. A pesquisa do Data Popular mostra que 15% deles têm intenção de comprar um notebook, 11% buscam um smartphone e outros 11% um tablet.
Público Segundo o estudo do Data Popular, o Brasil tem 30,7 milhões de jovens entre 16 e 24 anos, pouco mais da metade deles vai ao shopping, em média, 3,3 vezes ao mês. A pesquisa mostra ainda que a maior parte do consumo ocorre nos centros comerciais localizados nas periferias, onde o gasto é quase duas vezes maior que o registrado nos grandes centros. Ao procurar uma roupa nova, cerca de 45% os entrevistados disseram estar mais preocupados com qualidade do que com preço e que 55% dão mais valor às marcas. “O shopping é uma meca, uma espécie de paraíso do qual esse jovem de classe média quer fazer parte. Se não para comprar, apenas para ver e poder sonhar que mais cedo ou mais tarde ele terá aquele bem”, argumentou Marques.
Para Renato Meirelles, o shopping precisa adotar uma postura mais estratégica junto a esse público, principalmente os que pensam em dificultar o acesso à esses jovens, sobretudo para os que frequentam o lugar com grupos numerosos. “A médio prazo é um tiro no pé. Eles precisam capitalizar esse carinho pelo shopping. Estamos falando de jovens que consomem R$ 130 bilhões por ano”, alertou. A pesquisa realizada pela entidade de Meirelles fez ainda um retrato do que pensa a classe A a respeito da C. Para 55%, produtos deveriam ter versões para pobres e ricos; 50% preferem conviver com pessoas do mesmo nível social; 17% disse acreditar que pessoas mal vestidas deveriam ser barradas em certos lugares; e outros 17% que os estabelecimentos deveriam ter elevadores separados.
Preços ganham músculos
As academias brasileiras parecem imunes a qualquer crise: o setor movimenta cerca de US$ 2,3 bilhões anuais, segundo a Acad Brasil (entidade que representa os empresários da categoria). Em Belo Horizonte, a demanda em alta pressiona empresas a ampliarem o leque de serviços e a planejar novas filiais. O mercado vai tanto de vento em popa que o preço de alguns serviços avança num ritmo superior ao da inflação. É o que mostra o mais novo estudo do site Mercado Mineiro, divulgado ontem.
Enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do Brasil, subiu 5,91% no acumulado de 2013, de acordo com a planilha do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o preço médio das aulas de spninning (cinco ou sete vezes na semana) avançou 8,64% apenas entre junho do ano passado e janeiro de 2014, de R$ 207,61 para R$ 225,55. O custo com a carteirinha ou o registro biométrico ficou, no mesmo período, 12,61% mais elevado – o valor médio passou de R$ 8,33 R$ 9,38.
O Mercado Mineiro pesquisou o preço em 28 estabelecimentos. Além do valor médio, o diretor executivo do site, Feliciano Abreu, constatou que a diferença entre o valor mínimo e o máximo cobrado na taxa de matrícula é de 1.890%, de R$ 10 a R$ 199. “Para praticar aeróbica ou musculação (5 ou 7 vezes por semana), o consumidor pode pagar de R$ 60 a R$ 496, uma significativa variação de 726,67%. As aulas de spinning ou RPM (5 ou 7 vezes por semana) oscilam de R$ 85 a R$ 496 – variação de 483,53%”, disse Feliciano.
A menor diferença entre o preço máximo e o mínimo foi encontrado no item “carteirinha/registro biométrico”, onde os valores vão de R$ 5 a R$ 10. Apesar de as cifras serem consideradas irrisórias por muitas pessoas, a disparidade é de 100%. Já o custo com a avaliação física, procedimento necessário para que o aluno se matricule numa fitness, oscila de R$ 25 a R$ 130. “Diferença de 420%.
Custo-benefício Ele ressalta, porém, que algumas academias oferecem descontos nos contratos anuais ou em pacotes que dão direito à várias modalidades. Mas há outras importantes análises a serem levadas em conta, como a infraestrutura das academias e o currículo de seus instrutores. A consultora de moda Emanuela Maciel, que frequenta academias há 10 anos, avalia que o aluno deve levar em conta o custo-benefício.
“Há academia em que o instrutor sequer é formado. É preciso pesquisar o histórico da academia. É a questão do custo-benefício”, disse Emanuela, que frequenta uma fitness na Savassi, onde também está matriculada no curso de ballet. Para manter a forma, ela frequenta a academia de segunda a sexta-feira. “Às vezes, também aos sábados. A pessoa precisa ter uma alimentação saudável, praticar esportes…”, ensina a consultora de moda.
A pesquisa do Mercado Mineiro não levou em conta o histórico dos empreendimentos e o currículo dos instrutores. “Em algumas academias, o consumidor pode encontrar o serviço de personal trainer”. O cliente deve ficar atento, pois este serviço pode ser pago à academia ou diretamente ao personal. É importante também buscar referências do profissional”, alertou Feliciano. A pesquisa completa pode ser conferida no www.mercadomineiro.com.br.