Brasília – O Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, foi o palco escolhido pela presidente Dilma Rousseff para disseminar a ideia de que o modelo econômico do Brasil está mudando, como parte da tentativa de alterar a desgastada relação com o mercado. Nessa quinta-feira, no segundo dia do evento, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu sinais desse reposicionamento frente ao setor privado, ao indicar mais austeridade nas contas públicas e ressaltar que a inflação brasileira “está sob controle”.
“Acredito que os Brics (acrônimo que se refere a Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) continuarão liderando o crescimento da economia mundial. Porém, para que isso ocorra é preciso que eles façam mudanças importantes nos seus modelos de expansão”, disse Mantega, durante um painel sobre a crise da meia-idade do grupo de emergentes. Uma pesquisa da consultoria Accenture divulgada no encontro revelou que 60% das empresas entrevistadas esperam realocar os investimentos feitos nos países do Brics para outros mercados. Foram ouvidos mais de mil executivos.
Em relação às mudanças, Mantega afirmou que as do Brasil vão ser no sentido quase que inverso aos adotados pela China, que está se voltando para o consumo interno. Para ele, o mercado consumidor no Brasil é mais “avançado”, graças à inclusão de mais de 40 milhões de brasileiros na classe média. No entanto, ele reconheceu que “o crédito é escasso”. “O mais importante agora é o investimento, que vai puxar o crescimento da economia brasileira”, afirmou o ministro. Ele disse que US$ 250 bilhões deverão ser investidos no país em concessões na área de infraestrutura.
Hoje, a presidente Dilma discursa pela primeira vez no Fórum Econômico Mundial. A expectativa é de que ela deixe a ideologia de esquerda de lado e demonstre mais simpatia com o empresariado e tente atraí-lo para os próximos leilões de concessões previstos para este ano.
O doutor em economia pela Universidade de Chicago, dos Estados Unidos, e coordenador do Movimento Brasil Eficiente, Paulo Rabello de Castro, considera que essa mudança do discurso é resultado de uma estratégia de marketing. “O governo apenas repete o que todos já sabem e querem ouvir. Ele quer mostrar para o eleitor que Dilma é capaz de constituir uma descontinuidade dentro da continuidade. Resta saber se as mudanças realmente ocorrerão”, afirmou.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, também não espera um resultado prático desse novo discurso porque o quadro macroeconômico não permitirá mudanças drásticas. “Dilma chega em Davos quando o Brasil está mais para ‘fragile five’ do que Brics, ou seja, quando o humor do mercado já mudou radicalmente em relação ao país”, destacou ele, citando os outros quatro frágeis: Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia. Para o professor da Universidade Columbia, em Nova York, Marcos Troyjo, esse discurso mostra que “o Brasil começou a descer do salto alto”, mas o país estará imobilizado até janeiro de 2015.