Brasília – O Banco Central (BC), enfim, subiu o tom com a escalada dos preços e indicou nessa quinta-feira estar em alerta máximo com o comportamento perigoso da inflação. Para a autoridade monetária, a carestia tem mostrado “resistência” e, a despeito de todo o esforço feito até agora para colocar freio à disparada dos índices, o que incluiu aumento contínuo dos juros, o custo de vida ainda não deu sinais claros de arrefecimento. “(A inflação) tem se mostrado ligeiramente acima daquela que se antecipava”, reconheceu o BC, por meio da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorreu há uma semana, e que resultou na sétima alta consecutiva da Selic desde abril de 2013, para 10,5% ao ano.
O documento traz avaliações mais duras do que o de costume para a inflação, ao mencionar que, em todos os cenários trabalhados pelo BC (chamados de referência e de mercado), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá ficar acima do centro da meta perseguida pelo governo, de 4,5%, tanto neste ano quanto em 2015. Mais do que isso. A ata lembrou que, desde novembro, quando foi realizada a última reunião do Copom de 2013, as previsões para a inflação vêm subindo em ambos os cenários, sem especificar, no entanto, em que dimensão.
Não por acaso, o BC avisou que, “em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante”. O trecho é seguido da menção à necessidade de dar “continuidade do ritmo de ajuste das condições monetárias”. Em bom português, mais juros. “O que está claro é que a inflação ainda enseja preocupação, então o que me parece razoável é que o Copom decidiu jogar para a frente a decisão de reduzir o ritmo de ajuste na Selic”, disse o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa. Nas contas dele, o BC deve promover mais uma elevação de 0,5 ponto percentual na taxa básica, em fevereiro, e uma última, de 0,25 ponto, em abril.
Com isso, a Selic alcançaria os 11,25% ao ano, um patamar ainda mais elevado do que aquele que a presidente Dilma Rousseff encontrou ao assumir o governo, em janeiro de 2011, de 10,75% ao ano. Seria, portanto, a constatação de que a decisão do BC de reduzir os juros em meados de 2012, quando a inflação ainda mostrava resistência, fora precipitada. Internamente, técnicos da equipe econômica reconhecem que a emenda, uma tentativa de dar à presidente Dilma um troféu eleitoral na campanha deste ano, saiu pior que o soneto.
Os juros permaneceram no menor patamar histórico, 7,25% ao ano, por apenas seis meses, até abril de 2013. Desde então, sobem sem parar. “Mesmo assim, não há no mercado quem acredite que a inflação vá fechar o ano no centro da meta, de 4,5%. Na melhor das hipóteses, ela vai repetir 2013”, apontou o gestor de fundos Luiz Pardal, sócio da DCX Asset. A mediana das previsões feitas por cerca de 100 consultorias ouvidas semanalmente pelo BC na pesquisa Focus apontam para uma alta de 6,01% do IPCA neste ano. Em 2015, seja quem for o presidente eleito nas eleições de outubro, o índice ficará em 5,60%, portanto também acima da meta, de 4,5%.
Efeito câmbio A ata divulgada ontem também chama a atenção para a “significativa oscilação” nos prêmios de juros negociados no mercado financeiro. Essa correção ocorre sempre que os investidores julgam que os valores cobrados para emprestar dinheiro a um banco ou até mesmo ao próprio governo deveriam ser maiores, seja por causa da inflação ou porque temem um calote de quem tomou os recursos emprestados.
O BC diz ter notado uma elevação sensível nos prêmios cobrados e atribui esse movimento a fatores como a escalada do dólar sobre o real, a divulgação de índices de inflação “acima do esperado” e as mudanças na política monetária nos Estados Unidos, que começou a reduzir, em janeiro, os estímulos concedidos à maior economia do mundo.
Por último, um alerta ao próprio governo, ao avisar que os prêmios de juros maiores também refletem “preocupações com a condução da política fiscal”, sob responsabilidade do Ministério da Fazenda. “Vejo esse alerta como o BC dizendo o seguinte: ‘Olha, se vocês (da Fazenda) não me ajudarem fazendo um fiscal consistente, eu não vou conseguir fazer o trabalho sozinho’”, disse a economista Monica Baumgarten de Bolle, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). A menção à política fiscal ocorre em um momento em que o governo se esforça para mostrar, pelo menos oficialmente, uma postura mais firme com a política fiscal.
O recado do Banco Central tem o objetivo de estimular que as ações oficiais sejam mais amigáveis ao capital privado, o que deverá se refletir em expectativas menores para a inflação e maior confiança de empresários e investidores, dando um impulso ao PIB pela via dos investimentos. O otimismo com a economia foi um dos motivos pelos quais parte do mercado avaliou que, diante das sinalizações do BC, a autoridade monetária também deixou em aberto a possibilidade de encerrar o ciclo de altas da Selic na reunião do Copom no mês que vem.
Nessa hipótese, a Selic subiria mais 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano. Depois, o BC faria uma “parada técnica”, para avaliar se o que já foi feito surtiria efeito para colocar os preços em rota de queda. Caso decida reduzir o ritmo de altas da Selic, lembram os economistas Ilan Goldfajn e Caio Megale, do Itaú Unibanco, “o Copom poderia optar por fazer altas adicionais de 0,25 ponto percentual nas reuniões seguintes (à de fevereiro), dependendo da evolução da inflação corrente”, disseram os economistas, em relatório a clientes.
Alívio em boa hora
Depois de a inflação oficial ter fechado o ano em um patamar superior ao registrado um ano antes, a prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), primeiro indicador do ano, desacelera e produtos tidos como vilões iniciam 2014 com perda de valor. Na lista de maiores reduções, passagens aéreas, tomate e leite apresentaram reduções significativas na primeira medição do ano, contribuindo para frear a inflação. Por outro lado, os grupos de frutas, verduras e hortaliças se impõem, empurrando a taxa para cima.
No país, o IPCA-15 registrou alta de 0,67% ante alta de 0,75% em dezembro. A prévia da inflação oficial ficou bem abaixo do piso das projeções do mercado financeiro, na casa de 0,80%. Em Belo Horizonte, a elevação ficou perto da média nacional, em 0,64%, que, no mês passado, foi de 0,75%. A desaceleração em relação ao mesmo mês do ano passado contribui para que o acumulado em 12 meses também apresente redução, mas ainda tímida. A variação encerrada em janeiro do ano passado era de 5,86%, enquanto a fechada neste mês é de 5,7%.
A lista do vaivém de preços tem abacaxi, cenoura e cebola entre os vilões das altas, com aumento em BH de 19,32%, 18,28% e 14,08%, respectivamente. Na outra ponta, colaborando para segurar a taxa, o preço médio das passagens aéreas teve redução de 15,66% no intervalo apurado. A redução pode ser atribuída à procura por períodos de menor movimento, passadas as festas de fim de ano. O grupo alimentação no domicílio teve alta 85,9% superior à da média geral de Belo Horizonte. No período pesquisado, a variação foi de 1,19%, tendo sido puxado por carnes (3,41%), hortaliças e verduras (5,06%) e frutas (9,24%).
PASSAGEM DE ÔNIBUS Na capital mineira, a manutenção dos preços dos ônibus municipais em R$ 2,65 contribuiu para frear a inflação. Apesar de o contrato do transporte público prever alta anual dos preços, o prefeito Marcio Lacerda decidiu mantê-los até a conclusão da auditoria que é feita nos contratos de concessão do transporte coletivo. O trabalho teve início depois das manifestações feitas em BH na Copa das Confederações. Nâo à toa, o item transporte público se manteve estável cenário semelhante se repete nas 11 cidades englobadas pelo IPCA-15. Pelo acordo com as empresas, no entanto, dependendo do resultado das auditorias, pode haver alta ainda neste ano.