Brasília – As perspectivas para a economia global estão “cautelosamente otimistas”, de acordo com os especialistas financeiros e participantes do último dia do Fórum Econômico Mundial, encerrado ontem em Davos, na Suíça. Christine Lagarde, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), alertou para os velhos riscos ainda presentes e disse que a recuperação econômica não está consolidada e ocorre a taxas diferentes em diversos países. “As reformas do mercado financeiro estão em andamento e ainda não estão concluídas. Entre os novos riscos está o crescimento desequilibrado”, disse ela.
Mas o otimismo dos empresários em Davos é pior em relação ao Brasil. Pesquisa feita pela agência de notícias Bloomberg, com 500 participantes do evento, revelou que houve piora na percepção da economia brasileira na comparação com as desenvolvidas e as emergentes. Quarenta e quatro por cento dos entrevistados acreditam que o país piorou e 8% que melhorou. Para eles, o Brasil é o país onde há menos oportunidades no mundo. Apenas 7% votaram no país, enquanto Estados Unidos e União Europeia tiveram 46% e 40% da preferência, respectivamente (veja quadro).
Na avaliação de especialistas, a estreia da presidente Dilma Rousseff em Davos foi positiva, mas não contribuiu para melhorar o nível de confiança dos investidores no país. O Brasil virou o patinho feito entre os Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – por ter a menor expansão do Produto Interno Bruto (PIB) e não dar sinais de melhora neste ano. A desconfiança maior é na gestão pública. Depois de artifícios contábeis para entregar um superávit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública), o mercado está cético de que o governo tem capacidade para fazer ajustes fiscais necessários e manter um ritmo de crescimento mais elevado e sustentável. A presidente não conseguirá cumprir uma de suas promessas de campanha, que é encerrar o governo com a dívida pública líquida em 30% do PIB.
AJUSTE FISCAL
Entretanto, para Gonçalves, isso não basta para os empresários e investidores. “A conjuntura atual, com eleições, não ajuda na melhora da economia. Existe uma percepção de que a promessa com a responsabilidade fiscal não será cumprida porque em ano eleitoral é impossível para qualquer governo fazer ajustes fiscais, a não ser que ela não queria se reeleger”, explicou.
A mesma opinião é compartilhada pelo professor da Columbia University, de Nova York, Marcos Troyjo. “O principal saldo dessa viagem de Dilma é que existe um crescimento de sentimento de desânimo em relação ao Brasil, tanto no mercado quanto nos investidores. A decepção foi que ela não falou em reforma alguma. A percepção que fica é que nada de importante vai acontecer em 2014”, afirmou.
Duas velocidades
Depois da Suíça, a presidente Dilma Rousseff fez uma escala secreta ontem em Lisboa antes de ir para Cuba, onde terá dois compromissos oficiais. Amanhã, ela participará da inauguração do Porto de Mariel, em Artemisa. A obra contou com financiamento do BNDES. Na terça, Dilma participa da reunião da 2ª Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). “O interessante dessa reunião de líderes é que fica mais clara a visão de uma região de duas velocidades. De um lado, Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela em crise econômica. Do outro, Chile, Peru, Colômbia e México em ritmo mais acelerado. E o Brasil, no meio, sem saber para onde vai”, disse o professor Marcos Troyjo, da Universidade Columbia.