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Estado de Minas

Índia e Turquia anunciam elevação nos juros básicos para atrair capital estrangeiro

Turquia aumenta taxas para 10% e 12% ao ano e Índia também aperta índice, que vai a 8%,


postado em 29/01/2014 06:00 / atualizado em 29/01/2014 07:15

Brasília – As economias emergentes viveram nessa terça-feira mais um conturbado capítulo na novela que se tornou a tentativa de saída da maior crise econômica desde 1929. Em uma ação coordenada, Índia e Turquia anunciaram ontem a elevação nos juros básicos. A taxa de referência indiana subiu de 7,75% ao ano para 8% ao ano, e as duas principais turcas, de 4,5% ao ano para 10% ao ano e de 7,75% ao ano para 12% ao ano. A escalada das taxas tem um único objetivo: convencer investidores a aplicar nesses países e, com isso, usar os dólares extras para equacionar o crônico deficit em suas contas externas. Apenas a Turquia reportou em 2013 um rombo em conta corrente superior a 7% do Produto Interno Bruto (PIB). Apenas como comparação, o saldo externo do Brasil no mesmo período foi cerca de metade desse patamar, de 3,66%. Ainda assim, o resultado brasileiro foi o pior desde 2001.

Na Turquia, os juros subiriam, num dia, mais que todo o ajuste feito no Brasil ao longo de 2013. No ano passado, a taxa básica (Selic) saltou de 7,25%, em abril, para 10%, em novembro, uma elevação de 2,75 pontos.

A Índia também vive situação delicada. Diante da aversão de investidores e sob a ameaça de mudanças na política de estímulos nos Estados Unidos, a rúpia indiana chegou a desvalorizar-se 11% em 2013, na comparação com o dólar. O movimento foi acompanhado por outras moedas de países emergentes, como o real brasileiro, que perdeu 14,6% do seu valor em 2013. Ontem, houve nova alta do dólar, que encerrou o dia cotado a R$ 2,426. A alta foi de 0,02%, mas poderia ter sido pior caso o Banco Central não tivesse vendido dólares no mercado para trazer a cotação da moeda para baixo. Ao longo do dia, a divisa norte-americana chegou a bater em R$ 2,4300.

A situação tende a piorar, já que o Federal Reserve, o banco central norte-americano, deverá anunciar hoje um corte adicional de US$ 10 bilhões em seu pacote mensal de compras de ativos. Caso se concretize o corte, a injeção de moeda naquele país cairá para US$ 65 bilhões por mês, uma queda de 23% sobre a oferta mensal que vigorava até dezembro de 2013, de US$ 85 bilhões.

Com menos dinheiro circulando nos Estados Unidos, os investidores começaram a se desfazer de suas aplicações em países emergentes para lucrar com taxas de juros maiores praticadas pela maior economia do mundo. “Aquela fase de bonança mundial, em que os EUA despejavam rios de dinheiro pelo mundo, acabou”, disse a economista Lia Valls, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Os estragos dessa política foram sentidos principalmente pelos governos locais. Sob a desconfiança generalizada do mercado, o Tesouro Nacional foi obrigado a pagar prêmios de juros maiores para conseguir emplacar seus papéis da dívida pública. A instituição teve de oferecer taxas de juros reais – ou seja, acima da inflação – de até de 6,64% para investidores que aceitassem comprar uma Nota do Tesouro Nacional-Série B (NTN-B) com vencimento em maio de 2019. “Essa rentabilidade é surreal. Hoje, não há país com o nível de risco do Brasil que esteja oferecendo uma taxa dessa ao investidor”, disse o diretor de recursos da Ativa Corretora, Arnaldo Curvello. Nas contas dele, um investidor que carregar esse papel até o vencimento embolsará 40% de rentabilidade em três anos.

Na avaliação de investidores, o Brasil está sendo “penalizado” por conta da desconfiança com a política fiscal. A preocupação com o país cresce à medida que se aproxima o prazo dado pelo governo para anunciar as metas de economia de recursos para o ano, o chamado superavit primário. Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, garantiu que o corte no Orçamento garantirá a “solidez fiscal e a estabilidade da dívida pública”. “O que interessa saber não é mais uma promessa do ministro (Mantega), mas qual será o verdadeiro compromisso com os gastos públicos em um ano de eleições”, disse um respeitado economista de um grande banco, que pediu anonimato.

A presidente Dilma Rousseff se reuniu com Fidel Castro na segunda-feira. De acordo com o jornal oficial Gramma, eles mantiveram um
A presidente Dilma Rousseff se reuniu com Fidel Castro na segunda-feira. De acordo com o jornal oficial Gramma, eles mantiveram um "diálogo ameno" sobre investimentos brasileiros na ilha e temas internacionais (foto: ALEX CASTRO/AFP )
“Será a prova dos nove para o governo, a chance de a Fazenda provar que está, de fato, comprometida a entregar um superavit primário consistente neste ano”, completou. Estimativas de analistas apontam que o esforço feito pelo governo em 2013 foi de 1,9% do PIB. Neste ano, por determinação da presidente Dilma Rousseff, a Fazenda deverá anunciar uma meta mais austera, de pelo menos 2%.

Lia Valls, do Ibre, lembrou que a mudança de comportamento do governo, que tenta reagir às críticas à política econômica, também tem produzido mais nervosismo no mercado. “Embora o governo diga que está bem, ele está sinalizando mais rigor com os gastos públicos e com a alta da inflação. Só que isso até aumenta as incertezas, porque, se está tudo bem, por que o governo precisaria anunciar mudanças no que já vinha sendo feito?”, questionou.

Dilma defende BNDES

Havana – A presidente Dilma Rousseff defendeu ontem os financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao porto de Mariel, em Cuba. A ajuda milionária ao projeto cubano, enquanto os investimentos em infraestrutura no Brasil caminham a passos lentos, recebeu críticas de especialistas, mas, para a presidente, são plenamente justificados porque as obras tiveram a participação de cerca de 400 empresas brasileiras. Além disso, segundo Dilma, o porto é estratégico e também interessa ao Brasil.

Os comentários da presidente foram feitos à margem da segunda reunião de cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), inaugurada ontem em Havana sob a presidência do chefe de Estado cubano, Raúl Castro. A cerimônia de abertura do encontro foi marcada por críticas aos Estados Unidos e um minuto de silêncio em homenagem ao falecido ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, principal incentivador do bloco.

O encontro, que reúne a grande maioria dos governantes da região, pretende enviar uma mensagem firme contra o embargo econômico à ilha mantido por Washington há cinco décadas. "Há anos, as democracias da América Latina vêm pedindo o fim do embargo. Há anos, os Estados Unidos ignoram esse pedido", declarou à France Presse o cientista político Patricio Navia, da Universidade de Nova York. Nesta quarta-feira, os representantes dos 33 países membros da organização devem assinar uma declaração contendo mais de 80 pontos, com temas que vão desde à luta contra a pobreza até o desarmamento.

O embargo econômico norte-americano a Cuba já havia sido criticado na véspera por Dilma, na solenidade de inauguração do porto de Mariel. Na ocasião, a presidente assumiu o compromisso de liberar mais US$ 290 milhões para as obras, conduzidas pela construtora Odebrecht, que já receberam US$ 682 milhões do BNDES.

Em conversa com jornalistas, a presidente disse que a integração latino-americana só será completa com o fim das restrições a Cuba. Ela desautorizou também notícias de que o governo irá elevar de 1% para 2% do PIB a meta de superavit primário neste ano e promover um corte no orçamento entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões. Segundo explicou, nenhuma decisão nesse sentido foi ainda tomada.


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