Depois de o governo encarecer as compras com cartão de viagem pré-pago e com cartão de débito no exterior, os turistas brasileiros buscam alternativas menos convencionais para driblar o custo adicional nos gastos em moeda estrangeira. A abertura de uma conta corrente em outro País e o uso de cartões pré-pagos de empresas com sede no exterior são algumas das opções encontradas.
Na próxima viagem para os Estados Unidos, em abril, o servidor público Bruno Felipe de Andrade pretende comprar a moeda americana no Brasil e levar em espécie para o exterior. Lá, ele comprará um cartão pré-pago de uma empresa daquele país e carregará com os dólares levados do Brasil.
“Acredito que a vantagem é pagar o IOF (imposto sobre operações financeiras) de 0,38% da compra do dólar em papel, bem como a segurança de não ter que ficar circulando com grande quantidade de dinheiro vivo”, afirmou Andrade, que vive em Curitiba. Se ele levasse um cartão pré-pago adquirido no Brasil, o imposto seria de 6,38%. Para a compra de moeda em espécie, o IOF é de 0,38%.
Em 2013, antes da alta do imposto, Andrade já havia viajado aos EUA. Naquela ocasião, a maioria dos seus gastos foi em cartão pré-pago levado do Brasil. Agora, essa opção está mais cara. Há um mês, em pleno período de férias, o governo federal aumentou de 0,38% para 6,38% as compras com cartão de débito no exterior, cheques de viagem (traveller checks) e saques de moeda estrangeira.
Crédito
O site Melhores Destinos, que foi criado em 2007 para dar informações sobre viagens e hoje tem mais de 2 milhões de seguidores, levantou as alternativas buscadas pelos turistas para driblar a alta do IOF. Segundo o fundador da página, Leonardo Marques, uma das principais opções é a abertura de conta no exterior.
O leitor Felipe Carnot relatou ao site que abriu há mais de um ano uma conta no Banco do Brasil Américas, que tem sede em Miami e faz parte do grupo do BB. Desde então, ele fez quatro viagens internacionais e não precisou mais comprar dólares e euros em espécie ou tampouco recarregar cartões pré-pagos. Ele transfere pela internet, da conta brasileira para a estrangeira, o dólar com cotação comercial e com IOF de 0,38%.
Segundo o BB, nesse tipo de conta o consumidor tem direito a um cartão de débito e não paga tarifa de manutenção se tiver saldos médios mensais acima de US$ 1 mil. O banco tem hoje 1 milhão de clientes em unidades no exterior. A maior parte deles, entretanto, é de argentinos no Banco Patagonia (controlado pelo BB na Argentina) e de brasileiros que vivem no Japão e em Portugal.
O professor da FGV Patrick Behr, especialista em finanças, afirma que não existe fórmula para decidir como levar dinheiro ao exterior. O fator mais importante a ser considerado, segundo ele, é o tempo que o turista ficará fora do País e a frequência com a qual ele viaja. Para o professor, a opção de abrir uma conta no exterior só vale a pena para quem vai ficar fora do Brasil por mais de três meses.
“Para quem viaja em um mês de férias não é viável abrir conta em outro país. Será muito trabalho”, afirmou. Segundo os cálculos dele, para um gasto de US$ 1 mil, a economia seria de apenas de US$ 30 ou US$ 40.
Além disso, ele destaca que a administração de uma conta no exterior exige que a informação seja declarada no Imposto de Renda, o que representa trabalho adicional. Se o brasileiro concluir que vale a pena abrir conta no exterior, Behr sugere que pesquise as opções nos bancos internacionais para comparar taxas.
Para Pedro Henrique Mello, engenheiro brasileiro que se mudou para a França para trabalhar numa petroleira europeia, o ideal é não fazer nem mesmo o câmbio em espécie no Brasil. “Eu indico a quem vem me visitar que traga reais para trocar por euros aqui.” No mesmo dia, segundo ele, 1 euro custava R$ 3,278 em uma casa de câmbio na França e R$ 3,303 no Brasil. “A desvantagem é que, se o turista não conhecer o lugar, pode parar numa zona muito turística e pagar mais caro”, ponderou.