O preconceito contra os consumidores evangélicos caiu por terra quando as cifras do mundo gospel começaram a se multiplicar na mesma velocidade de templos e fiéis. Com investimento maciço em comunicação, os crentes — assim chamados, embora nem todos gostem da expressão — passaram a ser vistos e ouvidos e, na última década, se consolidaram como o segmento religioso que mais cresce no país, alicerçado em muita fé e dinheiro.
As somas estrondosas rendem gritos de “glória” entre os mais fervorosos. O mercado evangélico no Brasil — com 42,3 milhões de adeptos, 60% deles da linha pentecostal, liderada pela Assembleia de Deus — faz girar cerca de R$ 15 bilhões por ano em diversos segmentos. É o mesmo volume movimentado pelo turismo religioso no país. A estimativa, incluindo dados de gravadoras e editoras, é da organização do maior salão gospel da América Latina, realizado todos os anos em São Paulo.
Incluída a radiografia das lojas de instrumentos musicais e de vestuário, o universo gospel responde pela criação direta de mais de 2 milhões de empregos no país. A “revolução dos evangélicos”, como algumas correntes da religião definem a ascensão da última década, revela um mercado de rentabilidade contínua. Estimativa feita pela organização Servindo aos Pastores e Líderes (Sepal) indica que em 2020 os evangélicos poderão ser mais da metade da população brasileira.
Em Belo Horizonte, o comércio de artigos direcionados a esses consumidores cresce no rastro dos números de fiéis e se especializou, sob o abrigo de galerias e mini shoppings. Proprietário de uma loja na galeria Mundo Evangélico, no Centro da capital, Geraldo Hélio Leal, conta que os itens mais procurados são as Bíblias, encontradas a preços que variam de R$ 10 a R$ 120. “São muitas igrejas e cada uma delas tem sua política. O evangélico procura nas lojas o que se enquadra na convenção de cada uma”, afirma.
O segmento gospel é o principal responsável pela sobrevida da indústria fonográfica. Menos suscetíveis à pirataria e ao compartilhamento de áudios pela internet — devido aos princípios dos fiéis –, CDs e DVDs de música cristã movimentam algo em torno de R$ 500 milhões anuais. Não à toa, a Sony Music criou, em 2010, um selo específico para a música evangélica no Brasil.
Existem pelo menos 4,5 mil cantores e bandas gospel brasileiras. São, no mínimo, 10 novos CDs lançados todo mês. Especialistas em marketing que acompanham o fenômeno evangélico calculam que 600 rádios e 157 gravadoras tocam música gospel no país. “É uma economia da fé que desconhece crises e vai de vento em popa”, comenta Luciana Mazza, cineasta que trabalha há mais de 10 anos para meios de comunicação e em grandes eventos evangélicos.
Fenômeno da música evangélica, a banda Diante do Trono, de BH, completou 15 anos, tendo como líder a cantora Ana Paula Valadão, filha do pastor Márcio Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha. O grupo tem 33 álbuns gravados, esteve em 14 países e vendeu mais de 7 milhões de cópias.