O sistema elétrico brasileiro voltou a mostrar nessa quarta-feira que o mercado está no limite, elevando os custos da energia e reforçando os riscos ao abastecimento. Uma das provas mais claras desse desequilíbrio estrutural está na eletricidade efetivamente disponível em comparação à atual demanda. Os padrões técnicos recomendam que, mesmo nos picos de consumo, o sistema opere com folga de 5% sobre a carga máxima. Mas essa margem de segurança, chamada de reserva girante, ficou abaixo de 1% em 29 e 30 de janeiro.
Ontem, o Operador Nacional do Sistema (ONS) informou que os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste, os mais importantes do país, voltaram a baixar, alcançando os piores níveis desde 2001, ano do racionamento de energia. Refletindo o forte consumo de energia e a estiagem, o total armazenado chegou a 36,69% da capacidade total na última terça-feira, queda de 0,51 ponto percentual sobre o dia anterior. Há uma semana, esse índice estava em 38,9% . Há um ano, era de 42,9%. Em Três Marias (MG), os volumes não passam de 27,56%, números considerados críticos para fevereiro. No Sul, os reservatórios caíram ainda mais e estão com 46,31% da capacidade, 1,19 ponto percentual menos que há uma semana. Em contrapartida, a geração média de energia pelas usinas termelétricas atingiu 12.887 megawatts (MW) nos 10 primeiros dias de fevereiro e bateu novo recorde.
Segundo o ONS, essa contribuição ao sistema correspondeu a 18,38% da demanda nacional no período, sendo o restante coberto quase totalmente pelas hidrelétricas. Em igual período de 2013, foram gerados pelas termelétricas 11.701 MW médios, 19,28% da eletricidade consumida no país. A capacidade total do parque térmico é de cerca de 22 mil MW, que não pode ser acionada toda de uma só vez por razões técnicas.
GÁS NATURAL Como se não bastasse o variado leque de incertezas que cercam hoje o abastecimento nacional de energia elétrica, a indústria teme ainda um impacto desse quadro de estresse sobre a oferta de gás natural. A preocupação foi apresentada ontem ao governo por parlamentares e representantes de grandes consumidores do insumo industrial durante encontro na Câmara dos Deputados.
Em resposta, a diretora do Departamento de Gás Natural do Ministério de Minas e Energia (MME), Symone Cristine Araújo, descartou o risco de desabastecimento de gás, mesmo com a necessidade eventual de acionamento de mais usinas termelétricas para compensar o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. "Não há supremacia de um setor sobre o outro", descartando direcionamento do gás para a produção de energia nas usinas termelétricas, em prejuízo de outros usuários.
Apesar disso, ela bateu três vezes na mesa "para afastar o azar" e descartou desonerações no energético para evitar "pressões adicionais" de demanda no mercado. "Todo o mercado das distribuidoras está sendo atendido", ressaltou. Em novembro do ano passado, 44% dos volumes disponíveis eram reservados às térmicas e 45% à indústria.
HORÁRIO DE VERÃO O advogado especialista em energia Alexei Vivan, do Escritório L.O. Baptista, afirma que o término do horário de verão, no próximo domingo, não deverá provocar apagões no sistema elétrico do país. A economia total para o Brasil é de apenas R$ 400 milhões. A mudança tem o objetivo de dar mais segurança nos horários de pico. “É uma maneira de evitar, pelo menos por um período, que os chuveiros, os fornos e outros eletrodomésticos das casas entrem em ação no mesmo horário em que a iluminação pública está sendo ligada”, explica. De acordo com ele, trata-se de uma forma de aliviar o sistema de transmissão no país.